ANANIAS

Por Mike Bozeman

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Damos muita atenção à conversão de Saulo de Tarso, mas damos pouca consideração para aquele que o ajudou a obedecer a Cristo, cujo nome é Ananias. Talvez pelo fato do livro de Atos não dar muita atenção a Ananias, é compreensível que nós também não demos. Afinal, foi Saulo que o Senhor queria converter, e foi Saulo que Deus pretendia que pregasse aos gentios. Apesar disto, há muitas boas lições a serem aprendidas deste personagem mais obscuro. Primeiro, vamos aprender alguns fatos a respeito de Ananias. 

 

ANANIAS, O HOMEM

Ele é mencionado duas vezes por Lucas – em Atos 9.10-17 e novamente em Atos 22.12-16. Nestes trechos descobrimos que ele era residente de Damasco, aparentemente um discípulo de Jesus, e que havia sido um judeu fiel de acordo com a lei. Ananias tinha uma reputação excelente entre os judeus que moravam em Damasco. 

 

O PRIVILÉGIO DE ANANIAS

Ananias foi chamado pelo Senhor para uma missão especial. Ele deveria fazer contato com o homem que Deus pretendia usar para levar o evangelho aos gentios. Que privilégio! O Senhor falou com Ananias em uma visão. Não há indício de que isto tenha acontecido com outros cristãos até então. Encaixa-se muito bem na profecia de Joel, que havia dito: “vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos” (Atos 2.17). Que honra! E o Senhor não somente falou com ele em uma visão como também o capacitou de forma que pudesse impor as mãos num homem cego que precisava recuperar a sua visão. Sem dúvida, a Ananias foi dada não somente uma grande missão, como também um grande privilégio. 

 

A CORAGEM DE ANANIAS

Ser discípulo do Senhor nunca foi fácil. Conhecemos casos em que ele pede coisas difíceis a seus servos. O homem a quem Ananias foi enviado era o oponente mais notório do cristianismo. Saulo de Tarso disse de si mesmo que havia sido um “perseguidor” (1 Timóteo 1.13), e que perseguia “este Caminho até à morte” (Atos 22.4). Ele disse em um julgamento que estava tão “demasiadamente enfurecido” com os discípulos que, muitas vezes, obrigava-os “até a blasfemar” e que, sem misericórdia, os perseguia “mesmo por cidades estranhas” (Atos 26.11). Enviar Ananias para ensinar a Saulo de Tarso seria como enviar um judeu para ensinar a Hitler.

Não era algo insignificante Ananias concordar em fazer a tarefa que Deus lhe havia dado. Ananias disse ao Senhor: “...de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome” (Atos 9.13-14). Talvez até tivéssemos nos simpatizado com ele caso tivesse pedido ao Senhor mandar outra pessoa. O que é impressionante, certamente, é que apesar de estar com medo, Ananias foi. E não só foi encontrar Saulo de Tarso, como também restaurou a sua visão, falou-lhe o que o Senhor queria, e então desafiou a Saulo que se submetesse ao Senhor. Ananias lhe disse: “E agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele” (Atos 22.16).

 

LIÇÕES DE ANANIAS

Precisamos de mais discípulos como Ananias hoje. Observemos algumas das lições que podemos aprender deste homem: 

1. Os discípulos devem aplicar o chamado do Senhor a si mesmos. Ananias disse, “Eis-me aqui, Senhor!” (Atos 9.10). Ananias compreendeu que o Senhor falava com ele. Precisamos ler a palavra do Senhor e ver o seu chamado a s pessoalmente. Com que frequência concordamos com a necessidade de discípulos corajosos que fazem coisas valentes, mas fugimos da aplicação em nossas próprias vidas? O Senhor tem trabalho para nós fazermos. A mensagem de Jesus nos chama ao trabalho de serviço. O Senhor precisa de discípulos que ouvirão a mensagem como Ananias fez e dirão. “Eis-me aqui, Senhor!” 

2. Os discípulos devem ser corajosos, independente da tarefa. Há várias coisas que tendem a atrapalhar a nossa disposição de ensinar aos perdidos.

(a) Primeiro, gostamos de ficar em lugares onde nos sentimos seguros e confortáveis, enquanto o Senhor, muitas vezes, colocaria os crentes em locais que os deixariam sem jeito. O Senhor, depois, enviou Saulo (Paulo) a Corinto, e lhe disse: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales” (Atos 18.9). Com que frequência negamos o convite do Senhor, porque o achamos perigoso demais?

(b) Estamos preocupados com a possibilidade de fracassarmos. É interessante que tendemos a pensar que o sucesso é apenas as pessoas aceitarem o evangelho. Enquanto é verdade que o Senhor quer que todos sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade (1 Timóteo 2.4), também é verdade que o evangelho era para fechar os corações daqueles que se rebelam contra ele. Jesus disse das suas parábolas, “para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Marcos 4.12).

(c) Ficamos preocupados que não pregaremos perfeitamente. Porém não levamos em consideração que Jesus teria sido o professor perfeito, porém ainda não foi capaz de persuadir aqueles que não queriam ser persuadidos. A mensagem do evangelho é relativamente simples, mas o seu sucesso ou fracasso depende muito mais da natureza do coração do ouvinte do que do talento do mensageiro.

(d) Julgamos demais a respeito de quem o evangelho é capaz de converter. Se o evangelho pôde converter um Saulo de Tarso no primeiro século, certamente pode ter sucesso igual com os Saulos da nossa época. Já tentamos chegar às pessoas menosprezadas na nossa sociedade? Não devemos deixar de notar que no Novo Testamento, principalmente os excluídos, os pobres e os odiados são aqueles que acham o evangelho mais atraente.

(e) Os problemas citados acima talvez sejam sintomas de um problema maior: que não tememos a Deus o suficiente nem confiamos nele genuinamente. É possível que nós simplesmente não acreditamos que não seremos responsabilizados por não ensinar aos outros? Ou, é possível que não acreditamos que o evangelho seja poderoso o suficiente para fazer o impossível? Ananias temia a Deus e acreditava em seu poder. 

3. Os discípulos têm de obedecer de qualquer forma. Embora seja possível, é pouco provável que algum de nós conheça algum homem tão hostil em relação ao cristianismo quanto Saulo de Tarso. E apesar de não ser impossível, se encontrássemos, ainda é improvável que encarássemos a ameaça de sermos presos ou mortos. Mas, e se enfrentarmos tais ameaças? Qual seria a nossa resposta ao chamado de Jesus “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15)? Nós o faríamos? Se nem vamos quando não há nenhuma ameaça, poderíamos dizer honestamente que iríamos se houvesse ameaça? Ser verdadeiramente submissos ao Senhor não é a mesma coisa que fazer o que manda quando já queremos fazê-lo. A submissão é fazer o que nos manda mesmo quando não queremos. Lembrem do comentário de Jesus no jardim, “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mateus 26.39). Ele não queria ir à cruz, mas foi mesmo assim. 

Talvez alguém queira dizer – “Bem, ele é o Senhor, ele tinha que fazer o que lhe foi pedido”. Mas e Ananias? Ele teve que ir? Ele se submeteu ao Senhor, sendo que fez exatamente aquilo que ele não queria fazer. São pessoas desse tipo que o Senhor busca hoje. 

 

CONCLUSÃO

Uma observação final: Nunca foi dada a Ananias uma anotação especial pelos escritores por seu papel corajoso. Jesus jamais disse, “Quando o evangelho for pregado, Ananias será lembrado”. De fato, depois do seu papel na conversão de Saulo, nunca mais ouvimos falar dele. Na verdade, isto não é incomum. Deus não tem super-heróis a quem se dá tarefas extraordinárias enquanto os outros menos conhecidos não tem um papel significante no seu reino. O que dá significado a qualquer um de nós é que Deus nos conhece, e que ele nos salvou pela sua graça. Uma vez que somos salvos, simplesmente nos juntamos à multidão de outros servos que se entregaram para fazer a vontade do Mestre. O discipulado não é sobre proeminência nem glória. Há muitos Ananias no reino de Deus - os homens e mulheres que terão a oportunidade de glorificar a Deus na época e no lugar em que eles existem. Usemos estas oportunidades, não com um sentimento de orgulho ou ambição vã, mas com a atitude que o Senhor nos ensinou: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lucas 17.10).