O EVANGELHO
ALCANÇA OS GENTIOS
AT 10.1-48
Extraído da
Revista “Compromisso”, 4º Trimestre de 1997, Juerp, com notas, acréscimos e
supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa.
Pr. José
Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1. Olhando para os capítulos iniciais do
livro de Atos, podemos perceber que o Evangelho estava sendo pregado somente
aos judeus, centralizados em Jerusalém sob o comando dos doze apóstolos. Havia
como que um preconceito contra os outros povos, chamados de gentios.
2. Porém, no capítulo 10 deste mesmo
livro de Atos, alvo de nossa palavra nesta noite, podemos observar que Deus
dirigiu os fatos no sentido de que a proclamação do Evangelho de Jesus chegasse
a Cesareia, e alcançasse um grupo de estrangeiros, tendo à frente o centurião
romano Cornélio.
a) Antes destes fatos, Filipe, um dos sete
homens escolhidos para servirem à mesa das viúvas, conforme registra o capítulo
6, já havia pregado a gentios em Samaria, com resultados extraordinários, e
ganhara para Jesus na estrada de Gaza, um alto funcionário do reino da Etiópia.
Cornélio e o etíope, embora não fossem judeus, temiam o Deus dos Céus, e
buscavam a salvação.
b) De qualquer maneira, entretanto, a Igreja se
encaminhava aos poucos para a frente, libertando-se do exclusivismo judaico,
abrindo-se para a evangelização do mundo.
2. O apóstolo Pedro está no centro dos
acontecimentos deste capítulo, e isso é bom. Por ser ele extremamente cuidadoso
na aproximação dos não-judeus, os judaizantes, que era um grupo de judeus que
forçava dentro das igrejas cristãs a prática dos costumes judaicos, tinham-no
como um líder.
a) Podemos ver que em Antioquia, Paulo
necessitou repreendê-lo em razão de seu comportamento dúbio, Gl 2.11-14,
“11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era
repreensível. 12 Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de
Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se
apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. 13 E os outros judeus
também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela
sua dissimulação”.
b) No caso de Cornélio, quando Pedro foi a
Jerusalém relatar os fatos acontecidos em Cesareia, sentiu a necessidade de
levar alguns irmãos, talvez para o ajudarem nas justificativas perante a
Igreja, At 11.1-18.
3. Olhado para o texto lido vamos ver nesta
noite quais são as “VERDADES NELE CONTIDAS”:
I.
CORNÉLIO, MESMO SENDO UM GENTIO, BUSCA A SALVAÇÃO, O QUE NOS MOSTRA QUE TODOS
TÊM ACESSO À GRAÇA DE DEUS
At 10.1-8, “1 E havia em Cesareia um homem
por nome Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, 2 Piedoso e
temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de
contínuo orava a Deus. 3 Este, quase à hora nona do dia, viu claramente
numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio. 4 O
qual, fixando os olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor? E
disse-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de
Deus; 5 Agora, pois, envia homens a Jope, e manda chamar a Simão, que
tem por sobrenome Pedro. 6 Este está com um certo Simão curtidor, que
tem a sua casa junto do mar. Ele te dirá o que deves fazer. 7 E,
retirando-se o anjo que lhe falava, chamou dois dos seus criados, e a um piedoso
soldado dos que estavam ao seu serviço. 8 E, havendo-lhes contado tudo,
os enviou a Jope”.
1. Em Cesareia, sede do governo romano para a
região da Palestina, vivia o centurião Cornélio. A coorte era um regimento do
exército romano que correspondia à décima parte de uma legião. Como uma legião
era composta de 6.000 soldados, os soldados que estavam sob o comando de
Cornélio perfazia um total de 600.
a) Esse militar não praticava a idolatria, mas
temia o Deus dos judeus. Abominava a pluralidade de deuses, a imensidão de
ídolos e a imoralidade da religião de seu povo. Conhecendo o judaísmo,
adotou-o. O judaísmo era a única religião daqueles dias que prestava culto ao
Deus verdadeiro.
b) Cornélio absorvera até mesmo alguns dos bons
hábitos e costumes da religião dos judeus, como as orações em horas
específicas, as esmolas e a instrução religiosa da família.
2. Orando às três da tarde e, quem sabe,
refletindo sobre a salvação, Cornélio teve uma visão. Um anjo apresentou-se a
ele, e lhe deu conta do agrado de Deus, em relação às suas boas obras,
especialmente esmolas e orações.
a) Como a prática de oração e de esmolas não
são suficientes para a salvação de uma alma, Cornélio foi instruído pelo anjo
que mandasse buscar em Jope um homem de nome Pedro e este lhe daria a
orientação de que necessitava para alcançar a salvação de Deus. A Palavra de
Deus nos mostra esta verdade na carta de Paulo aos efésios, Ef 2.8-9, “8
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus. 9 Não vêm das obras, para que ninguém se glorie”.
b) O que podemos observar nesta experiência é o
fato de que Deus usa homens, para levar sua Palavra a outros homens. Embora o
anjo pudesse falar palavras de salvação a Cornélio, este não era seu
ministério. Quem anuncia a mensagem do Evangelho a um homem é outro homem, 1Pe
1.12, “Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles
ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo
Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho; para as quais coisas
os anjos desejam bem atentar”.
3. Ao mesmo tempo em que Cornélio recebia a
visão e a ordem para ir ao encontro de Pedro, Pedro também estava sendo
preparado por Deus para esse encontro.
a) O fato de ter-se hospedado em casa de um
curtidor indicava um progresso na libertação de preconceitos, At 9.43,
“E ficou muitos dias em Jope, com um certo Simão curtidor”.
b) O ofício de curtidor era profissão
considerada imunda pelos judeus por causa do contato com sangue e cadáveres de
animais. Por isso a casa ficava à beira-mar.
4. Dentro desta primeira verdade, podemos ver
que a salvação pode ser buscada por qualquer pessoa, não importando sua raça,
cor, posição social, sexo, etc.
II. PEDRO,
MESMO SENDO UM JUDEU VAI PREGAR AOS GENTIOS, O QUE NOS MOSTRA QUE NA PREGAÇÃO
DA PALAVRA DE DEUS NÃO DEVEMOS TER QUALQUER PRECONCEITO
At 10.9-17, “9 E no dia
seguinte, indo eles seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao
terraço para orar, quase à hora sexta. 10 E tendo fome, quis comer; e,
enquanto lho preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos, 11
E viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado
pelas quatro pontas, e vindo para a terra. 12 No qual havia de todos os animais
quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu. 13 E foi-lhe dirigida uma
voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. 14 Mas Pedro disse: De modo nenhum,
Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. 15 E segunda vez
lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. 16 E
aconteceu isto por três vezes; e o vaso tornou a recolher-se ao céu. 17
E estando Pedro duvidando entre si acerca do que seria aquela visão que tinha
visto, eis que os homens que foram enviados por Cornélio pararam à porta,
perguntando pela casa de Simão”.
1. Frank Stagg, no comentário “O Livro de
Atos”, chama a atenção para um fato interessante: Jonas fugira para Jope,
afim de não pregar aos gentios, mas foi obrigado a fazê-lo. Muito tempo depois,
Pedro, também em Jope, vê-se forçado a dar atenção a gentios.
a) A atividade missionária do movimento cristão
progredia, a despeito das resistências humanas. Cornélio orava em Cesareia, e
Pedro orava em Jope, a uns
b) No dia seguinte à visão, por volta do
meio-dia, os enviados do centurião chegam a Jope. Enquanto isso, Deus fala a
Pedro através de um êxtase, ou seja “um estado de contemplação intensa em que
nada mais ocupa a atenção de alguém senão os motivos que o levam àquela
situação”.
2. Nesse estado de êxtase, Pedro vê descer um
lençol com animais limpos e imundos, quadrúpedes, répteis da terra e aves. Uma
voz manda que ele coma desses animais, mas Pedro recusa. Ele nunca comera coisa
comum ou imunda.
a) Os judeus tinham listas de animais
considerados imundos, dos quais não podiam alimentar-se. A voz replica: Não
chames comum ou imundo àquilo que Deus purificou. Por três vezes se repete a
cena, no propósito de impressionar profundamente a consciência de Pedro.
b) O êxtase acaba, e batem à porta. Pedro
reflete, e entende a mensagem. Judeus e gentios são criaturas de Deus,
pertencem a ele. Uns não são mais santos que outros. Não recuse aqueles a quem
Deus também ama. Quanto à salvação, uns e outros têm direito à mensagem do
Evangelho. Pedro toma sua decisão. O judeu vai à casa de gentios, pregar-lhe a
Palavra.
3. Esta segunda verdade nos mostra que ao
pregarmos a Palavra de Deus, não podemos fazer qualquer diferença, mas devemos
anunciá-la a todos seres humanos, ou seja nas favelas, nos cortiços, nos
bairros de classe média, nos bairros ricos, aos brancos, aos negros, aos
amarelos, etc.
III. OS
GENTIOS RECEBEM A SALVAÇÃO, O QUE DEMONSTRA A RECEPTIVIDADE DO HOMEM PECADOR AO
QUAL A PALAVRA É PREGADA
At 10.44-48, “44 E, dizendo
Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a
palavra. 45 E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham
vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse
também sobre os gentios. 46 Porque os ouviam falar línguas, e magnificar
a Deus. 47 Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a
água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o
Espírito Santo? 48 E mandou que fossem batizados em nome do Senhor.
Então lhe rogaram que ficasse com eles por alguns dias”.
1. Após receber a visão de Deus e com a
chegada dos mensageiros de Cornélio, no dia seguinte Pedro acompanha os
mensageiros até Cesareia, At 10.23-24, “23 Então, chamando-os
para dentro, os recebeu em casa. E no dia seguinte foi Pedro com eles, e foram
com ele alguns irmãos de Jope. 24 E no dia imediato chegaram a Cesareia.
E Cornélio os estava esperando, tendo já convidado os seus parentes e amigos
mais íntimos”.
a) Uma cena imprevisível aconteceu: O
centurião romano ajoelha-se para adorar o pescador judeu, At 10.25, “E
aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e, prostrando-se a
seus pés o adorou”.
b) Tendo recebido a orientação por intermédio
de um anjo, Cornélio pode ter pensado que o apóstolo fosse outro anjo. Pedro
levanta o soldado, e não deixa de fazer sua ressalva, aparentemente até
indelicada: Eu vim porque Deus mandou, já que normalmente judeus não se ajuntam
a gentios, At 10.26-29, “26 Mas Pedro o levantou, dizendo:
Levanta-te, que eu também sou homem. 27 E, falando com ele, entrou, e
achou muitos que ali se haviam ajuntado. 28 E disse-lhes: Vós bem sabeis
que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas
Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo. 29 Por isso,
sendo chamado, vim sem contradizer. Pergunto, pois, por que razão mandastes
chamar-me?”
At 10.34-43, “34 E,
abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de
pessoas; 35 Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o
teme e faz o que é justo.
a) Nem é concluído o discurso de Pedro, e o
Espírito desce de maneira especial sobre as pessoas presentes, e elas falam em
línguas e glorificam a Deus. Esta experiência nos mostra que aquela gente se
convertia naquele momento, e ao mesmo tempo recebia o Espírito.
b) O dom de línguas ali manifestado se explica
como sendo um sinal “de que esses gentios individualmente haviam recebido a
aprovação divina”, conforme acentua T. C. Smith. A reação dos crentes judeus
acompanhantes de Pedro comprova isso, Vs. 45-46, “45 E os fiéis
que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se
de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. 46
Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus”.
c) Se não houvesse algo de sobrenatural, esses
judeus teriam talvez dificuldades para aceitar cristãos gentios em igualdade
com cristãos judeus. Até o apóstolo se surpreende, mas entende que o mesmo
Evangelho dado a judeus foi também dado a gentios.
3. Esta terceira verdade nos mostra a
receptividade do homem pecador em relação à Palavra de Deus. Quando a Palavra é
pregada com poder, produz resultados surpreendentes. O exemplo de T. L. Osborn,
quando foi ser missionário na Índia sem qualquer resultado, e o seu retorno ao
mesmo lugar 10 anos depois com resultados extraordinários.
CONCLUSÃO:
Alguns fatos relacionados com o Evangelho de
Jesus Cristo podem ser destacados deste estudo como os que seguem:
1. O Evangelho e boas obras, “Tuas
orações e... esmolas têm subido para memória diante de Deus... agora manda
chamar”, vs. 4-5. Paulo ensinava que recebemos a salvação pela graça,
mediante a fé, como dom de Deus. O Senhor se agrada das boas obras, mas elas
são insuficientes para a redenção dos pecados.
2. O Evangelho e a proclamação, “Manda
chamar a Simão... Ele te dirá o que deves saber”, vs. 5-6. Assim como o
Senhor mandou Ananias a Paulo, ele envia Pedro a Cornélio, porque cabe a homens
e mulheres o ministério da pregação do Evangelho de Jesus Cristo à humanidade.
3. O Evangelho e as nações, “Não
chames tu comum ao que Deus purificou”, v. 15. Não temos o direito de discriminar
ninguém quando se trata de entregar a mensagem do Salvador. Nenhuma gente
merece mais do que outra. Ninguém é tão pecador e ímpio que deva ser excluído
das preocupações missionárias e evangelizadoras.
4. O Evangelho e o Espírito Santo,
“Este que, também como nós, receberam o Espírito”, v. 47. O Espírito
Santo opera para a salvação desde o testemunho do crente, passando pela ação de
convencer o pecador, e vindo habitar o indivíduo desde quando acontecem a
regeneração e a conversão.
5. O Evangelho inclui o batismo,
“Mandou, pois, que fossem batizados”, v. 48. O batismo não tem o poder
regenerador, mas faz parte do Evangelho. Basta ver o mandamento de Jesus em Mt
28.19-20. Quem ama a Jesus, deseja obedecer em tudo, e participar da sua
Igreja, submetendo-se ao batismo.