REAÇÕES NEGATIVAS AO SOFRIMENTO

Êxodo 14:8-14

Autoria Desconhecida

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

 

INTRODUÇÃO

 

A reação ao sofrimento é, talvez, o fator mais determinante e marcante para distinguir o tipo e a característica da personalidade humana. Ou seja, a maneira com você reage ao sofrimento e problemas vai informar a característica da sua personalidade!

 

Enquanto algumas pessoas se deixam abater e chegam mesmo ao desespero, diante das dificuldades da vida, outras, enfrentam situações dificílimas e superam o problema e a dificuldade.  

 

Por que isto acontece? Por que as pessoas reagem de forma diferenciada? Por que alguns fazem do problema um trampolim para a vitória, enquanto outros fazem dele um “escorrega” para a derrota?

 

Há fatores de ordem emocional, física, disciplinar e espiritual que atuam interagindo no interior do ser humano, levando-o ao equilíbrio ou ao descontrole diante dos fatos negativos que o acometem.

 

A palavra de Deus nos mostra exemplos de alguns casos. Exemplos que podem servir de ensinamento e advertência para nós hoje.  Portanto, vamos procurar retirar de reações negativas ao sofrimento, os ensinos que a Bíblia contém para cada um de nós.

 

 

I. PRIMEIRA REAÇÃO NEGATIVA AO SOFRIMENTO - SENTAR E CHORAR

 

Veja o caso do apóstolo PEDRO, por exemplo.  No Evangelho de Marcos 14.66-72, “66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote 67 e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. 68 Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. E o galo cantou. 69 E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. 70 Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu. 71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais! 72 E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar”.

 

Temos aqui a história do discípulo mais dedicado e desprendido, que diante do sofrimento que o atingiu ao constatar que tinha traído seu Mestre, vai retirar-se, e a sós, chorar copiosamente!

 

Aliás, no choro, propriamente, não há nenhum mal.  Afinal de contas, as situações difíceis atingem o nosso equilíbrio emocional, levando-nos às lágrimas diante de problemas tristes ou trágicos. Isto é natural, e, de acordo com o grau de sensibilidade da pessoa, até benéfico do ponto de vista psicológico, segundo os entendidos, pois de alguma forma descarregamos emoções que, contidas, poderiam trazer consequências prejudiciais ao nosso organismo como um todo.

 

O NEGATIVO reside no fato de sentar-se apenas! Que este sentar-se venha acompanhado do choro, sem problema algum.  O que é extremamente negativo é quando este “sentar-se e chorar” não conduz a qualquer outra reação a não ser lamentação e lamúria!

 

Que você chore, que você se constranja com os momentos difíceis que te abate, isto é muito natural, mas o que não pode acontecer é ficarmos indefinidamente sentados, chorosos, lamentando e atraindo para nós a comiseração de terceiros.  E felizmente, para a história do Cristianismo não foi isto que aconteceu com o apóstolo Pedro!!!

 

 

II. SEGUNDA REAÇÃO NEGATIVA AO SOFRIMENTO – FUGIR DO PROBLEMA

 

Jn 1.1-15, “1 Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: 2 Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim. 3 Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do SENHOR, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do SENHOR. 4 Mas o SENHOR lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar. 5 Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente. 6 Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos. 7 E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. 8 Então, lhe disseram: Declara-nos, agora, por causa de quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual a tua terra? E de que povo és tu? 9 Ele lhes respondeu: Sou hebreu e temo ao SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra. 10 Então, os homens ficaram possuídos de grande temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! Pois sabiam os homens que ele fugia da presença do SENHOR, porque lho havia declarado. 11 Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso. 12 Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade. 13 Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra, mas não podiam, porquanto o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso contra eles. 14 Então, clamaram ao SENHOR e disseram: Ah! SENHOR! Rogamos-te que não pereçamos por causa da vida deste homem, e não faças cair sobre nós este sangue, quanto a nós, inocente; porque tu, SENHOR, fizeste como te aprouve. 15 E levantaram a Jonas e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria”.

 

Veja aqui o aconteceu com o profeta Jonas? Temos aqui a história de sua angústia diante do problema desafiante que o Senhor lhe lançou. Sofrendo com o que lhe poderia acontecer ao pregar a uma cidade estranha a mensagem que Deus tinha para ela, JONAS embarca em um navio em direção contrária.

 

O restante da história todos nós sabemos. As consequências de sua fuga foram extremamente negativas para ele, até que o Senhor foi ao seu encontro, tirou-o do fundo do mar em que afundara, e lhe deu uma nova oportunidade.

 

Não podemos fugir do sofrimento, não podemos driblá-lo ou ocultá-lo em nosso viver!   Não podemos fazer, como muitos sugerem, uma simulação de vida normal e alegre, quando no fundo o seu coração está em frangalhos por algo que o atormenta e acusa.

 

Devemos Enfrentar o problema de frente:

 

- Confessar o erro, se for este o problema;

- Enfrentar o tratamento médico, se for esta a receita;

- Fazer contato com nossos credores e programar o acerto de contas;

- Sentar e pedir perdão a quem ofendemos ou magoamos;

- Chorar a perda e a tristeza da partida do ente querido, guardá-lo na saudade, e seguir em frente, inclusive para honrar sua memória. 

 

Enfim, o que não pode acontecer com você é “embarcar em um navio para Tarsis”, quando o Senhor esta querendo você em Nínive!!!

 

 

III. TERCEIRA REAÇÃO NEGATIVA AO SOFRIMENTO – ESCONDER-SE

 

“Às vezes as pessoas não fogem dos problemas, como no caso de Jonas, mas procuram esconder-se, camuflar-se. É mais ou menos como a figura do avestruz que, para não ver o perigo, enfia a cabeça na areia. Os discípulos de Jesus fizeram isto! Veja no Evangelho de Mateus 26.47-56, “47 Falava ele ainda, e eis que chegou Judas, um dos doze, e, com ele, grande turba com espadas e porretes, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. 48 Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o. 49 E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. 50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam. 51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, sacou da espada e, golpeando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. 52 Então, Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. 53 Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? 54 Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder? 55 Naquele momento, disse Jesus às multidões: Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias, no templo, eu me assentava convosco ensinando, e não me prendestes. 56 Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram”.

 

Temos aqui a história da prisão de Cristo que termina de forma triste e melancólica, informando que todos os seus discípulos desapareceram, esconderam-se na mata ao redor de Getsêmani.

 

E além deste texto, O evangelista Lucas no capítulo 23.49, nos informa que diante da crucificação de Cristo, “todos os conhecidos de Jesus, e as mulheres que o haviam seguido desde a Galileia, estavam de longe vendo estas coisas”.  Esconderam-se!

 

O cristão não pode esconder-se diante do sofrimento. Não pode olvidá-lo (esquecê-lo) como se ele não existisse. Como podemos nos esconder do sofrimento?

 

- Se o motivo da tristeza é algum relacionamento rompido, simplesmente não podemos desaparecer diante da pessoa atingida ou que nos atingiu;

- Se é algum desenlace negativo com o filho ou filha, pai ou mãe, irmão ou irmã, tornar-se indiferente diante deles não mudará a situação;

- Se é o trauma da morte de algum ente querido, passar e querer a viver como se ele estivesse ainda presente, sem enfrentar as mudanças necessárias, não vão contribuir para nada.

 

O estudiosos da psique humana afirmam que este comportamento pode ser gerador de traumas e mesmo reações extremadas no futuro, simplesmente porque se procurou conviver com o problema sem solucioná-lo, tentando esconder-se ou escondê-lo, enquanto ele pode estar gerando um temporal maior no futuro.

 

 

IV. QUARTA REAÇÃO NEGATIVA AO SOFRIMENTO – FALTA DE FÉ

 

É impressionante o que lemos em Êxodo 14.8-14, “8 Porque o SENHOR endureceu o coração de Faraó, rei do Egito, para que perseguisse os filhos de Israel; porém os filhos de Israel saíram afoitamente. 9 Perseguiram-nos os egípcios, todos os cavalos e carros de Faraó, e os seus cavalarianos, e o seu exército e os alcançaram acampados junto ao mar, perto de Pi-Hairote, defronte de Baal-Zefom. 10 E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR. 11 Disseram a Moisés: Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? 12 Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto. 13 Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. 14 O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis”.

 

O povo de Israel havia acabado de assistir coisas maravilhosas ocorrerem em seu favor, pela instrumentalidade de Moisés e a operação do Senhor. Um cativeiro de 430 anos havia terminado. Faraó com todo o seu poder haviam sido derrotados. Levavam eles, os despojos retirados do povo egípcio como pagamento pelo trabalho escravo durante aqueles anos.  A prova de amor de Deus dirigindo o povo, já no início da jornada, estava patente na nuvem que guiava durante o dia e no fogo que iluminava a caminhada noturna.

 

Ainda assim, diante do primeiro sinal de perigo, do primeiro indicador de medo e pânico, este mesmo povo tão abençoado dá uma demonstração imensa de falta de fé e confiança no Senhor que o guardava. Reclamam de Moisés, indagam o porquê os tinha tirado do Egito.  E ironicamente criticam Moisés dizendo: “Seria melhor a gente ter morrido lá no Egito...”

 

Diante do primeiro sintoma de problema, a falta de fé e confiança nos aniquilaram e os abateram.  O povo reage negativamente ao sofrimento pela sua incredulidade!

Na vida cristã não podemos enfrentar o sofrimento desta forma. Diante da dificuldade e da dúvida, nosso primeiro impulso há que ser o de confiar em Deus!  Esperar suas promessas.  Aguardar a providência DELE.   Fazer a nossa parte, fazer o que nos compete, e orar para que ELE conduza todo o processo e a vitória seja alcançada. Quando o povo clamou, o Senhor apenas disse a Moisés: “DIGA AO POVO DE ISRAEL QUE MARCHEM!”.

 

 

V. QUINTA REAÇÃO NEGATIVA AO SOFRIMENTO – O DESEJO DE MORRER

 

Um dos momentos mais marcantes da vitória de um profeta de Deus sobre o sofrimento foi o de ELIAS.   O que aconteceu no Monte Carmelo (ou seja, a vitória sobre os 450 profetas de Baal), foi sem dúvida, uma das maiores comprovações do poder de Deus na vida de seu servo diante do sofrimento!

 

Entretanto ELIAS pagou um preço para conquistar sua vitória. Jezabel, a esposa pagã de Acabe, desejou a vingança e começou seu trabalho de perseguição a Elias.  Bastou ela iniciar seu trabalho de vingança e Elias, o grande vitorioso de Carmelo saiu em fuga, abatido e vencido, desejando morrer. 

 

O livro de 1 Reis 19.1-7 registra a narrativa deste triste momento: “1 Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito e como matara todos os profetas à espada. 2 Então, Jezabel mandou um mensageiro a Elias a dizer-lhe: Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles. 3 Temendo, pois, Elias, levantou-se, e, para salvar sua vida, se foi, e chegou a Berseba, que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço. 4 Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte e disse: Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais. 5 Deitou-se e dormiu debaixo do zimbro; eis que um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come. 6 Olhou ele e viu, junto à cabeceira, um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. 7 Voltou segunda vez o anjo do SENHOR, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo”.

 

O cristão não pode proceder assim.  Diz o ditado que “enquanto há vida, há esperança”.  Para o cristão o significado deste ditado é muito mais profundo, porque o cristão sabe que mesmo depois da morte, para nós há vida e esperança.  A vida não termina com a morte, mas começa exatamente aí.

 

Sentar e aguardar a morte foi um deslize na vida do profeta que, diante de uma nova prova de sofrimento e angústia, esqueceu-se do poder do Senhor que esta por trás dele. Tanto é que a Palavra de Deus nos diz que o SENHOR vai levar Elias até Horebe, vai falar com ele, e Elias vai sair dali revigorado e pronto para enfrentar novos desafios na vida.

 

 

CONCLUSÃO

 

O que nos compete como cristãos é reagir com coragem e resistência ao sofrimento.  Sabemos que isto não é fácil!  Fica inclusive muito difícil e injusto julgar como os outros reagem às difíceis provas em suas vidas.

 

Cada um de nós, no fundo do seu coração e nos seus exames íntimos com o Senhor, sabe o quanto lhe custa enfrentar tais momentos.

 

No entanto, o que podemos afirmar pelo que a Bíblia nos ensina é que diante do sofrimento, não cabe apenas sentar e chorar, fugir ou esconder-se, perder a fé ou desejar a morte, mas sim, confiar em Deus e, redobrar o ânimo e seguir em frente.