OS PEDADOS DE JEROBOÃO
por Dennis Allan
Pr. José Antônio Corrêa
As
histórias dos reis de Israel estão cheias de citações dos pecados de Jeroboão.
A maldade dele se tornou ponto de referência para julgar os seus sucessores. Os
registros nos dois livros dos Reis comentam que outros andaram, seguiram,
aderiram e não se apartaram dos pecados de Jeroboão, filho de Nebate. Agora,
quase 3.000 anos depois do reinado deste rei, ainda podemos – e devemos –
aprender lições importantes dos seus erros.
I. O CONTEXTO HISTÓRICO
Salomão,
o terceiro rei de Judá, pecou tanto contra Deus que o Senhor decidiu tirar a
maior parte do reino das mãos dos descendentes dele. Após a morte deste filho
de Davi, o reino se dividiu em duas partes. A parte do sul, conhecida como
Judá, ficou sob o domínio dos descendentes de Davi. A maior parte, composta das
dez tribos do norte, foi dada por Deus a Jeroboão, filho de Nebate, um
efraimita já provado como administrador hábil.
Jeroboão
tinha tudo que precisava para ser muito bem sucedido. Quando Deus mandou o
profeta Aias falar com Jeroboão sobre o plano divino de lhe entregar as 10
tribos de Israel, ele prometeu a permanência da família de Jeroboão no trono,
se este fosse fiel ao Senhor: “Se ouvires tudo o que eu te ordenar, e andares
nos meus caminhos, e fizeres o que é reto perante mim, guardando os meus
estatutos e os meus mandamentos, como fez Davi, meu servo, eu serei contigo, e
te edificarei uma casa estável, como edifiquei a Davi, e te darei Israel”, 1Rs
11.38. Que promessa! Que oportunidade para estabelecer sua dinastia em
Israel! Mas houve uma condição: Se ouvir as ordens, andar no caminho, fizer o
que é reto e guardar os mandamentos de Deus, a dinastia dele seria
estabelecida. Esta condição de obediência foi o problema de Jeroboão. Vamos
examinar a história de Jeroboão para aprender como evitar os pecados que
levaram ao fracasso da dinastia dele.
II. A PREOCUPAÇÃO DE JEROBOÃO
Apesar
da promessa de Deus, Jeroboão sentiu-se inseguro como rei de Israel. Ele se
preocupou, especialmente, com a influência dos irmãos em Judá. Se os israelitas
voltassem a Jerusalém para comemorar as festas anuais, como Deus mandou na lei
dada a Moisés, eles poderiam rejeitar Jeroboão. Os sacerdotes lá em Jerusalém
iam comentar sobre o templo que foi projetado pelo avô e construído pelo pai do
rei de Judá. Assim, pensou Jeroboão, o povo consideraria Roboão o rei legítimo
e voltaria para Judá. Eles poderiam até assassinar o rei de Israel!
Quantas
vezes fazemos a mesma coisa? Ao invés de confiar nas promessas de Deus,
imaginamos todas as coisas que poderiam acontecer. Ficamos preocupados e
ansiosos sobre coisas imaginadas, quando devemos simplesmente confiar no
Senhor. Pedro disse que devemos nos humilhar “sob a poderosa mão de Deus...
lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”, 1Pe
5.6-7.
III. AS INOVAÇÕES DE JEROBOÃO
A
falta de fé de Jeroboão o levou a cometer uma série de pecados. Na leitura de 1Rs
12.25-33, encontramos quatro inovações que o rei de Israel introduziu, sem
autorização divina. Ele mudou:
1.
Os símbolos da religião dos israelitas. A adoração verdadeira envolvia a arca da
aliança, o altar dos holocaustos, o templo em Jerusalém, etc. A religião
inovadora de Jeroboão tinha outros símbolos – bezerros de ouro e altares em Dã
e Betel. Ele tinha um certo apoio histórico, pois o primeiro sumo sacerdote de
Israel havia feito um bezerro de ouro (Êx 32.1-29). Precedente
histórica, sem a aprovação divina, não serve para guiar o nosso caminho.
2.
O lugar da adoração.
Quando o povo estava prestes a entrar na terra prometida, Deus falou que
designaria um lugar exclusivo para determinadas comemorações e sacrifícios (Dt
12.1-14). Jerusalém foi o lugar que o Senhor escolheu, e ali Salomão construiu
o templo. Mas, Jeroboão tinha alguma base histórica na escolha de outros
lugares, especialmente Betel. A própria palavra significa “casa de Deus”, pois
foi ali que Jacó encontrou Deus (Gn 28.10-22). Duas gerações antes, o
próprio Abrão sacrificou ao Senhor perto de Betel (Gn 12.8). O fato de
Deus ter aceito uma coisa numa época não é prova de que ele aceitará a mesma
coisa numa outra época.
3.
O sacerdócio.
A lei dada por meio de Moisés foi clara. Os sacerdotes de Israel seriam
levitas. Jeroboão não respeitou esta limitação e ordenou pessoas de outras
tribos como sacerdotes. Quem tivesse dinheiro para fazer os sacrifícios que o
rei pediu poderia ser sacerdote. Quando Deus dá qualificações para posições de
serviço no reino dele, devemos respeitar todas as condições por ele impostas.
Apesar de tais orientações na palavra, quantos homens hoje continuam agindo
como pastores, mesmo não tendo todas as qualificações que Deus exige deles?
Quem tiver dinheiro para pagar mensalidades de algum curso de teologia se torna
pastor, ignorando e desrespeitando as qualificações bíblicas (1Tm 3.1-7 e Tt
1.5-9).
4.
As datas das festas.
Deus ordenou algumas festas especiais, inclusive a Festa dos Tabernáculos que
foi comemorada no sétimo mês do calendário judaico. Jeroboão escolheu o oitavo
mês para a festa inventada por ele. Nosso serviço deve ser feito para agradar a
Deus, nunca colocando a nossa vontade acima da palavra dele.
IV. DEUS DISSE “NÃO” CINCO VEZES!
Deus
só precisa falar uma vez, e nós devemos respeitar a palavra dele. Às vezes, ele
mostra sua longanimidade, dando diversas oportunidades para o pecador enxergar
seu erro e se arrepender. No caso de Jeroboão, podemos identificar cinco vezes
que Deus condenou seu pecado.
1.
Deus disse “não” na lei. Todas as inovações de Jeroboão feriram os princípios
da lei dada ao povo 500 anos antes (Êx 25-28; 30.1-10; Lv 23.33-44; Nm
3.3,44-45; Dt 12.1-14). Se Jeroboão tivesse respeitado a palavra já escrita,
não teria causado os grandes estragos que ele trouxe sobre sua família e sobre
o povo de Israel. Também, não teria perdido o apoio dos levitas e outros fiéis
que saíram de Israel e foram para Judá, um lugar onde seria possível continuar
servindo ao Senhor (2Cr 11.13-17).
2.
Deus disse “não” pela boca de um profeta de Judá. Deus mandou um
profeta de Judá a Betel, onde fez profecias detalhadas (cumpridas 300 anos
depois) sobre os pecados de Jeroboão. A palavra foi confirmada por uma série de
sinais miraculosos. Mesmo assim, Jeroboão não se arrependeu de sua maldade (leia
o relato em 1Rs 13.1-10,33-34).
3.
Deus disse “não” pela boca do profeta Aias Alguns anos antes, Deus tinha usado
Aias para falar para Jeroboão que este seria rei de Israel. Desta vez, o mesmo
profeta, já velho e cego, viu claramente os pecados que o rei cometera. Ele
falou das consequências graves: a aniquilação da casa de Jeroboão e o cativeiro
de Israel além de Eufrates, uma profecia cumprida 200 anos mais tarde (1Rs
14.1-16). A palavra de Aias foi confirmada pela morte do filho de Jeroboão,
mas este ainda não se arrependeu.
4.
Deus disse “não” pela boca do rei Abias. Jeroboão ainda estava reinando em
Israel quando Abias, o neto de Salomão, começou a reinar em Judá. Durante este
período, houve guerra entre os dois reinos. Abias tinha uma desvantagem
militar, contando com 400.000 soldados para guerrear contra os 800.000 homens
no exército de Jeroboão. Antes de travar a batalha, o rei de Judá foi para
Israel e tentou convencer Jeroboão de seus erros e da futilidade de entrar
nesta batalha. Ele começou com um resumo da história da divisão dos reinos, e
passou a mostrar a posição precária de Jeroboão e seus homens. Observe alguns
pontos de contraste que ele frisou (2Cr 13.8-12):
Israel |
Judá |
Exército
maior (800.000 homens) |
Exército
menor (400.000 homens) |
Bezerros
de ouro feitos por Jeroboão |
O
Senhor |
Sacerdotes
não aprovados por Deus |
Sacerdotes
do Senhor, levitas |
Adoração
errada |
Adoração
autorizada por Deus |
Deixou
de servir a Deus |
Guarda
os preceitos do Senhor |
Quando
Abias falou, Jeroboão deveria ter ouvido. Mas ele estava muito ocupado
preparando a sua resposta – planejando a tática militar e organizando uma
emboscada para vencer o inimigo. Como é comum a mesma atitude hoje. Quando
alguém nos repreende, damos ouvidos para aprender como melhorar e corrigir
erros, ou ficamos o tempo todo pensando em como responder para nos defender e
nos justificar? Jeroboão deveria ter ouvido as palavras de Abias!
5.
Deus disse “não” pela derrota esmagadora no campo de batalha. Jeroboão, na sua
esperteza, tentou ganhar a vantagem decisiva sobre Judá. Mas Abias havia
falado a verdade – Deus estava com Judá. Os bezerros de ouro e 800.000 soldados
não resistiram os 400.000 apoiados pelo Senhor. Naquele dia, meio milhão de
soldados de Israel caíram mortos, e Deus deu uma grande vitória ao povo de
Judá, comandado por Abias. Jeroboão nunca recuperou força para desafiar Judá
outra vez (2Cr 13.14-20).
V. APLICAÇÕES
Observemos
algumas lições importantes desta história de Jeroboão:
1.
Quando Deus fala, devemos ouvir. Ele não precisa falar cinco vezes. Uma vez
na palavra dele basta. Se Jeroboão tivesse respeitado a lei já revelada,
poderia ter evitado muito sofrimento (Pv 16.20;19.16).
2.
Nunca devemos introduzir doutrinas ou práticas na igreja sem a autorização da
palavra de Deus (Cl 3.17; 2Jo 9).
3.
Devemos rejeitar qualquer pastor que não tenha todas as qualificações reveladas
pelo Espírito Santo em 1Tm 3.1-7 e Tt 1.5-9. Pastores não qualificados devem
obedecer a Deus e renunciar as suas posições.
4.
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31). Por outro lado, “Se
o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 127.1).
5.
Devemos ouvir aquele que nos corrige, ao invés de nos preocupar com as nossas
defesas e justificativas (Pv 15.5, 31-32; 19.27; 27.5). Se Jeroboão tivesse
ouvido Abias, 500.000 homens poderiam ter sobrevivido naquele dia.
6.
Devemos abandonar o erro e buscar um lugar para servir ao Senhor conforme a
vontade dele.
Quando Jeroboão conduziu Israel ao pecado, os servos do Senhor deixaram o país
e foram para Judá. Quando igrejas hoje se desviam da palavra de Deus e recusam
se arrepender, somos obrigados a sair delas e procurar outras pessoas que
respeitam a palavra de Deus (2Co 6.14 - 7.1).
Os
pecados de Jeroboão levaram Israel à destruição, pois Deus se afastou deste
povo rebelde (2Rs 17.21-23). Vamos evitar os erros deste rei rebelde!