COMO BONS DESPENSEIROS
Por Clóvis Gonçalves, www.obrasilparacristo.org
Pr. José Antônio Corrêa
“Cada um administre aos outros o
dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”, 1
Pedro 4.10.
I. “CADA UM”
Pedro está se dirigindo à igreja (“aos eleitos” 1Pe 1.1)
como um todo, não apenas aos oficiais. E a verdade que se sobressai nestas duas
palavras é que todos nós temos dons. Pedro poderia ter dito “os que têm dom”,
mas ele parte do pressuposto de que todos foram capacitados por Deus para
exercerem algum dom na igreja.
Nisto concorda com Paulo, que ao escrever aos romanos declara que
nós temos “diferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12.6).
Infelizmente, a igreja tem agido de forma que alguns são ativos no
culto e outros apenas expectadores. Alguns apenas ministram e outros apenas
recebem. Alguns se portam como membros do clero, diferentes dos demais leigos.
Mas não é esta a vontade de Deus. “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis,
um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e
ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”. (1Co 14.26).
O ensino bíblico não é o da concentração das atividades do culto em algumas
pessoas, mas todos participando visando a edificação mútua.
II. “ADMINISTRE AOS OUTROS”
Os dons de Deus não são para ser utilizados egoisticamente. Quem
canta, não canta para si. Quem ora, deve fazê-lo preferencialmente em favor dos
outros. O objetivo maior de Deus nos ter provido com dons, é para nós os
exercermos em favor de seu povo, pois “a manifestação do Espírito é concedida a
cada um visando a um fim proveitoso” 1Co 12.7. O cristão genuíno deseja
receber cada vez mais dons espirituais, não para se apresentar como superior na
igreja, mas para melhor servir ao crescimento do Corpo de Cristo: “Assim,
também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a
edificação da igreja” (1Co 14.12).
Muitas vezes vemos crentes exercendo um ministério ou dom quando
lhe é conveniente. Ouve-se dizer hoje não quero cantar ou não estou com vontade
de falar. Quão diferente seria se ao invés de agradar a nós mesmos tivéssemos a
compreensão de que a única razão pela qual Deus nos dotou de capacidades
especiais foi de que poderíamos colocar isso a serviço dos nossos irmãos:
“Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação” (Rm
15.2).
III. “O DOM COMO O RECEBEU”
Dom é a tradução da palavra grega charisma, que por sua vez vem de
charis, graça.
Dom é, portanto, algo recebido sem merecimento nenhum.
Quem o tem recebeu gratuitamente. E da mesma forma que recebeu,
gratuitamente, deve ministrar aos outros. Ao enviar os discípulos, cheios de
dons, o Senhor ordenou-lhes dizendo “curai enfermos, ressuscitai mortos,
purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mt
10.8).
Mas não é o que vemos atualmente no meio do povo de Deus.
Adoradores transformaram-se em artistas cristãos e cobram cachê para cantar na
Igreja. Operadores de milagres exigem, às vezes, disfarçadas de “campanhas de
sacrifício” dinheiro em troca de sua ministração.
Pastores condicionam sua ida ou permanência em uma igreja ao
salário pastoral. Pregadores pregam de forma a não desagradar seus ouvintes, os
ofertantes da noite. E por aí vai.
Quanta diferença de Paulo que dizia: “Nesse caso, qual é o meu
galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me
valer do direito que ele me dá” (1Co 9.18).
Que o ministro do Evangelho tire o seu sustento do Evangelho é
algo que não se discute, pois é bíblico. Mas o que é inaceitável é a
ministração dos dons em troca e às vezes condicionada a uma contrapartida
monetária.
IV. “COMO BONS DESPENSEIROS”
A consciência de que não somos donos dos dons, mas apenas
despenseiros, mordomos, nos levará a agir com mais cuidado com as coisas que
Deus colocou em nossas mãos. O despenseiro é alguém que mesmo não sendo o
proprietário tem acesso aos seus recursos, para dispor deles segundo a vontade
do mesmo.
Pedro nos diz para agirmos, não apenas como despenseiros, mas como
bons despenseiros, deixando implícito que é possível ser um mau mordomo. E é
isso que Paulo diz em 1Co 4.2: “Ora, além disso, o que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”. O próprio Senhor Jesus
perguntou “Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os
seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo?” (Lc 12.42).
Em outra ocasião, ele contou uma parábola na qual um despenseiro
foi achado infiel. “Disse Jesus também aos discípulos: Havia um homem rico que
tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como quem estava a defraudar
os seus bens.” (Lc 16.1). É oportuno que cada um de nós nos perguntemos
como estamos administrando os recursos (dons) que nosso Senhor nos confiou para
ministrar aos nossos irmãos.
V. “DA MULTIFORME GRAÇA DE DEUS”
Os recursos que o Senhor tem confiado a nós na forma de dons e
ministérios são variados. Alguns são mais enfatizados nas Escrituras e na
igreja, outros passam quase despercebidos. Mas nenhum deles é dispensável, ou
ficará sem recompensa. Muitos dos que na igreja pensam não ter nenhum dom na
verdade apenas não reconheceram como tal aquela capacidade, natural ou
espiritual, que Deus lhe deu. “E também há diversidade nos serviços, mas o
Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem
opera tudo em todos” (1Co 12.5-6).
Da mesma forma, muitos daqueles irmãos que na igreja são vistos
como desprovidos de talentos, surpreenderão e serão surpreendidos no momento em
que Senhor distribuir os galardões. Pois o homem é vezeiro em inverter valores,
e aquilo que ele pensa ter pouco peso pode resultar numa recompensa muito maior
que aquele ministério notável.
De qualquer modo, uma certeza podemos ter: nada que fizermos aos
servos do Senhor passará despercebido ou ficará sem a recompensa. Mesmo que
seja algo pequeno, como um copo de água fria: “E quem der a beber, ainda que
seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo,
em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.42).
Soli Deo Gloria.