A CHAMADA PARA O DISCIPULADO, MT 4.18-22; 9.9-13.

EXTRAÍDO DO “PONTOS SALIENTES”, ANO 1979, 3T, LIÇÃO 1, COM ACRÉSCIMOS E NOTAS PELO PR JOSÉ ANTÔNIO CORRÊA

 

 

IMPLICAÇÕES DA CHAMADA DE CRISTO

 

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

 

Mt 4.18-22, “18 E Jesus, andando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos - Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, os quais lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. 19 Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. 20 Eles, pois, deixando imediatamente as redes, o seguiram. 21 E, passando mais adiante, viu outros dois irmãos - Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou. 22 Estes, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no”.

 

Mt 9.9-13, “9 Partindo Jesus dali, viu sentado na coletoria um homem chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 Ora, estando ele à mesa em casa, eis que chegaram muitos publicanos e pecadores, e se reclinaram à mesa juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. 13 Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores”.

 

 

INTRODUÇÃO:

 

1. Olhando para o texto da Palavra de Deus lido nesta noite, iremos notar que Cristo chama vidas que estejam dispostas a um envolvimento com Ele e com a sua obra na terra. Esta chamada inclui a mim e a você. É evidente que existem dois tipos de chamadas: A chamada para o discipulado e a chamada para um ministério mais específico – para pescar homens. Nesta noite queremos avaliar a chamada para discipulado que envolve todas as pessoas.

 

2. É preciso que conheçamos os pontos essenciais dentro desta chamada de Cristo, e ao mesmo tempo nos envolver neles de corpo e alma, para que possamos ser úteis como filhos de Deus e no serviço do Reino. VAMOS VER NESTA NOITE, AS IMPLICAÇÕES DA CHAMADA DE CRISTO:

 

 

I. Mudança de Vida

 

“Vinde após mim, eu vos farei pescadores de homens”, v. 4.19

 

1. Para vir a Cristo e ao mesmo tempo se colocar à sua disposição, é preciso saber que isto implica numa mudança radical de vida e de comportamento. Quem não está disposto a mudar de forma radical seu estilo de vida e consequentemente seu comportamento, jamais será apto para a chamada de Cristo.

 

2. Cristo não chamou homens para que alcançassem as glórias e os louvores do mundo, mas chamou pessoas que estivessem dispostas a servi-lo. Ao sermos chamados precisamos entender o teor e as implicações de nossa chamada – “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará”, Jo 12.26. O verdadeiro servo vai pisar as mesmas pisadas do Senhor. O verdadeiro servo será honrado pelo Senhor!

 

3. Quando assumimos nossa chamada, tudo vai mudar para nós e em nós. O apóstolo Paulo, que anteriormente era cheio de si mesmo e das glórias próprias de um doutor da lei e fariseu, mais tarde entendeu que na posição de servo e Apóstolo de Cristo, veio a perder tudo o que tinha no mundo. Percebeu que os apóstolos (e consequentemente ele mesmo) eram considerados o “refugo” do mundo e a “escoria” de tudo, 1Co 4.13, “somos difamados, e exortamos; até o presente somos considerados como o refugo do mundo, e como a escória de tudo”. Ver ainda

 

Ele perdeu tudo:4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: 5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, 6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. 7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”, Cl 3.4-7.

 

O que não podemos entender é como certos elementos que se dizem apóstolos, buscam o dinheiro e a fama deste mundo em nome de Cristo, construindo verdadeiros “impérios religiosos”, onde não há quaisquer escrúpulos em suas atividades.

 

4. Cristo chamou seus discípulos do mundo para que, na mais nobre e mais útil de todas as causas, fossem instrumentos nas mãos de Deus para a convocação de outros homens. A missão principal que temos como filhos de Deus é pregar a Palavra (“vos farei pescadores de homens”) a outros:

 

a) A ordem de Jesus, Mc 3.14, “Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar”. Ver ainda Lc 9.2, “Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos”.

 

b) O cumprimento desta ordem At 5.42, “E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo”. Ver também At 16.6, “E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia”.

 

c) A pregação envolvia grande responsabilidade pessoal, 1Co 9.16, “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!”.

 

5. Para sermos pregadores da Palavra de Deus, precisamos estar dispostos a deixar muitas coisas.  Notem que aqueles pescadores, foram chamados a deixar suas profissões, seu “ganha pão”, e se tornarem “pescadores de homens”. O envolvimento principal deles agora deveria ser com o Reino de Deus.

 

6. Tinham que viver na prática o princípio de vida, descrito por Jesus em Mt 6.33, “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

 

7. Isto significa que precisamos muitas vezes parar o que estamos fazendo para obedecer a voz do Espírito Santo – o exemplo de Felipe, At 8.26, “Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se levantou e foi”.

 

Ilustração: Chamada de Eliseu – “19 Partiu, pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele. 20 Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. 21 Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia”.

 

Ilustração: William Carey (inglês) – “Na sua pequena oficina pendurou um mapa mundial feito pelas suas próprias mãos. Neste mapa, ele incluíra todas as informações disponíveis: população, flora, fauna, características dos indígenas, etc. Enquanto trabalhava, olhava para ele, orava, sonhava e agia! Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus em sua vida. A denominação a que Carey pertencia achava-se em grande decadência espiritual. Quando quis introduzir o assunto de missões numa sessão de ministros, foi repreendido pelo venerável presidente John Ryland, que lhe disse: "Jovem assente-se. Quando Deus resolver converter os pagãos, fa-lo-á sem a sua e a minha ajuda." Mas Carey continuou a sua propaganda promissões estrangeiras, e tomando Isaías 54.2 como texto, pregava sobre o tema: "Esperai grandes coisas de Deus; praticai proezas para Deus". Depois de muitas lutas finalmente, no dia 13 de Junho de 1793, a bordo do navio Kron Princesa Maria, William Carey deixou a Inglaterra e nunca mais voltou, partindo para a Índia com sua família, onde, em condições dificílimas e de oposição, trabalhou durante 41 anos. Durante sua viagem, aprendeu suficiente o Bengali, e ao desembarcar, já comunicava com o povo.

 

 

II. Espírito de renúncia

 

“Deixando imediatamente as redes... deixando... o barco e se pai, seguiram-no”, vs. 4.20-22.

 

1. A chamada de Cristo tem prioridade. Nenhum interesse humano pode sobrepor-se a ela. É difícil, mas é o preço do discipulado. Os discípulos tiveram que deixar “redes”, “barcos de pesca”, “família”, e outras coisas importantes, para que se tornassem úteis para Deus. Veja o que Jesus disse em Lc 14.33: “Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo”.

 

2. Na parábola do semeador, Jesus fala de um tipo de coração, semelhante a um solo rochoso, que recebe a Palavra de Deus sem calcular os custos desta decisão. As pessoas semelhantes a este tipo de solo não permanecem no reino, Mt 13.5-6, “5 Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. 6 Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se”. Ver também Mt 13.20-21, “20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; 21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza”. Observe as seguintes expressões:

 

a) “Não têm raiz”. A “raiz” é a parte de uma planta que serve para fixá-la e para retirar do solo os nutrientes e a água necessários à sua vida. Assim como uma planta depende da raiz para mantê-la de pé e viva, assim também, como discípulos de Cristo precisamos nos enraizar nEle. Quando recebemos a Palavra de Deus devemos estar cientes de que há coisas no mundo que precisamos deixar, para não nos tornarmos crentes superficiais. Ao abandonarmos certas coisas que faziam parte de nossa vida e buscando a Palavra de Deus, iremos “criar raízes” em nossa vida em Deus. Paulo nos diz: “e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor”, Ef 3.17.

 

b) “De pouca duração”. Abraçar o evangelho de Deus é um compromisso para toda a vida e não uma apenas uma diversão por algum tempo. Se a planta que nasce num solo rochoso tem vida curta, também terá vida curta aquele que não abraçar a Palavra de Deus como o bem mais precioso do mundo, deixando para traz o mundo e suas paixões. Um exemplo claro de como devemos assumir o reino de Deus é o exemplo da parábola da “perola de grande preço” – “45 O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; 46 e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra”, Mt 13.45-46. O reino de Deus é daqueles que perseveram até à morte – “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”, Ap 2.10. Ver ainda Mt 24.13, “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”.

 

c) “Chegando a angústia, ou a perseguição”. Isto se refere a contratempos que teremos como filhos de Deus. Estes contratempos certamente virão quando tivermos que optar pelos valores do reino em troca dos valores do mundo. Veja como Paulo instruía seus convertidos: “21 E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, 22 fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”, At 14.21-22. Jesus também nos advertiu: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”, Jo 16.33.

 

Quando vivemos o verdadeiro evangelho de Deus certamente iremos incomodar o reino das trevas, isto porque não iremos compartilhar com o mundo em sua maneira de valores. Ao nos comportarmos assim, atrairemos sobre nós intempéries, oposições, tribulações. Quem não quiser sofrer incômodos, não está apto para se tornar um filho de Deus. Veja o que Jesus disse: “Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á”, Mt 16.25. É por esta razão que os discípulos se alegravam diante das adversidades: “40 Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. 41 E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome”, At 5.40-41.

 

3. Ilustrando ainda, a negativa dos filhos de Deus em relação ao mundo e seus valores, dentro da mesma parábola do semeador, temos um outro exemplo. É o exemplo do “solo espinhoso” – “Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram”, Mt 13.7. Veja a explicação dada pelo Senhor: “22 O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera”, Mt 13.22. Também aqui, precisamos analisar algumas palavra e frases:

 

a) “Os cuidados do mundo”. Esta frase tem a ver com aqueles que tentam abraçar o reino, mas não conseguem se desvincular do mundo. O mundo é o grande problema para este tipo de gente! Jamais alguém poderá servir a Deus sem deixar o mundo e seus prazeres – “15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; 16 porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. 17 Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”, Jo 2.15-17. A amizade com o mundo nos colocará como “inimigos de Deus” – “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”, Tg 4.4.

 

b) “A fascinação das riquezas”. Os bens deste mundo provocam “fascinação” em muita gente. Porém, jamais poderão fascinar aqueles que são comprometidos pela cruz de Cristo. Quando o fascínio dos bens materiais e das riquezas entra no coração de um homem, isto o tornará incapaz de permanecer no reino de Deus. Nossa permanência no reino dependerá de uma vida centrada em Deus, e longe da ganância na aquisição de bens materiais. Isto não quer dizer que o crente não possa ter bens na terra, mas não pode concentrar seu coração neles: “19 Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; 20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; 21 porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”, Mt 6.19-21.

 

 c) “Sufocam a Palavra e ela fica infrutífera”. Nosso coração deve estar aberto continuamente bebendo com toda intensidade a Palavra de Deus. Ela deve ser nosso alimento diário: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos”, Jr 15.16. Porém quando o mundo com suas atrações começam a ocupar nosso coração, a Palavra de Deus é sufocada em nosso coração e consequentemente, perde o seu poder de frutificação. Ela só frutificará num coração totalmente aberto e em total rendição a Deus!

 

4. Quando estamos dispostos a renunciar tudo por amor a Cristo, devemos saber que haverá para nós, uma recompensa futura, que contemplamos pela fé, por vezes em meio a privações e provações amargas neste mundo. Paulo escrevendo a Timóteo em sua segunda carta. disse: “6 Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo. 7 Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. 8 Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda”, 2Tm 4.6-8.

 

 

III. Prontidão no atendimento

 

Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram”, v.20; “Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram”, v.22

 

1. A chamada de Cristo não admite demora. É uma questão de tamanha importância, que leva o indivíduo a uma atitude decisiva e imediata, assim que ouve a convocação do Senhor para o trabalho na santa seara.

 

2. Veja o que Jesus disse a uma pessoa que poderia segui-lo, mas ao mesmo tempo queria estar comprometido com outras obrigações: Lc. 9.59-61, “59 E a outro disse: Segue-me. Ao que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. 60 Replicou-lhe Jesus: Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus. 61 Jesus, porém, lhe respondeu: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”.

 

a) Obedecer ao chamado de Cristo implica até mesmo, em deixar certas obrigações sociais. A expressão “sepultar o pai” tinha a ver com uma das obrigações do filho mais velho, que deveria cuidar de seu pai até à sua morte. Só assim, ficaria livre para cuidar de sua própria vida.

 

Quando Jesus chama alguém, este deve deixar tudo, até mesmo obrigações consideradas imprescindíveis, e sem demora ou questionamentos, segui-LO. Exemplo: Levi na coletoria – “Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu”, Mt 9.9.

 

b) Assim como aquele que trabalha com o arado deve olhar apenas para frente, traçando uma linha reta, assim também aquele que assume o chamado de Cristo não pode jamais olhar para traz. Foi por esta razão que Eliseu destruiu seus arados e matou os bois, que eram a sua fonte de renda.

 

Quem assume o chamado de Cristo, deverá depender dali para frente somente de Deus – “1 Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. 2 Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos. 3 E disse-lhes: Nada leveis para o caminho: nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem deveis ter duas túnicas”, Lc 9.1-3.

 

Se por acaso em suas viagens, os discípulos levassem provisão não estariam mostrando dependência de Deus, pelo contrário, estariam confiando em seus próprios recursos. O Deus que os enviava, certamente iria supri-los em tudo – “8 Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido. 9 Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: A vós outros está próximo o reino de Deus. 10 Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: 11 Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus”, Lc 10.8-12.

 

Paulo ensina o princípio da dependência de Deus para aqueles que pregam o evangelho, 1Co 9.14, “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho”. Viver do evangelho não é “desfrutar” do evangelho, como fazem muitos falsos líderes que exploram suas igrejas e os crentes incautos, mas sim, depender de Deus, que certamente usará pessoas, igrejas, para abençoar aqueles que são chamados para esta tão importante tarefa – a pregação da Palavra de Deus.

 

3. Ao falar sobre seu chamamento, o Apóstolo Paulo nos fornece um dado importante: “15 Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve 16 revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco”, Gl 1.15-17.

 

a) Ao receber sua missão do Senhor, Paulo “imediatamente” partiu para a Arábia. Observe que ele não foi buscar consentimento ou aconselhamento junto a outros que já eram apóstolos antes dele, e até mesmo mais experientes. Também não obedeceu a vontade e desejos de sua carne, mas, pelo contrário, obedeceu ao Senhor. 

 

b) Durante sua vida como apóstolo de Deus e pregador da Palavra, Paulo sempre esteve atento à voz do Espírito Santo. Um dos exemplos que temos está em Atos 16.9-10: “9 À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. 10 Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho”.

 

c) Paulo fez ao final de sua vida um inventário de seus atos de obediência a Cristo num incentivo a Timóteo, seu filho na fé – “5 Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. 6 Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. 7 Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. 8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”, 1Tm 4.5-8.

 

4. Todas as nossas decisões para Deus, ou tudo o que fazemos para Ele, deve ter o caráter de “imediatismo”. Que tenta adiar seus planos em relação a Deus corre o risco de perder o melhor de sua vida e ao mesmo tempo andará em contradição. Devemos ficar com a certeza de que jamais poderemos apagar o chamado de Deus em nossa vida. Como disse James Hillman: "Um chamado pode ser adiado, evitado, perdido... Mas um dia ele se manifestará". Ana Paula Valadão, ministra de louvor do ministério Diante do Trono: "Quando o Senhor lhe chamar para buscá-Lo, corra para Ele!" A missionária em África, Analzira Nascimento, contou: "Dizem que a mulher vai para missões por estar encalhada, por não ter emprego e por não ter perspectiva. Eu tinha as três coisas e fui por um chamado imperioso de Deus".

 

5. Devemos entender que o chamado de Deus é o chamado mais importante que um homem possa receber. Ilustração: Se conta do missionário Guilherme Carey, que tinha vários filhos também missionários. Quando um deles, Félix, começou a pregar. Carey escreveu com satisfação em seu Diário de Vida: "Meu filho, Félix, respondeu ao chamado de pregar o evangelho". Anos mais tarde, quando esse mesmo filho aceitou o cargo de embaixador da Grã Bretanha, Carey, desiludido e angustiado, escreveu a um amigo: "Félix se rebaixou ao tornar-se um embaixador!" Carey tinha uma correta visão do valor que as coisas têm para Deus. E é assim também que temos de ver a suprema vocação que temos em Jesus Cristo

 

 

IV. Prescrição dos preconceitos

 

“Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores”, v. 9.11

 

1. Cristo não levou em conta as barreiras de separação que os homens levantaram. Ele não reconheceu superioridades. Por isso, não fez acepção de pessoas. Aproximou-se de todos com o mesmo interesse de salvar.

 

2. Determinou que o seu Evangelho fosse anunciado a toda a criatura como a provisão de Deus que atende às necessidades de um mundo sem fronteiras. Em Cristo, todas as barreiras de preconceitos caem por terra. Veja Gl 3.27-29, “27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. 28 Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. 29 E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”.

 

3. Quantos preconceitos se têm levantado nos dias em que vivemos, onde são levados em conta o status social, a cor, a raça, o sexo, etc.? Vejam o que Tiago recomendou aos irmãos: Tg 2.1-9, “1 Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. 2 Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido. 3 e atentardes para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés, 4 não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos? 5 Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? 6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais? 7 Não os blasfemam o bom nome pelo qual sois chamados? 8 Todavia, se estais cumprindo a lei real segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. 9 Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como transgressores”.

 

 

V. Anunciação das boas novas

 

“Não vim chamar justos, mas pecadores”, v. 9.13

 

1. O simples anúncio das boas novas de salvação proclama o fato de que o homem afastado de Deus, está perdido; que o amor de Deus busca incessantemente o pecador e que esse pecador passa a gozar os benefícios de salvação no momento em que se arrepende dos seus pecados e aceita, em Jesus Cristo, a oferta do amor de Deus.

 

2. Como discípulos de Cristo, recebemos esta mesma incumbência, ou seja nos tornamos anunciadores das boas novas de salvação. Paulo falando aos Coríntios, expressou sua preocupação com a tarefa que recebeu do Senhor, 1Co 9.16, “Pois, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!”

 

 

CONCLUSÃO:

 

1. Vimos que para nos tornarmos discípulos produtivos no Reino de Deus, precisamos nos colocar debaixo de algumas implicações:

 

a) Disposição para mudar de vida.

b) Espírito de renúncia.

c) Disposição imediata para o serviço.

d) Deixar de lado todos os preconceitos.

e) Estar disposto a cumprir nossa tarefa de anunciar as boas novas de Cristo ao mundo.

 

2. Cumpridas estas exigências podemos descansar debaixo do poder de Deus e saber que Deus cumpre com fidelidade todas as sua promessas a nosso favor. Caso contrário muitas barreiras se levantarão contra nós e nossa marcha cristã será dolorosa.