Nova Vida
Por F.B. Hole
Pr. José Antônio Corrêa
“Nós,
porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra”, 2Pe 3.13.
A nova criação, suprema esperança de todos os
redimidos, é o último ponto a que o Evangelho nos conduz. Logo será vista
concretizada no céu; mas nós já temos o privilégio de formar parte dela
espiritualmente.
Deus introduz a nova criação, não para
atender a uma necessidade da nossa parte, mas para satisfazer à Sua própria
natureza santa. Tínhamos necessidade de ser perdoados, justificados e
restaurados por causa de todos os estragos causados pelo pecado, mas
dificilmente podemos dizer que tínhamos necessidade de ser “criados em Cristo
Jesus”, Ef 2.10. Este maravilhoso
acontecimento se insere no plano de Deus para satisfazer-lhe o coração.
“Se alguém está em Cristo, é nova criatura”
2Co 5.17
A primeira menção da nova criação no Novo
Testamento é categórica: cada um dos que estão em Cristo “é uma nova criação”,
(2Co 5.17, tradução literal do texto
original grego). Não uma nova criatura, mas sim uma nova criação. O estilo do
apóstolo é muito vigoroso. Ele omite o verbo ser e, com alegria exclama: “De
modo que se alguém está em Cristo é nova criação”. A nossa posição em Cristo
não implica nada menos que isso.
A Epístola aos Romanos apresenta claramente a
posição do crente em Cristo Jesus: está colocado além de toda condenação. Não
obstante, não podemos compreender verdadeiramente essa posição sem entender o
que é a nova criação. Estamos nEle porque somos criados nEle. “Somos feitura
dEle, criados em Cristo Jesus”, Ef 2.10.
A velha criação era obra de Deus. Foi criada pelo Filho, mas não criada nEle. O
pecado pôde introduzir-se nela, mas jamais entrará na nova criação, porque esta
recebe de Cristo a vida e a natureza dEle.
O final de 2 Coríntios 5 mostra que existe
estreita relação entre a reconciliação e a nova criação (ver também Ef 2.15-16, “15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para
que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz. 16 e
reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo
por ela a inimizade”). A reconciliação consiste em que todas as coisas
fiquem em harmonia com Deus. Isso só é possível por meio de uma nova criação
que extraia tudo de Deus, uma criação em Cristo. Contudo, esta não pode ser
estabelecida senão sobre uma base justa, depois de ter sido julgado o pecado
que marcou a velha criação. A nova criação, como a reconciliação, tem a sua
origem no amor de Deus e se fundamenta na justiça dEle.
Assim como a reconciliação é um dos frutos da
obra de Cristo por nós, a nova criação é o fruto da obra de Deus em nós, como
demonstra 2 Coríntios 5 e Efésios 2. Todos estávamos espiritualmente mortos, é
a mesma comprovação (2Co 5.14, “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um
morreu por todos; logo, todos morreram”; Ef 2.1, “Ele vos deu vida, estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados”). Deus nos deu uma vida nova e nos
estabeleceu em Cristo; tal é a obra de Deus em nós: “Somos feitura dele”. A
nova criação tem como fundamento a ressurreição de Cristo. Deus opera
maravilhosamente nos crentes, os quais serão eterno testemunho de Sua justiça (2Co 5.21, “Aquele
que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus”) e da “suprema riqueza da sua graça” (Ef 2.7).
“Eis que tudo se fez novo”
2Co 5.17 - RC
A nova criação não é um “remendo” da velha.
As coisas velhas desaparecem e dão lugar às novas, que são inteiramente de
Deus. Isso é também verdade com respeito a Cristo. Ele se humilhou uma vez nas
circunstâncias da velha criação, estando entre nós segundo a carne (Rm 9.5, “deles
são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é
sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!”). No final de Sua
vida perfeita e santa, morreu sob a sentença que condenava a velha criação, “o
justo pelos injustos” (1Pe 3.18).
Dessa forma, Ele estabeleceu os fundamentos da nova criação nEle mesmo,
ressuscitando dentre os mortos. Adquiriu, assim, um caráter novo e celestial.
Para nós também todas as coisas se fizeram
novas. Antes de tudo, recebemos uma vida de natureza diferente. A vida do homem
natural é baseada no egoísmo, pois ele vive para si mesmo. Fundamentalmente, a
nossa vida de crentes tem como centro a Cristo: não vivemos mais para nós
mesmos, mas sim para Ele, estando constrangidos pelo Seu amor (2Co 5.14-15, “14 Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um
morreu por todos; logo, todos morreram 15 E ele morreu por todos, para que os
que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou”).
Em seguida, a vida nova também conduz a novas
relações. Para compreender isso, comparemos os discípulos nos evangelhos e no
livro de Atos. Entre a primeira e a segunda situação, o Senhor soprou neles o
Espírito Santo, operação da nova criação (Jo
20.22, “E, havendo dito isto, soprou sobre eles e
disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”), e o Espírito Santo mesmo veio à
Igreja. Nos evangelhos, os discípulos conhecem o Senhor “segundo a carne”; no
livro de Atos, conhecem-NO segundo o Espírito. Nessa altura também ocorrera uma
mudança na condição do Senhor, mas é preciso notar a grande mudança ocorrida na
condição dos discípulos. Com efeito, o apóstolo declara: “a ninguém conhecemos
segundo a carne” (2Co 5.16).
Contudo, as suas relações habituais não tinham mudado, a única mudança se via
neles mesmos. Como somos uma nova criação em Cristo, conhecemos a cada um de maneira
nova. Por assim dizer, observamos todos os homens e todas as coisas com os
olhos da nova criação.
“O novo homem, criado segundo Deus”
Ef 4.24
Somos “criados em Cristo Jesus para boas
obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”, Ef 2.10.
Este é o aspecto prático da nova criação.
Como somos criados em Cristo Jesus, temos capacidade para fazer boas obras
segundo Deus. Essas obras foram feitas por Cristo no mais elevado grau, mas nós
também podemos fazê-las. Para nós, Deus as preparou de antemão. Se permanecemos
dependentes, devemos andar nessas boas obras, isto é, deixar-nos dirigir para
elas e praticá-las pela fé.
Se
nós nos despojamos do velho homem, fomos renovados e nos revestimos do “novo
homem, criado segundo Deus”, (Ef
4.21-24, “21 se é que, de fato, o tendes ouvido e
nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, 22 no sentido de que,
quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo
as concupiscências do engano, 23 e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento, 24 e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça
e retidão procedentes da verdade”; ver também Cl 3.10, “no qual não pode haver grego
nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém
Cristo é tudo em todos”). Essas operações se efetuaram em nós uma vez
para sempre. Antes pertencíamos à ordem do velho homem e apresentávamos a sua
natureza corrompida. Agora pertencemos à ordem do novo homem e trazemos suas
qualidades de santidade, justiça e verdade.
O novo homem forma parte da nova criação; é
“criado segundo Deus”. Ainda que sejamos exortados a nos revestir dele, isto
não diz respeito somente ao exterior das coisas, mas também ao profundo de
nosso ser, particularmente ao espírito do nosso entendimento.
Revestidos dessas características da nova
criação, devemos comportar-nos de maneira responsável. Há coisas que devemos
repudiar completamente: a ira, a maldade, as injúrias. Há outras que convém
cultivar: a bondade, a humildade, a mansidão e, acima de tudo, “o amor, que é o
vínculo da perfeição” (Cl 3.14).
“Nem a
circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser nova
criatura”, (Gl 6.15 - ERC).
A Epístola aos Gálatas insiste na posição dos
crentes referindo-se a eles em sua unidade em Cristo: “todos vós sois um em
Cristo Jesus”, “pois nem a circuncisão é cousa alguma, nem a incircuncisão mas
o ser nova criatura” (Gl 3.28; 6.15).
As ordenanças legais hoje já não têm mais lugar, pois dizem respeito ao homem
natural, considerado erroneamente como capaz de agradar a Deus. As diferenças
de origem também desaparecem entre os crentes, pois, sendo criados em Cristo,
tudo é extraído dEle. “Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos” (Cl 1.18). Cristo adentrou o céu com a
Sua humanidade ressuscitada. Agora estamos ressuscitados nEle; como
participamos da vida dEle, “todos vêm de um só” (Hb 2.11).
A própria Igreja é um resultado da nova
criação. Por meio do Evangelho, Cristo chama os judeus e os gentios e cria dos
dois, “em Si mesmo, um novo homem” (Ef
2.15). A Igreja é o corpo de Cristo; nela, Ele se expressa corporalmente.
Podemos, pois, considerar nova criação em Cristo Jesus tanto os crentes
individualmente quanto a Igreja inteira.