Relato de um médico francês Dr.
Barbet, professor-cirurgião, sobre a agonia de Jesus Cristo, reconstituindo as
dores sofridas por Ele, em nosso lugar.
Pr. José
Antônio Corrêa
Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi
em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.
Posso, portanto, escrever sem presunção a respeito de morte, como a de Jesus.
“Jesus entrou em agonia no Getsêmani e
seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra”. O único
evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um
clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo. É
produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza
física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda
emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se
carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão
extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as
glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele,
e então escorre por todo o corpo até a terra.
Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o
envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes.
Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados
despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação
se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de
chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado,
e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por
milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se
rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As
forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira e vem uma
vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse
preso no alto, pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.
Depois do escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros
que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam
sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar
(os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão
feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o
grande braço horizontal da cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical
já está plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas
ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o puxam com as
cordas. O percurso é de cerca de
O sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas, as suas
chagas se incrustam de pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da
cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca é feito um furo na
madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um
longo prego pontudo e quarado), apóiam-no sobre o pulso de Jesus, com
um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve
ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se
imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que
se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor
mais insuportável que o homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão
dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência.
Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso
permanece em contato com o prego, quando o corpo é suspenso na cruz, o nervo
esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada
solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um
suplício que durará três horas.
O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam
Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente
fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Os ombros da vítima
esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande
coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente,
uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira.
Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas
de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde
anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio
inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode
engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma
esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma
tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos
dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides,
os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém
ferido de tétano. A isto que os médicos chamam titânia, quando os
sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis,
em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios.
A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas
não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar:
como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna
vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico.
Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem
esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem
fora de órbita. Mas o que acontece? Lentamente com um esforço
sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a
pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax
se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se
esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.
Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem”.
Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia
recomeça.
Foram transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na cruz: cada
vez que falou, elevou-se, tendo como apoio o prego dos pés. Inimaginável!
Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames
de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas Ele não pode enxotá-las.
Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a
temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura
três horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos
nervos medianos, lhe arrancam um lamento: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?”. Jesus grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num
grande brado diz: “Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito”. E morre.
E morre, no meu lugar e no seu. Não façamos dessa morte, que
trouxe nova vida a todos nós, uma morte sem nexo. Está em você, dentro de
você o espírito de Jesus.
Ame-o e glorifique-o todos os dias da sua vida.