RESTAURAÇÃO DO POVO DE DEUS

IS 1.10-20

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

 

1. Vimos na semana passada como nosso comportamento errado como povo de Deus pode nos levar a uma vida envolvida pelo pecado, o que nos trará sérios prejuízos em nossa caminhada terrena. Quando caminhamos erradamente, podemos: a) prevaricar; b) desprezar o conhecimento de Deus; e c) abandonar ao Senhor.

 

2. Quando isso acontece certamente nossa vida espiritual será grandemente enferma – “Toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo”, v. 5; “Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo”, v. 6; - e nossos inimigos alcançarão vantagens sobre nós - “7 A vossa terra está assolada, as vossas cidades, consumidas pelo fogo; a vossa lavoura os estranhos devoram em vossa presença; e a terra se acha devastada como numa subversão de estranhos. 8 A filha de Sião é deixada como choça na vinha, como palhoça no pepinal, como cidade sitiada. 9 Se o SENHOR dos Exércitos não nos tivesse deixado alguns sobreviventes, já nos teríamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra”, vs. 7-9. Por isso há necessidade de corrigirmos nosso comportamento, para sermos vitoriosos.

 

3. Hoje vamos ver quais as possibilidades que temos para corrigir nosso comportamento, nos tornando agradáveis e úteis a Deus. Quando assim estamos, precisamos de uma restauração! VEJAMOS ALGUNS PASSOS INDISPENSÁVEIS NUMA RESTAURAÇÃO:

 

 

I. VOLTAR À PALAVRA DE DEUS

Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus”.

v. 10

 

1. O abandono da Palavra de Deus tem sido o maior desastre na vida espiritual de seu povo. Quando assim acontece, começamos recorrer a outras fontes de direção. Substituímos o conselho de Deus pelo conselho do homem e consequentemente pelo conselho do diabo. Preocupado com esta posição do povo de Deus, da qual ele mesmo foi vítima, Salomão disse: “Não havendo profecia, o povo se corrompe...”, Pv 29.18.

 

2. No presente texto o profeta, pela boca do Senhor adverte ao povo: “Ouvi a Palavra do Senhor... prestai ouvidos à lei de Deus”. Precisamos nos alimentar da Palavra de Deus, pois só assim nosso comportamento errado será substituído pela obediência e prática do conselho de Deus. Sobre esse assunto Jeremias nos dá uma receita importante: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos”, Jr 15.16.

 

3. Depois de apanhar e ser envolvido em vários enredos diabólicos, Davi chega a algumas conclusões práticas acerca da Palavra de Deus:

 

a)      Ela deve dirigir nossos caminhos, “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos”, Sl 115.105.

b)      Arquivada no coração ela é proteção contra o pecado, “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti”, Sl 119.11.

c)      Para o jovem ela é a segurança de uma vida de santidade, “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra”, Sl 119.9.

 

4. Para sermos restaurados, não podemos negligenciar os ensinos e a prática da Palavra de Deus.    

 

 

II. RECONHECER QUE NOSSAS PRÁTICAS CULTUAIS NÃO ESTÃO AGRADANDO A DEUS

De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? - diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes”.

v. 11

 

1. Não há coisa que mais aborrece a Deus do que um culto cheio de lero-lero, mas sem vida! Na sequencia do texto podemos ver como Deus estava grandemente insatisfeito com as práticas cultuais de seu povo: “12 Quando virdes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? 13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene. 14 As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. 15 Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”, vs. 12-15.

 

2. Ao comparecermos perante o Senhor para adorá-LO, devemos fazê-lo, com todo envolvimento de alma e coração. Aliás, qualquer coisa que nos dispomos fazer para Deus deve ser desta maneira – “23 Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens. 24 cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”, Cl 3.23-24.

 

2. Deus sempre reclamou de seu povo um envolvimento sério em suas solenidades religiosas:

 

a)    Para Davi Deus preferia um “coração quebrantado” aos sacrifícios: “16 Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. 17 Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”, Sl 51.17-17.

b)   Amós profetisa que a misericórdia e o amor ao pobre eram mais importantes para Deus do que sacrifícios e holocaustos, “Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”, Os 6.6.

c)    De igual Isaías fala que um jejum desprovido da justiça social é abominável ao Senhor, “4 Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. 5 Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR? 6 Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?”, Is 58.4.

 

3. Em Atos 2 temos um exemplo de como devemos nos portar perante nosso Deus: “42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos”, At 2.42-43. Aos efésios Paulo transmite sua visão de um culto cheio de vida: “...falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais”, Ef 5.19.

 

4. Precisamos mais da vida de Deus em nossos cultos!

 

 

III. ESTARMOS DISPOSTOS A SER PURIFICADOS

Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal”

v. 16

 

1. A palavra purificar vem do termo hebraico “hkz - zakah”. Este termo tinha a ver com “tornar-se limpo”, “tornar-se puro”, “manter-se limpo”, “manter-se puro”. Somente se lava ou se purifica aquele que se sente sujo. É importante observar que todos aqueles que ministravam no Tabernáculo ou no Templo precisavam passar por um processo de lavagem ou purificação, para que pudessem se tornar aptos na presença de Deus – “12 Farás também chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água. 13 Vestirás Arão das vestes sagradas, e o ungirás, e o consagrarás para que me oficie como sacerdote”, Êx 40.12; ver também Nm 8.6: “Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os”. A lavagem com água simbolizava que aqueles homens imundos em sua condição de natural de pecadores, estavam se tornando “limpos”, “puros”, para comparecerem diante do Deus Santo.

 

2. No contexto do texto que estamos analisando, o povo de Deus estava sujo em razão do pecado; por isso a ordem: “purificai-vos”.  E isto se tornou símbolo para o tempo em que vivemos. Quando João afirmou que “o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7), tal afirmação vem nos mostrar que o pecado nos torna imundos, e que só há um meio de nos limparmos dele – o sangue de Cristo (“no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”, Ef 1.7). O pecado precisa ser tratado, extirpado, para que possamos ser salvos! Esta foi a exortação de Pedro a uma multidão de novos convertidos – “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”, At 3.19.

 

3. O verdadeiro filho de Deus que passou pelo novo nascimento já está limpo, e esta limpeza vem através da Palavra de Deus – “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado”, Jo 15.3. Cumpre a nós mantermos uma vida limpa, isenta de novos pecados, lembrando da recomendação do apóstolo João – “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1.10), porém, “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Manter-se limpo é uma exigência do Deus santo ao seu povo!

 

4. Sim busquemos a purificação de nossos pecados!

 

 

IV. PRATICAR A VERDADEIRA RELIGIÃO

Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas”

v. 17

 

1. A prática da verdadeira religião será uma vertente em evidência quando nossa vida em Deus for restaurada! Com certeza nos tornaremos mais sensíveis aos problemas sociais que envolvem nossa gente e os menos favorecidos. Observe que o povo precisava aprender a “fazer o bem”, para praticar uma justiça imparcial, condenar aqueles que oprimiam o pobre, além de defender o direito do órfão e a causa das viúvas. Só teremos sensibilidade a tais problemas quando praticarmos o amor de Deus, num relacionamento perfeito com Ele. Caso contrário, nosso coração permanecerá duro como pedra!

 

2. A atenção à causa social como sinônimo da verdadeira religião, é uma recomendação de Deus por toda sua Palavra:

 

a)    Os pobres: “10 Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos; 11 porém, no sétimo ano, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival”, Êx 23.10; “Abençoarei com abundância o seu mantimento e de pão fartarei os seus pobres”, Sl 132.15.

b)    Viúvas: “os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes sofrerão juízo muito mais severo”, Mc 12.40; “Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”, At 6.1.

c)    Estrangeiro: “33 Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis. 34 Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”, Lv 19.33-34; “Quando segardes a messe da vossa terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”, Lv 23.22.

d)    Órfão: “Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás a colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será”, Dt 24.20; “Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!”, Dt 29.19.

 

3. Veja agora a recomendação de Tiago: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”, Tg 1.27.

 

 

CONCLUSÃO: CONSEQUÊNCIAS

 

1) “Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra”, v. 19. Quando nos dispusermos a servir a Deus de “todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso entendimento e de toda a nossa força” (Mc 12.30), nossos pecados serão perdoados: “...ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”, v. 18. Certamente seremos uma classe diferenciada entre as pessoas de nossa cidade. Observe que o “melhor da terra” será nosso! Isso equivale a dizer: o melhor emprego, a melhor casa, o melhor carro, etc.

 

2) “Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse”, v. 20. Com certeza o contrário acontecerá com aqueles que se mantêm rebeldes para com o Senhor. Além de perdermos nossos bens – alvo da ação do devorador, seremos ainda odiados e perseguidos pelos nossos inimigos.