A Celebração da Ceia do Senhor

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Pr. José Antônio Corrêa

 

 

Quase todas as igrejas que proclamam seguir a Cristo observam a Ceia do Senhor.

 

O pão e o vinho (fruto da videira) são elementos comuns nas assembleias de adoração de vários grupos religiosos. Mas há diferenças no entendimento a respeito desta comemoração. Examinemos o que a Bíblia ensina sobre a Ceia do Senhor para aprendermos como devemos participar dela hoje em dia.

 

 

A Primeira Ceia: O Exemplo de Jesus

 

Quatro textos registram os pormenores da primeira “Ceia do Senhor”. Três destes relatos estão nos evangelhos (Mt 26.26-29; Mc 14.22-25 e Lc 22.19-20) e o outro está em 1Co 11.23-26. Podemos aprender como Jesus e os apóstolos celebraram a ceia comparando estes relatos. Por favor, pare uns poucos minutos para ler cada uma destas quatro passagens, antes de continuar este estudo. Observe as minúcias:

 

 

1. O propósito

 

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19, “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim”). A Ceia do Senhor é nossa oportunidade para lembrar o sacrifício que Jesus fez na cruz, pelo qual ele nos oferece a esperança da vida eterna: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”, 1Co 11.26.

 

A Ceia do Senhor não pretende ser um memorial do nascimento, da vida ou da ressurreição de Cristo. É um momento especial no qual os cristãos refletem sobre o Salvador para serem lembrados do alto preço que ele pagou por nossos pecados. Precisamos manter este tema central do evangelho em nossas mentes:

 

1Co 2.1-2, “1 Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. 2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”.

 

 

2. Os símbolos

 

Jesus usou dois símbolos para representar seu corpo e seu sangue.

 

É claro que ele não ofereceu literalmente seu corpo (que ainda estava inteiro) nem seu sangue (que ainda estava correndo através de suas veias). Ele deu aos discípulos pão para representar seu corpo e o vinho (fruto da videira) para representar o sangue que estava para ser derramado na cruz.

 

Ele não deixou dúvida sobre a relação deste sacrifício com nossa salvação: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados”, Mt 26.28.

 

 

3. A ordem

 

Quando comparamos estes quatro relatos, podemos também ver a ordem na qual a ceia foi observada.

 

Jesus primeiro orou para agradecer a Deus pelo pão e então todos o partilharam. Ele orou de novo para agradecer ao Senhor pelo cálice, e todos beberam dele. Deste modo, ele chamou especial atenção para cada elemento da ceia.

 

 

A Ceia do Senhor na Igreja Primitiva

 

O livro de Atos e as cartas escritas às igrejas nos ajudam a aprender um pouco mais sobre a Ceia do Senhor. Os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana para participarem da ceia, At 20.7, “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite”.

 

Esta ceia era entendida como um ato de comunhão com o Senhor, 1Co 10.16-22, “16 Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. 18 Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? 19 Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? 20 Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. 21 Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. 22 Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?

 

Era tomada quando toda a congregação se reunia, como um ato de fraternidade entre os irmãos, 1Co 11.17-20, “17 Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior. 18 Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio. 19 Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio. 20 Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis”.

 

Cada cristão era obrigado a examinar-se a si mesmo para ter a certeza de que estava participando da ceia de um modo digno, 1Co 11.27-31, “27 Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; 29 pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 30 Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. 31 Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”.

 

 

Observações sobre a Ceia do Senhor

 

Ainda que o ensinamento da Bíblia sobre a Ceia do Senhor não seja complicado, muitas diferenças de entendimento apareceram depois do tempo do Novo Testamento. O único modo de sabermos que estamos seguindo o Senhor é estudar as instruções e imitar os exemplos que encontramos no Novo Testamento. Nunca estamos livres para ir além do que o Senhor revelou na Bíblia:

 

Cl 3.17, “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”.

 

1Co 4.6, “Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro”.

 

2Jo 9, “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho”.

 

Consideremos o que a Bíblia diz em resposta a algumas questões sobre a Ceia do Senhor.

 

Porque pão? Jesus instituiu na ceia do Senhor durante os dias judaicos dos pães asmos, uma festa anual na qual somente pão sem fermento era permitido entre os judeus:

 

Lc 22.15, “E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento”.

 

Êx 12.18-21, “18 Desde o dia catorze do primeiro mês, à tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e um do mesmo mês. 19 Por sete dias, não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado será eliminado da congregação de Israel, tanto o peregrino como o natural da terra. 20 Nenhuma coisa levedada comereis; em todas as vossas habitações, comereis pães asmos. 21 Chamou, pois, Moisés todos os anciãos de Israel e lhes disse: Escolhei, e tomai cordeiros segundo as vossas famílias, e imolai a Páscoa”.

 

Podemos apreciar mais claramente o significado do pão sem fermento quando consideramos o significado simbólico do fermento na Bíblia. Não era permitido fermento nos sacrifícios oferecidos a Deus, no Velho Testamento, Lv 2.11, “Nenhuma oferta de manjares, que fizerdes ao SENHOR, se fará com fermento; porque de nenhum fermento e de mel nenhum queimareis por oferta ao SENHOR”.

 

A ideia de impureza ou pecado é claramente associada com fermento em vários textos. Por exemplo:

 

Jesus usou fermento para falar simbolicamente de falsas doutrinas, Mt 16.11-12, “11 Como não compreendeis que não vos falei a respeito de pães? E sim: acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. 12 Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus”.

 

Paulo usou fermento para representar falsa doutrina e corrupção moral:

 

Gl 5.7-9,13,16, “5 Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. 6 Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. 7 Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos chama. 9 Um pouco de fermento leveda toda a massa. 13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. 16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”.

 

 

1Co 5.6-10, “6 Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? 7 Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. 8 Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade. 9 Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; 10 refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo”.

 

É plenamente adequado, então, que o sacrifico perfeito e sem pecado do próprio Filho de Deus seja representado por pão sem fermento: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebramos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”, 1Co 5.7-8.

 

 

Quando devemos observar a Ceia do Senhor?

 

Jesus mostrou aos seus discípulos como participar deste memorial, mas não especificou exatamente o quando. Aprendemos quando os primeiros cristãos observaram a ceia pelo exemplo dos discípulos em Trôade: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão”, At 20.7. Quando seguimos este exemplo e participamos da Ceia do Senhor todos os domingos, relembramos frequentemente o sacrifício que Jesus fez por causa de nossos pecados.

 

Quando meditamos sobre o Salvador no domingo, é mais fácil resistir a tentações durante o resto da semana.

 

Quando entendemos o alto preço que Jesus pagou por nossos pecados, esforçamo-nos para evitar qualquer coisa que possa magoá-lo e tornar vão seu sacrifício, Hb 10.24-31, “24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. 25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. 26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; 27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. 28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. 29 De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? 30 Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. 31 Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”.

 

 

Onde devemos participar da Ceia?

 

A Ceia do Senhor é um ato de comunhão entre cada cristão e o Senhor, e é também um ato de comunhão entre cristãos:

 

Em Atos 20.7, os discípulos se reuniam para partir o pão.

 

Em 1Co 11.20-22 se distingue entre a Ceia do Senhor, que era o propósito de sua reunião como uma congregação, e as refeições comuns, que eram tomadas nas casas de cristãos. Não encontramos nenhuma autoridade na Bíblia para participar da Ceia do Senhor a sós ou fora da assembleia da igreja.

 

 

Quem tem o direito de tomar a Ceia do Senhor?

 

A Ceia do Senhor é um ato espiritual partilhado pelo Senhor com aqueles que estão em fraternidade com ele. Jesus não ofereceu o pão e o cálice a todos, mas aos seus discípulos, Mt 26.26, “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo”.

 

Aqueles que não estão servindo a Deus não têm o direito de partilhar desta refeição com o Senhor, 1Co 10.16-22, “16 Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. 18 Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? 19 Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? 20 Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. 21 Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. 22 Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?”.

 

João nos conta que somos aptos a participar com Deus na comunhão espiritual somente se andarmos na luz do seu caminho: “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”, 1Jo 1.5-7.

 

Somente aqueles que já foram batizados no corpo de Cristo devem participar da Ceia do Senhor:

 

At 2.38, “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.

 

Gl 3.26-28, “26 Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; 27 porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. 28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

 

 

O que significa participar “indignamente”?

 

Cada um que participa da Ceia do Senhor deverá examinar-se para estar certo de que está participando de maneira correta, discernindo o verdadeiro significado do memorial: “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim, coma do pão e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”, 1Co 11.27-29.

 

A palavra “indignamente” é frequentemente mal entendida. Ela não descreve a dignidade da pessoa (ninguém é verdadeiramente digno de comunhão com Cristo). Esta palavra descreve o modo de participar. A pessoa que não leva a sério esta comemoração está brincando com o sacrifício de Cristo e está se condenando por não discernir o corpo de Cristo. Por esta razão, devemos ser muito cuidadosos cada vez que participarmos da Ceia do Senhor.

 

É imperativo que esqueçamos as preocupações mundanas e prestemos atenção exclusivamente à morte de Cristo.

 

Se tratarmos a Ceia do Senhor como um mero ritual, ou se a tomarmos levianamente e deixarmos de meditar no seu significado, condenamo-nos diante de Deus.