A PARÁBOLA DO RICO INSENSATO
Pr. Paulo Afonso
Ribeiro Costa
Pr. José Antônio
Corrêa
CONCEITO DE PARÁBOLA
O termo parábola significa
literalmente comparação. É fazer uma comparação. Os dois elementos
linguísticos que originam o termo (para + ballo) significam colocar junto;
colocar lado a lado; colocar uma coisa ao lado de outra para fins de
comparação.
A parábola é uma comparação extraída
da natureza ou da vida diária destinada a esclarecer verdades da esfera
espiritual. Ela por um lado oculta o ensino, e por outro o revela, dependendo
isso do tipo de ouvinte (Mt 13.11-16; Mc
4.11-12; Lc 8.10-11).
Para os indiferentes e refratários a
Deus e suas coisas, a parábola é apenas uma história, um relato de fatos reais
ou possíveis. Para os espirituais e sequiosos da verdade, ela revela os
mistérios do reino dos céus no seu aspecto atual (Mt 13.3-53).
No Novo Testamento somente Jesus
ensinou através de parábolas. Um terço do seu ministério de ensino consiste de
parábolas (Ver Mc 4.34).
A PARÁBOLA DO RICO INSENSATO
Texto Áureo: "Se as vossas riquezas
aumentam, não ponhais ela o coração" (Sl
62.10).
Verdade Prática: Nas propriedades da vida, as
pertencentes ao reino de Deus, devem vir primeiro, e depois as terrenas; do
contrário, Deus nos declara loucos a caminho da perdição.
Texto Bíblico Básico: Lc 12.13-20, "E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu
irmão que reparta comigo a herança. Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim
por juiz ou repartidor entre vós? E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da
avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E
propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido
com abundância; E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho
onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros,
e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os
meus bens; E direi a minha alma: Alma tem em depósito muitos bens para muitos
anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te
pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?".
COMENTÁRIO
PREFÁCIO
A parábola em estudo não é um libelo
à poupança, economia e a riqueza, quando tais coisas forem sensatas, legítimas,
justas, antes é um alerta contra a pobreza espiritual. A sabedoria espiritual
não é um sinônimo de insensatez e imprudência para com os valores terrenos,
porém, estes são sempre secundários em relação aos celestiais.
O mesmo versículo que diz: "Mas
buscai primeiro o reino de Deus", também diz: "e todas essas coisas
vos serão acrescentadas" (Lc 12.31).
E o que são "estas coisas"? São as provisões para as necessidades
desta vida, conforme Lc 12.22-30.
I. A OCASIÃO DA PARÁBOLA
Jesus encontrava-se agora na Pereia,
além do Jordão perante uma multidão de muitos milhares de ouvintes (Lc 12.1). Então surgiu uma pergunta
inoportuna (v.13) - um ouvinte
daquela massa humana, voltado apenas para os seus interesses, interrompeu o
Mestre com um pedido, envolvendo uma questão de direito civil: "Mestre,
dize a meu irmão que reparta comigo a herança".
Portanto, não é de hoje que o
ensinador cristão sofre com perguntas estranhas, impróprias e inoportunas de
pessoas desatentas, gananciosas e egoístas. Que tipo de ouvinte somos nós
durante a pregação, o ensino, o cântico, a oração, o diálogo, etc.? Quem não é
bom ouvinte, também não é bom falante.
Pelo ensino que Jesus ministrou a
seguir, através da parábola em apreço, vamos ver que este homem não tinha
direito à herança pretendida. Ele estava dominado pela cobiça e egoísmo.
Tratava-se de dois irmãos. A Lei, à época (mosaica), determinava que o
primogênito, na herança, recebesse porção dupla (Dt 21.17). O restante da herança era repartida proporcionalmente
entre os demais irmãos.
Talvez este homem, não sendo o
primogênito, quisesse porção igual, por cobiça. A resposta de Jesus (v.14) - Jesus muitas vezes
respondia uma pergunta com outra pergunta. Ele mostrou-lhe que não veio tratar
de causas seculares, direito civil, magistratura, etc. Isto é competência das
autoridades civis legalmente constituídas.
Aqui temos uma lição para os
ministros do Senhor, chamados para cuidar dos seus negócios; das coisas
espirituais; não das seculares. Aquele homem não estava a par da missão do
Senhor, nem das suas atribuições.
Um dia, sim, virá o Senhor para reger
esta terra e durante o milênio, quando então maus inquilinos terão que obedecer
às suas justas leis ou perecerão. Então "de Sião sairá a lei, e de
Jerusalém (A nova Jerusalém) a Palavra do Senhor. E Ele exercerá o seu juízo
sobre as gentes, e repreenderá a muitos povos" (Is 2.3-4).
Aquele homem estava ouvindo o Senhor
falar, mas o seu pensamento estava muito longe, noutras coisas. Ele perdeu a
benção de apropriar-se da doutrina do Senhor. Isto acontece ainda hoje na
Igreja. Muitos ouvem a Palavra de Deus, mas nada entendem porque não prestam
atenção, estando seu coração ocupado com as coisas deste mundo (Ver Fp 3.19).
II. UMA SÉRIA ADVERTÊNCIA
Após responder com uma pergunta
àquele homem, Jesus dirige-se novamente à multidão, advertindo solenemente a
todos sobre a insensatez da cobiça. A avareza e cobiça formam um só termo no
original. Ele é traduzido cobiça ou avareza conforme o contexto,
sendo que avareza está ligada principalmente a dinheiro. Desejo incontido de
conseguir e acumular riquezas inclusive alheias. Já a cobiça tem a ver
diretamente com o que é dos outros.
Um dos mandamentos da lei ocupa-se
deste pecado múltiplo (Êx 20.17).
1. O infame pecado da cobiça pode envolver:
a) Bens materiais, como em Lc 12.15 e 2Co 9.5;
b) Sensualidade (Ef 4.19). "Avidez" é no original cobiça;
c) Idolatria (Cl 3.5). A coisa cobiçada torna-se uma
paixão, uma obsessão, um ídolo;
d) Defraudar, aproveitar-se, lesar aos
outros (2Co 7.2; 1Ts 4.6; 2Co 12.17-18).
É preciso dupla cautela contra a
sutileza deste tipo de pecado. Isto vemos nas palavras de Jesus: "acautelai-vos e guardai-vos da
avareza". Noutras palavras: é preciso estar sempre alerta e ao
mesmo tempo reforçar os pontos fracos.
2. Do contrário o vírus deste pecado nos contaminará, por que:
a) É um pecado traiçoeiro. Enquanto alguns pecados são
notadamente externos e de fácil identificação, o da cobiça é interno, podendo
ocultar-se sob a falsa moralidade, trabalho, sobriedade, decência e
ordem.
b) É um pecado que origina outros. Ele abre caminho para a trapaça, a desonestidade, e negócios escusos.
c) É um pecado que leva à perdição (Ef 5.3,5). O termo avareza é o mesmo que cobiça.
d) É uma forma de idolatria (Cl 3.5).
e) O mau exemplo de Israel (Jr 6.13; Mq 3.11).
Em que consiste a vida (v.15). "A vida de qualquer não consiste
na abundância do que possui." O glutão diz que a vida consiste em comer e
beber; o capitalismo acha que a vida está no dinheiro. O mundano acha que a
vida está no prazer carnal. Outros afirmam que a vida está na fama, na
autoridade, no prestígio e na posição.
Bem sabemos que a verdadeira vida
flui em nós através da nossa comunhão com Cristo. Ele disse: "Eu sou a
videira, vós as varas" (Jo 15.5).
A vara vive porque está ligada ao tronco e dele recebe vida. "Cristo vive
em mim" (Gl 2.20). Este é o significado
da vida para o crente.
III. UMA INSENSATA DECISÃO
Aqui temos a parábola em si. Ela revela o egoísmo e
a cobiça que havia no indagador (vv.13,14). Agora
Jesus através de uma parábola amplia o assunto, concentra
a atenção daquela massa e alcança todos ali com os seus santos ensinos, os
quais chegam até nós neste momento mediante as Santas Escrituras.
1. O Homem Rico (v.16). Aqui temos um homem rico, tendo uma
rica terra, com uma rica colheita. Podemos dizer que uma pessoa é rica partindo
dos nossos conhecimentos, deduções, conclusões e observações, podendo essa
pessoa viver em apertos apesar de ser tida e conhecida como rica. Imaginai quão
rico não era esse homem, assim declarado por Jesus. Ele não foi insensato, nem
declarado "louco" porque era rico, mas porque nada tinha no
céu.
2. A Prodigiosa Colheita (vv. 17-19). Tudo leva a
crer que tão rendosa e farta colheita foi tão-somente resultado da mão de Deus
abençoando a terra, a semente plantada, o clima e os grãos e frutos produzidos.
Este rico não é acusado aqui de tomar terra e outras coisas do vizinho, nem de
explorar os trabalhadores, nem lesar o governo nos tributos, nem enganar o
comprador de seus produtos, nem de imoralidade, nem de usar o poder e a
influência da riqueza para manipular a sinagoga local e os seus sacerdotes.
Não. A generosa mão de Deus abençoara seus esforços. Esta passagem (vv. 17-19) também nos ensina que
sucesso nesta vida nem sempre quer dizer que a pessoa esteja bem diante de
Deus. Este rico prosperava, mas diante de Deus estava mal, Jacó também
prosperava muito com os seus rebanhos, mas precisava de um encontro com Deus em
Jaboque para mudar a sua vida de trapaças (Gn
30.43; 32.27-30).
3. A Aparente Sabedoria. Este rico da parábola parecia sábio
aos olhos do mundo, mas diante de Deus ele era um alucinado porque deixara Deus
fora de seus planos e na previa para outra vida, que é eterna, ao passo que
esta é tão incerta e passageira, como vemos no v.20. Na Igreja, hoje, repete-se a história deste rico insensato.
Muitos irmãos, ao melhorarem de situação, em lugar de humildemente buscarem
mais ao Senhor e manterem o altar da vida espiritual sempre renovado e aceso,
preferem o contrário. Jesus, para eles, torna-se um ser histórico mas não
presente. A Bíblia passa a ser uma simples decoração. O culto passa a ser uma
tradição e um costume. A obra de Deus fica esquecida, sendo lembrada apenas em
momentos de grande necessidade.
IV - OS ERROS DO HOMEM RICO
"Mas Deus lhe disse: Louco"
(v.20). Já vimos que Deus não o
chamou de louco porque era rico. Por outro lado ninguém é sábio por ser pobre.
A riqueza em si não leva a perdição, assim como a pobreza sem si não leva à
salvação.
Multidões de ricos, magistrados,
potentados, autoridades e líderes são humildes servos de Jesus. Multidões de
pobres não querem seguir a Jesus. Um rico sem salvação é um pobre mendicante
diante de Deus. Um pobre que desfruta a salvação é infinitamente rico em
relação ao céu.
Quais foram então os erros do homem rico?
1. v.17 - Ele deixou Deus fora dos seus
planos, e nada lhe agradeceu. "Arrazoava consigo
mesmo", diz o texto. Vemos aqui que Deus não fazia diferença em sua vida.
Ele era autossuficiente, até que um dia ele foi chamado à presença do Dono de
tudo!
2. vv. 17-19 - Ele pensava que era dono de
tudo o que tinha. Entre a sua pergunta: "Que
farei?" e a sua própria resposta "Farei isto", há cinco vezes o
possessivo "meu": 1) Meus frutos; 2) Meus celeiros; 3) Minhas
novidades; 4) Meus bens; 5) Minha alma. Falou tanto de si, mas nada de
Deus.
3. vv.18,19 - Ele não teve qualquer
consideração pelo próximo. Ele mostrou aqui que o único lugar
para colocar seus produtos era nos celeiros. Nem lhe passava pela mente mitigar
o sofrimento dos necessitados. Sempre teremos pobres na terra e Deus ordena
que os ajudemos (Dt 15.7-15; Jo 12.8a).
Não pensou em sinagogas para construir ou reparar, em sacerdotes, levitas,
pobres, órfãos e viúvas para sustentar.
4. v.19 - Ele estava seguro de que ia viver
muito. "Muitos anos", disse ele. Ninguém sabe
quantos anos vai viver, por isso não se deve adiar a questão da salvação, seja
quem não conhece a questão da salvação, seja quem não conhece a Jesus,
seja o desviado que precisa reconciliar-se com Deus, hoje. A Bíblia diz:
"Eis aqui agora o dia da salvação" (2Co 6.2). Cada leitor desta mensagem deve ter garantido o seu
seguro de vida com Jesus.
5. v.19 - Ele criou sua própria teologia
errônea. Ele falou em sua "alma" duas vezes,
porém referindo-se ao corpo. "Tens em depósito muitos bens para muitos
anos; descansa, come, bebe e folga." Isso tem a ver com o corpo, não
com a alma. Essas coisas não alimentam a alma, e sim o corpo. Hoje temos os que
mutilam a Bíblia a seu gosto para adaptá-la às suas conveniências.
Ele deve ter aprendido isso com os filósofos
epicureus, os quais ensinavam que o prazer é a causa fundamental de todas as
ações humanas. Hoje temos seguidores desta maldita filosofia, os quais por
causa do prazer (geralmente pecaminoso) sacrificam todos os valores
espirituais, morais, éticos e estéticos.
6. vv.18-19 - Ele errou nas prioridades da
vida. Sua escala de valores estava invertida. Os que
ele estabeleceu como os primeiros deviam ser os últimos: Farei - Derribarei -
Edificarei - Recolherei - Direi. Não há aqui prioridades espirituais (Ver Mt 6.33).
Quais são, leitor, as prioridades da
tua vida, pela ordem?
V. O VEREDITO DIVINO
Enquanto o rico insensato mentaliza o
seu futuro com celeiros maiores, colheita armazenada, descanso garantido,
comida, bebida e lazer assegurados por muitos anos, a morte já se aproximava
para conduzi-la à eternidade. E agora, o que seria de sua alma que fora
negligenciada, e dos seus bens acumulados aqui?
1. Coisas que Deus disse (vv. 20-21) - Há milhares de coisas faladas por Deus na sua Palavra, direta e
indiretamente, sobre tudo o que é de interesse do homem. A Bíblia está repleta
da declaração "Assim diz o Senhor" e "Diz o Senhor", e
outras expressões equivalentes. O homem precisa saber o que Deus disse sobre
tudo o que lhe diz respeito: Deus disse "Louco"; Deus disse:
"Esta noite de pedirão a tua alma"; Deus disse: "E o que tens
preparado para quem será?" Eis uma das razões porque Deus o chamou de
louco: ele preparou-se em tudo mais, menos para encontrar-se com o Senhor (Am 4.12).
2. Ricos para Deus (v.21). No sermão do monte Jesus ensinou: "Mas ajuntai tesouros no
céu", e acrescentou: "Porque onde estiver o vosso tesouro estará
também o vosso coração" (Mt 6.20-21). O rico da parábola era paupérrimo diante de
Deus.
3. Como podemos ser ricos espiritualmente?:
a) Com a esperança da graça divina (2Co 8.9);
b) Exercitando a fé em Deus (Tg 2.5);
c) Praticando boas obras como expressão do
Evangelho (1Tm 6.18);
d) A humildade e o temor de Deus (Pv 22.4);
e) A inteligência espiritual (Cl 2.2);
f) A benção do Senhor (Pv 10.22);
g) O bom nome (Pv 22.1);
h) Ser filho de Deus (Rm 8.17; Mt 25.34);
i) Ser vencedor por Cristo (Ap 21.7).
Bom proveito, queridos irmãos em
Cristo.