O CUSTO DE
NOSSO RESGATE
José
Antônio Corrêa
1 PE
1.18-23, “18 sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos
legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do
mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós 21 que, por meio
dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu
glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. 22 Tendo
purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor
fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, 23
pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível,
mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente”.
INTRODUÇÃO:
1) Inicialmente, precisamos entender que para haver o resgate de
alguém, este alguém precisa estar preso, sequestrado, sob situação de risco. É
o que acontece num sequestro, onde o sequestrador exige determinada quantia
para soltar sua vítima. A vítima somente é liberada após o pagamento do
resgate, ou quando a polícia descobre o cativeiro e liberta o sequestrado, com
a prisão, ou não, dos sequestradores, ou ainda, numa hipótese remota, quando o sequestrado
foge do cativeiro e da mão dos bandidos.
2) Em nosso caso, fomos sequestrados e presos pelo diabo através
da queda de Adão, a qual trouxe à raça humana o pecado e a maldição. Olhe o que
Paulo nos diz acerca do efeito desastroso da queda: “Portanto, assim como por
um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”, Rm 5.12. Não precisamos dizer que antes de conhecer ao Senhor pela
Palavra, estávamos sob o domínio da “morte”.
3) No texto bíblico em questão, o apóstolo Pedro usa a expressão:
“fútil procedimento que nossos pais nos legaram”. Tal expressão não é utilizada
por acaso! Com ela, Pedro tinha em mente a situação pecaminosa em que vivíamos
antes de ser resgatados pela ação de Cristo na cruz. Porém graças a Deus fomos
resgatados! Vejamos:
“ALGUMAS
PARTICULARIDADES DE NOSSO RESGATE POR CRISTO”
I. NOSSO
RESGATE NÃO ACONTECEU MEDIANTE O PAGAMENTO DE QUALQUER VALOR MONETÁRIO
1) Como já vimos em nossa introdução, qualquer sequestrado somente
poderá ser libertado mediante três situações: ou pela ação da polícia que
intervêm no cativeiro, ou mediante o pagamento de um valor monetário estipulado
pelo sequestrador, ou ainda pela fuga do sequestrado. Caso não aconteça uma
destas três opções, aquele que está preso poderá acabar morto e seu corpo
jogado em qualquer lugar. Lembramos aqui do caso de uma mulher sequestrada em
Campinas/SP, cujo resgate não foi pago, e que acabou sendo vítima da morte
pelas mãos dos bandidos. Ainda por ironia do destino, ou por pura maldade dos sequestradores,
seu corpo sem vida foi jogado nas proximidades de sua residência.
2) Como vivíamos prisioneiros do diabo e do pecado pela maldição
impetrada em Adão correndo risco de morte, sem poder fazer nada por conta
própria, precisávamos também ser resgatados, mediante o pagamento de um preço.
Quem tinha interesse em nossa libertação e resgate era o Deus Criador e o preço
deveria ser pago por Ele. Porém, Pedro afirma que o preço pago não foi uma soma
monetária em “prata ou ouro”.
II. NOSSO
RESGATE CUSTOU O SANGUE DO CORDEIRO DE DEUS
1) O resgate pelo sangue já acontecia no Velho Testamento, quando
uma vítima (um animal, normalmente um cordeiro, ou um novilho) era imolado,
morto, como expiação pelo pecado: “Também cada dia prepararás um novilho como
oferta pelo pecado para as expiações; e purificarás o altar, fazendo expiação
por ele mediante oferta pelo pecado; e o ungirás para consagrá-lo”, Êx 29.36. O escritor da Carta aos
Hebreus advertiu sobre a necessidade do sangue na expiação do pecado: “Com
efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem
derramamento de sangue, não há remissão”, Hb
9.22.
2) Um detalhe importante é que para o sacrifício, era exigido um
animal perfeito, ou seja, sem qualquer defeito físico, sob o risco da oferta
pelo pecado não ser aceita pelo Senhor, sendo também rejeitado o pecador: “Se a
sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da
congregação o trará, para que o homem seja aceito perante o SENHOR”, Lv 1.3.
3) Ao ser imolado Cristo, o “Cordeiro de Deus” (Jo 1.29), cumpriu todas as exigências
legais. Senão vejamos:
a) Como “Cordeiro de Deus”,
Cristo foi apresentado para o sacrifício sem defeito, sem mácula. Temos no
texto dois termos importantes: o termo “amwmov (amomos)”, significando “sem
defeito”, “sem mancha” e o termo “aspilov (aspilos)”, com o significado de
“limpo”, “livre de censura”, “impecável”, “livre de vício”, “puro”. Assim como
o cordeiro destinado ao sacrifício precisava ser sem defeito, assim também
Cristo, não teve qualquer defeito moral que o tornasse incapaz de realizar
nossa redenção. No dizer do escritor da Carta aos Hebreus, Jesus “...foi ele
tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”, Hb 4.15. Esta é a natureza do salvador
enviado por Deus. Possuía todas as qualificações necessárias para operar nosso
resgate.
b) Como “Cordeiro de Deus”,
Cristo se tornou conhecido antes da fundação do mundo. Isto significa que o
resgate divino foi planejado antes mesmo da criação do homem e da queda de
Adão. Conhecendo os fatos antes deles vierem à tona, o Deus Onisciente,
Pré-Ciente, pode separar o que tinha de mais precioso, o Filho amado, para
buscar e salvar o pecador: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
perdido”, Lc 19.10. Falando do
projeto da salvação idealizado pelo Senhor em tempos passados, Paulo também
escreveu: “...assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor”, Ef 1.4.
c) Como “Cordeiro de Deus”,
Cristo ressuscitou dentre os mortos. Como o pecado que nos tornou “escravos”,
tem como recompensa a “morte” (“...porque o salário do pecado é a morte...”, Rm 6.23), o Salvador idealizado por
Deus deveria ser vencedor diante da morte. Tal evidência ficou clara nas
ressurreições realizadas pelo Senhor (filho da viúva de Naim (Lc 7.11-16), filha de Jairo (Mc 5.38-43), Lázaro (Jo 11), e também na sua própria
ressurreição (Jo 20). A ressurreição
do Senhor é a doutrina mais importante do Cristianismo. Sem ela, segundo Paulo,
“...é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas
testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a
Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam”,
1Co 15.14-15.
d) Como “Cordeiro de Deus”,
Cristo foi manifestado no “final dos tempos”. A palavra “manifestar”
significa “tornar visível ou conhecido o que estava escondido ou desconhecido”,
“revelar o oculto”. Já a expressão “final dos tempos”, embora possa se referir
à primeira vinda de Jesus, ao nascer pelo Espírito Santo no ventre de Maria,
também pode ser aplicada à segunda vinda do Senhor. É certo que Jesus se
manifestará no “final dos tempos” para buscar sua Igreja, ao mesmo tempo em que
tratará duramente com todos aqueles que recusaram obedecê-LO. Ver 2Ts 1.7-9, “7 e a vós outros, que sois
atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor
Jesus com os anjos do seu poder, 8 em chama de fogo, tomando vingança contra os
que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso
Senhor Jesus. 9 Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face
do Senhor e da glória do seu poder”.
5) Como “Cordeiro de Deus”,
Cristo será glorificado. Esta glorificação já aconteceu em parte, de acordo
com o ensino de Paulo, aos filipenses: “6 pois ele, subsistindo em forma de
Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e,
reconhecido em figura humana,
III. NOSSO
RESGATE NOS COLOCOU NUMA NOVA POSIÇÃO DIANTE DE DEUS E DOS HOMENS
1) Nossas almas foram
purificadas, através da obediência à verdade.
a) Para a expressão “tendo purificado”, temos no original o termo
grego “agnizw (hagnizo)” – “tornar puro”, “purificar”, “limpar”. O termo era
aplicado principalmente nas purificações cerimoniais. A purificação era uma
“cerimônia para tornar puro ou limpo um objeto, um lugar ou uma pessoa a fim de
poderem ser usados ou tomar parte no culto de adoração a Deus” (Bíblia Online,
Módulo Avançado V, Versão 3.0, SBB). Este termo aparece em Atos 21.26, onde Paulo cumpre um ritual de purificação nos moldes
do Antigo Testamento para justificar aos judeus a sua não traição aos costumes
judaicos: “Então, Paulo, tomando aqueles homens, no dia seguinte, tendo-se
purificado com eles, entrou no templo, acertando o cumprimento dos dias da
purificação, até que se fizesse a oferta em favor de cada um deles”.
b) Porém, no texto em questão, Pedro afirma que a purificação
verdadeira somente acontece pela “obediência à verdade”. Ao obedecermos a
Palavra de Deus, que é a verdade, somos purificados e nos tornamos aptos para
ser cidadãos do reino. Quando Jesus praticava a cerimônia do “lava-pés”, um
tipo de ritual de purificação judaica, Pedro insistindo que Ele lhe lavasse não
somente os pés, mas também a cabeça, o mestre asseverou: “Quem já se banhou não
necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós
estais limpos...”, Jo 13.10. Mais
adiante, no mesmo evangelho Jesus complementa: “Vós já estais limpos pela
palavra que vos tenho falado”, Jo 15.3.
Temos o mesmo conceito em Efésios
5.26-27, quando Paulo fala a respeito da situação da igreja de Cristo,
agora redimida: “26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”.
c) Na teologia de Pedro, a ação de purificação pela Palavra de
Deus, ocorre paralelamente com a “regeneração” – “Tendo purificado a vossa alma
... fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível,
mediante a palavra de Deus”, vs. 22-23.
O termo “regeneração” vem do grego “anagennaw (anagennao)”, que tem como
significado: “renascer”, “nascer de novo”. Ninguém poderá se tornar filho de
Deus e entrar para o seu reino, sem passar pelo novo nascimento. Esta foi a
argumentação de Jesus em seu diálogo com Nicodemos – “...Em verdade, em verdade
te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, Jo 3.3. Algo de suma importância que
precisamos compreender, é que este novo nascimento não é carnal, mas
espiritual: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer
da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”, Jo 3.5-6. É a ação do Espírito Santo pela Palavra de Deus no
coração do homem que provoca o novo nascimento. A partir no novo nascimento nos
tornamos santuários do Espírito Santo, 1Co
3.16, “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus
habita em vós”. É por este motivo que Paulo declara: “Vós, porém, não estais na
carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se
alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”, Rm 8.9.
0
2) Reconhecendo o fato de
que fomos regenerados através da Palavra de Deus, devemos agora amar
intensamente nossos irmãos. Podemos afirmar sem sombra de dúvidas, que o
verdadeiro amor fraternal somente pode existir na vida daquele que foi regenerado
e purificado através da Palavra. O que nos deixa tristes é o fato de vermos
entre o povo chamado “povo de Deus” a impraticabilidade desse tipo de amor.
Porém se estamos dispostos a obedecer a Palavra de Deus, devemos insistir em
praticá-lo. O escritor da Carta aos Hebreus, recomendou: “Seja constante o amor
fraternal” (Hb 13.1), e Paulo
escrevendo aos tessalonicenses, nem julgou necessário estender muitas
recomendações acerca da prática do amor fraterno quando disse: “No tocante ao
amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos
estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros”, 1Ts 4.9.
CONCLUSÃO:
Ao
concluir esta mensagem, devemos refletir:
1) Grande foi o nosso resgate! Vivíamos sob o domínio do diabo e escravizados
pelo pecado, sem qualquer possibilidade de escapar de tal situação por nós
mesmos. No entanto, Deus interveio mediante Jesus e nos “...libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a
redenção, a remissão dos pecados”, Cl
1.13-14.
2) Agora resgatados, salvos, colocados numa posição segura –
“...e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus”, Ef 2.6
– devemos amar intensamente nossos irmãos em Cristo. Devemos lembrar que o amor
ao irmão nos é imposto como “mandamento” de Deus: “20 Se alguém disser: Amo a
Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a
quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. 21 Ora, temos, da parte dele,
este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão”, 1 Jo 4.21.