Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
2. Em razão desta dualidade, deste contraste,
cumpre-nos assumir posições espirituais verdadeiras, se quisermos ser
agradáveis ao Deus a quem servimos. Paulo nos exorta a esforçar “... para
ser-LHE agradáveis, quer presentes, quer ausentes”, 2Co 5.9.
Evidentemente que, sem esforço de nossa parte, nossa vida em Deus se desmorona,
e nos tornamos imprestáveis para Ele. Queremos ver algumas ações de contrastes
que podem ser significativas em nosso relacionamento com Deus:
“1
Conheceu Adão a Eva, sua mulher; ela concebeu e, tendo dado à luz a Caim,
disse: Alcancei do Senhor um varão. 2 Tornou a dar à luz a um filho-a seu irmão
Abel. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. 3 Ao cabo de
dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. 4 Abel também trouxe
dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para
Abel e para a sua oferta, 5 mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo
que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. 6 Então o Senhor
perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? 7
Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não
procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre
ele tu deves dominar”.
1.
Ao olharmos para o texto em apreço, podemos ver que tanto Abel como Caim
apresentaram sacrifícios e ofertas ao Senhor. Caim trouxe “do fruto da terra
uma oferta”, e Abel “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua
gordura”. Todos os dois compareceram perante o Senhor trazendo ofertas
sacrificiais, de acordo com a forma de sacrifícios utilizada naqueles dias.
3.
Porém não entendo assim! Para mim o que estava em evidência não foi o tipo de
oferta e sim a disposição de coração para ofertar. Deus não se importa tanto
com o que lhe oferecemos, mas sim com a nossa postura diante dEle. Quando
comparecemos perante o Senhor para apresentar-lhe culto, devemos fazê-lo com um
coração totalmente disposto. Há alguns exemplos nas Escrituras que nos
favorecem pensar desta maneira:
a)
A oferta da viúva pobre, Mc 12.41-44, “41 E sentando-se Jesus defronte do cofre
das ofertas, observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos
ricos deitavam muito. 42 Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou dois leptos, que
valiam um quadrante. 43 E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em
verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam
ofertas no cofre; 44 porque todos deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da
sua pobreza, deu tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento”.
-
Observe como os ricaços entregavam rechonchudas ofertas! Estas ofertas eram
provenientes de “sobras” e cumpriam apenas um ritual religioso, desprovido de
qualquer sentimento de culto. Porém a “viúva pobre”, mesmo depositando no cofre
do templo uma quantia ínfima, foi destacada por Jesus porque deu “tudo quanto
tinha”, seu único “sustento”. Ao ofertar, ela demonstrou seu verdadeiro
sentimento de adoração a Deus. Juntamente com a oferta, entregou também sua
alma, sua vida!
b)
A declaração de Davi, Sl 51.16-17, “16 Pois tu não te comprazes em sacrifícios;
se eu te oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias. 17 O sacrifício
aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito
não desprezarás, ó Deus”.
-
Não foi por acaso que Davi foi reconhecido por Deus como “...o homem segundo o
meu coração...” (At 13.22). Em matéria de adoração, Davi se tornou um
especialista, não em razão de sua técnica ao manusear vários instrumentos
musicais, mas porque adorava com seu coração “quebrantado” e “contrito”, e isso
despertou a atenção do Deus de Poder! O coração sobrepujou a técnica!
c)
O erro dos fariseus, Mt 15.7-8, “7 Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso
respeito, dizendo: 8 Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém,
está longe de mim”.
-
Na questão da técnica, da retórica, do conhecimento, os fariseus eram especialistas.
Podiam fazer longas orações, mas ao mesmo tempo roubavam as viúvas (Mc 12.40).
Não havia dentro deles qualquer sentimento de amor a Deus e ao próximo. Por
esta razão foram rejeitados em seu culto. Não passavam de hipócritas,
verdadeiros atores, desprovidos da vida do Espírito!
4.
Ao apresentamos nossos sacrifícios e ofertas ao Senhor, precisamos nos
preocupar em que nosso coração esteja envolvido num verdadeiro sentimento
profundo de culto e adoração. Do contrário, Deus não atentará para nós.
“27 Cresceram os meninos; e Esaú tornou-se
perito caçador, homem do campo; mas Jacó, homem sossegado, que habitava em
tendas. 28 Isaque amava a Esaú, porque comia da sua caça; mas Rebeca amava a
Jacó. 29 Jacó havia feito um guisado, quando Esaú chegou do campo, muito
cansado; 30 e disse Esaú a Jacó: Deixa-me, peço-te, comer desse guisado
vermelho, porque estou muito cansado. Por isso se chamou Edom. 31 Respondeu
Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. 32 Então replicou Esaú:
Eis que estou a ponto e morrer; logo, para que me servirá o direito de
primogenitura? 33 Ao que disse Jacó: Jura-me primeiro. Jurou-lhe, pois; e
vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó. 34 Jacó deu a Esaú pão e o
guisado e lentilhas; e ele comeu e bebeu; e, levantando-se, seguiu seu caminho.
Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura”.
1. Temos aqui outra situação de contrastes
que envolve nossa vida pessoal com Deus. Diante das opções que o mundo oferece,
torna-se difícil para um filho de Deus levar uma vida consagrada. Esaú e Jacó
pertenciam a uma mesma família e foram criados em iguais condições sociais e
religiosas. No entanto, enquanto Jacó soube valorizar a bênção de Deus, Esaú a
banalizou, o que veio a lhe custar muito caro. Em Hebreus 4.16-17, temos
de forma clara a descrição do descaso de Esaú e sua preferência pelas coisas
mundanas: “16 e ninguém seja devasso, ou profano como Esaú, que por uma simples
refeição vendeu o seu direito de primogenitura. 17 Porque bem sabeis que,
querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado; porque não achou
lugar de arrependimento, ainda que o buscasse diligentemente com lágrimas”.
2. Com certeza, devido à sua opção pelo
profano, pelo mundano, Esaú colheu a desgraça, o infortúnio! Quantos filhos de
Deus estão trocando a graça e o poder de Deus, por um simples momento de
prazer! Muitos deles ainda não se conscientizaram do prejuízo espiritual que
estão tendo e da amarga colheita que certamente virá. Devemos saber que para
muitos cristãos que vivem na gangorra entre o mundo e o reino, entre o Espírito
e a carne, poderá não haver tempo para o arrependimento, como no caso de Esaú,
e morrerão espiritualmente vitimados pelo descaso com que tratam a graça de
Deus.
a) Deus e riquezas, Mt 6.24, “Ninguém pode
servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de
dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.
- A palavra “riquezas”, tem como
correspondente no grego o termo “mammwnav - mammonas”. Trata-se de um termo aramaico que significa “Mamôn
- deus das riquezas”, “tesouro”, “riqueza personificada e oposta contra Deus”.
Para sermos abençoados em nossa vida cristã, não podemos nos deixar dominar
pelas riquezas terrenas, uma vez que elas são opostas a Deus e comprometem
nossa comunhão com Ele.
b) Carne e Espírito, Rm 8.5, “Pois os que são
segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o
Espírito para as coisas do Espírito”.
- Da mesma forma que as riquezas, a nossa
carne é outro elemento que se opõe a Deus. A palavra “carne”, vem do termo
grego “sarx - sarx”, cujo
significado dentro do texto em apreço é: “a natureza sensual do homem”, “a
natureza animal com desejo ardente que incita a pecar”, “a natureza terrena”.
Com certeza, não poderá haver comunhão entre a carne e o Espírito de Deus, uma
vez que são contrários entre si. Há, isto sim, uma guerra entre eles, Gl
5.17, “Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne;
e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis”.
c) Amizade de Deus e amizade do mundo, Tg 4.4, “Infiéis, não
sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.
- Outra questão não menos importante que
precisamos considerar como filhos de Deus, é a questão de envolvimento com o
mundo e seus prazeres. Com certeza, quanto mais perto de Deus estamos, mais
distantes do mundo estaremos e vice-versa. Se desejamos aprofundar nosso
relacionamento com Deus, devemos ter o cuidado de nos distanciarmos das
influências mundanas. Certamente, “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não
está nele”, 1 Jo 2.15.
4. Devemos ter um compromisso de levar uma
vida santificada, mostrando ao mundo a diferença que existe entre aquele que
serve a Deus e o que não O serve. Não podemos permitir que o mundo, a carne e o
Diabo controlem nossas ações, corrompendo nossa vida em Deus nos levando ao
fracasso espiritual.
“9 Propôs também esta parábola a uns que
confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: 10
Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. 11 O
fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou
como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este
publicano. 12 Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13 Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos
ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador! 14 Digo-vos
que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si
mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será
exaltado”.
1.
Temos neste texto uma parábola de Jesus focalizando a atitude correta de nos
relacionarmos com Deus através da forma de culto e adoração. A parábola nos
mostra dois homens que subiram ao templo para orar. O primeiro deles era um
fariseu, líder de uma facção religiosa, e o outro um publicano, um tipo social
repugnante, comparado aos piores pecadores daquele tempo.
2.
Contrariando aquilo que poderíamos achar como normal, Deus acolheu a oração e
adoração do publicano, e rejeitou a oração e adoração do fariseu. Como no caso
de Abel e Caim, perguntamos: Por quê? Com certeza, tal fato se deu em razão,
não da oratória do fariseu, um expert em assuntos religiosos, mas em razão do
envolvimento sincero e verdadeiro do publicano ao reconhecer perante o Criador
o seu estado de miserabilidade.
3.
Quando adoramos a Deus, não devemos nos preocupar com a forma de culto, mas com
o envolvimento do nosso coração. Vejamos na Palavra de Deus como podemos ser
rejeitados quando não adoramos de maneira correta:
a)
Nossa adoração a Deus será rejeitada, quando acomodamos em nossos corações
pecados sem confissão e arrependimento, Is 1.15, “Quando estenderdes
as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as
vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue”.
-
Nos dias de Isaías, a nação de Israel estava se comportando de maneira
desordenada convivendo com os mais terríveis pecados. Suas mãos estavam
manchadas de sangue! O que era pior é que eles viviam no faz-de-conta, pois da
insensibilidade deles, surgiu um culto hipócrita que causava náuseas em Deus. O
profeta os denuncia conclamando-os ao arrependimento verdadeiro, caso contrário
o Senhor não poderia ouvi-los. Deus não pode receber um culto contaminado. Urge
que nos arrependamos!
b)
Nossa adoração a Deus será rejeitada, quando adoramos a Deus com o coração
dividido, Mt 4.10,
“...Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”. Ver ainda 1Rs 18.21,
“E Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois
pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal, segui-o. O povo, porém, não
lhe respondeu nada”.
-
Todos nós sabemos da unicidade do Deus de Israel e Senhor da Igreja. Ele é o
único Deus a quem devemos prestar culto. Contudo, nos dias de Elias, o povo de
Deus estava dividido entre a adoração a Baal, deus cananita e Javé. Estavam
contaminados pelo culto idólatra implantado por Jezabel, mulher de Acabe, fruto
de um casamento misto. Em razão deste dualismo cultual, Elias convoca o povo a
escolher entre Baal e Javé. É interessante a expressão “o povo, porém, não lhe
respondeu nada”, que denota o descaso deles. Elias precisou demonstrar o poder
de Deus através de fogo para que eles reconhecessem que “Javé é Deus” (1Rs
18.39)!
c)
Nossa adoração a Deus será rejeitada, quando nossos objetivos são invertidos,
Rm 1.25,
“...pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à
criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém”.
-
Este item é semelhante ao item acima, e somente é diferente no objeto de
adoração. Enquanto que nos dias de Elias o povo adorava Baal e não a Deus, aqui
“coisas criadas”, assumem o lugar do culto que é devido ao Senhor. Estas
“coisas criadas” podem ser caracterizadas por: ídolos de pau, pedra, metal,
etc.; ideologias políticas, sociais e religiosas; a natureza; o dinheiro; etc.
Quando a adoração que pertence a Deus é substituída por qualquer outra coisa ou
objeto, ela se torna ofensiva ao Criador!
4.
Uma maneira correta de adorar a Deus é aquela em que Ele é colocado em primeiro
lugar em nossa vida e onde há um envolvimento profundo de alma e coração.
Devemos nos posicionar como Davi: “Acendeu-se dentro de mim o meu coração;
enquanto eu meditava acendeu-se o fogo...”, Sl 39.3.
CONCLUSÃO:
1.
Concluindo, queremos afirmar que não basta ser religioso, devemos ser verdadeiramente
cristãos! Pela falta de uma vida em Deus, muitos naufragam na fé! Urge que os
verdadeiros filhos de Deus primem por uma vida cristã compromissada com um
autêntico sentimento de adoração e culto.
2. Ao comparecermos perante o Senhor para sacrificar
e adorar, devemos fazê-lo com uma vida santificada, que saiba discernir entre o
santo e o profano, entre o imundo e o limpo, Ez 44.23. Além disso
devemos conhecer a linha divisória entre a carne e o Espírito, o mundo e o
reino, 1 Jo 5.19; Rm 8.9. A falta de discernimento e vida nos
colocará em pé de igualdade com Caim, Esaú e o Fariseu! Com isso, nossos atos
de culto serão certamente corrompidos!