AS EXIGÊNCIAS DO REINO

Pontos Salientes, 2Trim, Ano 1994

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Texto Bíblico: Mateus 7.10; 18;

Texto Básico: Mateus 7.1-5, 13, 14, 17-29; 18.15-35;

Texto Áureo: Mateus 7.13.

 

LEITURAS DIÁRIAS:

Segunda: Mateus 7.1-5;

Terça: Mateus 7.13-23;

Quarta: Mateus 7.24-29;

Quinta: Mateus 10.1-22;

Sexta: Mateus            10.23-33;

Sábado: Mateus 10.34-42;

Domingo: Mateus 18.22-35.

 

Este estudo, juntamente com os dois últimos, está baseado no Sermão do Monte, que Jesus ministrou aos discípulos como uma instrução sobre os valores que deveriam fazer parte da vida dos súditos do Reino de Deus. São verdadeiras diretrizes para o discipulado. Hoje falaremos das exigências que o novo Reino faz aos súditos para que eles estejam atentos:

- contra o juízo temerário (7.1-5);

- no relacionamento com Deus (7.7-12);

- contra o caminho fácil (7.13, 14);

contra os falsos profetas (7.15-20);

na escolha da atitude certa em relação a Jesus (7.21-23);

e na edificação sobre a base certa (7.24-27).

 

A exigência do Reino exige resposta direta, não existindo, portanto, meio termo. Ou é sim, ou é não!

 

A LIÇÃO NA BÍBLIA

 

Mateus 7.1-5 - Cuidado contra o juízo temerário

 

A pergunta deste texto: é permitido julgar? Dependendo do que se entende por “julgar”, a resposta será sim ou não. Se o sentido for o de julgar pelas aparências, baseado no que se ouviu dizer, a resposta é não. Se, porém, for, de acordo com o sentido da palavra grega para “julgar”, que significa “crítica à luz de todas as evidências”, então a resposta será sim. Jesus não condena um juízo crítico que alguém possa exercer para escolher entre o bem e o mal, mas o tipo de julgamento que se parece mais com “condenação”.

 

Constantemente as pessoas estão olhando para as outras e “condenando” o que elas fazem. Essa é uma função de juiz. Eis algumas razões por que não devemos ser juízes:

1. somos falíveis no julgamento, pois o fazemos pela aparência e com infor­mações de segunda mão;

2. somos pecadores como os outros e sujeitos aos mesmos erros; partilhamos da mesma natureza pecaminosa e não temos condições de ser os “supercrentes” (7.3);

3. nosso julgamento é parcial; o preconceito e o legalismo atra­palham nosso senso de julgamento justo;

4. E se formos juízes, tomaremos o lugar de Deus (Rm 14.4; 1Co 4.4, 5). O juízo pertence ao Senhor.

 

O juízo a que Jesus se refere não é a crítica honesta e construtiva, mas é a prática de “condenar” as pessoas com um juízo destituído de justiça e amor. O juízo crítico é estimulado por Jesus no próprio Sermão do Monte (7.15-23). Então concluímos que é permitido julgar desde que não sejamos juízes (7.1, 2).

 

E permitido julgar também desde que não sejamos hipócritas (7.3, 4). “Trave” e “argueiro” significam “tábua” e “cisco”, respectivamente. Enquanto o que é julgado tem um cisco no olho, o que julga tem uma tábua, isto é, erros bem maiores do que o que está sendo julgado. Isso é hipocrisia! E um vício, como bem diz A. B Bruce: “Vício farisaico de exaltarmo-nos amesquinhando os outros: um modo muito baixo de obter superioridade moral”. Isso pode ser ilustrado pela parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14).

 

É permitido julgar desde que sejamos irmãos (7.5). Só quando somos realmente irmãos é que temos condições de ajudar (melhor que julgar!) o outro no seu erro (veja Mt 18.15-35). Jesus não nos estimula a deixar de ver o “argueiro”, pois temos a respon­sabilidade de mudar o irmão a tirar o cisco que atrapalha sua visão espiritual (Gl 6.1). Podemos nos mudar mutuamente, corrigindo nossas falhas.

 

Mateus 7.13-14 - Cuidado contra o caminho fácil

 

O que Jesus tenta fazer aqui é uma advertência contra o caminho fácil. O apelo de Jesus à decisão aqui é mais incisivo e direto.

 

Existem dois caminhos:

 

O primeiro é espaçoso e confortável: o caminho das facilidades, onde o homem dá lugar aos seus desejos impuros e morais. Não existem regras nem limites para a satisfação dos apetites.

 

O segundo caminho é apertado, estreito, difícil para a caminhada. É o caminho da autonegação (Mt 16.24), da cruz, da identificação com Cristo (Mt 16.21, 24), da perse­guição (Mt 5.10-12), da tentação (Mt 6.13; 26.41). Um caminho no qual precisamos entregar nossas vidas e inclinações ao Senhor, que é o próprio Caminho (Jo 14.6). E o caminho da decisão, da entrega e obediência a Deus. Por isso é estreito, difícil, desconfortável quando olhamos pelo prisma de nossa natureza pecaminosa e rebelde contra Deus.

 

Existem duas portas:

 

A primeira é larga e tudo passa por ela. Não é necessário desmontar o guarda-roupa cheio do pecado, ambição, cobiça, desejo pela fama e pelo sucesso etc. Não é preciso tirar a porta da geladeira espiritual, uma vida fria para com Deus, indiferente para com os valores espirituais. Muita gente nos espera de braços abertos como introdutores nesta porta. Nenhum esforço é preciso fazer para entrar nela.

 

A segunda porta é estreita. E preciso deixar tudo fora dela. O pecado, os desejos maliciosos, a concupiscência da carne etc., não podem entrar por ela. Nela só cabem você e a sua disposição de servir ao Senhor integralmente. E preciso se despojar do eu para andar com Cristo.

 

Existem dois destinos:

 

A palavra de Jesus encontra paralelos no Antigo Testa­mento (Sl 1; Dt 30.15, 19; Jr 21.8). Cada porta dá entrada a um caminho e cada caminho tem a sua consequência. O caminho espaçoso é o do suicido, conduz “à perdição” (v. 13), à morte eterna, O caminho estreito é o da vida eterna, conduz “à vida” (v. 14).

 

Existem duas classes de pessoas:

 

No caminho largo podemos ver o conges­tionamento causado pelo trânsito dos pedestres: é a disputa pelos melhores lugares e pelas melhores posições, “muitos são os que entram por ela (porta larga)”. “Poucos são os que” encontram a porta estreita, pois na verdade poucos querem encontrá-la e ter fé em Jesus. O mundo está então dividido em duas categorias de pessoas: as que estão caminhando no caminho de Cristo, o caminho estreito, e os que estão no caminho largo. Não existe estrada secundária. Ou se está num caminho ou no outro.

 

Mateus 7.17-23 - Cuidado contra os falsos profetas

 

Encontramos nas palavras de Jesus as diretrizes básicas para reconhecermos os falsos profetas, pois os mesmos causam grandes estragos no campo da religião e exercem influências maléficas no campo político e econômico. “Guardai-vos dos falsos profetas” (v. 15) é uma séria advertência de Jesus, e a igreja de hoje precisa estar atenta. se quer evitar problemas de apostasia, de esfriamento. de pecado.

 

Temos duas coisas a dizer sobre os falsos profetas:

 

1. São perigosos e mentirosos (v. 15). Jesus não fala da possibilidade da exis­tência dos falsos profetas, mas assume a existência deles já em seu tempo. Esses são pessoas, dentro da comunidade cristã, que se fingem profetas (At 20.29, 30). Dão falso sentimento de segurança e embalam as pessoas na comodidade de seu pecado e na dureza de seu coração (Jr 8.11; 23.16, 17).

 

Infelizmente muitas igrejas e muitos crentes têm descoberto a verdadeira natu­reza desses homens somente depois do prejuízo. Eles são mentirosos. Nunca se apresentam como realmente são, se escondem numa capa de piedade cristã, usam pala­vras nossas, cantam hinos com vibração e arte, mas não são dos nossos. Usam o nome de Deus para fazer coisas que não são de Deus. São propagadores de mentiras. Os piores falsos profetas não estão algumas vezes fora de nossas igrejas, em outras religiões, mas dentro delas, causando prejuízos à causa.

 

2. Eles são reconhecidos pelos frutos (v. 16-20). São frutos de caráter e conduta, de motivação e de influência. Quanto ao caráter e conduta, o verdadeiro profeta precisa mostrar as marcas do discípulo (Mt 5.1-12) e o fruto do Espirito Santo (Gl 5.22, 23; Jo 15.1-10). Caso contrário, irá manifestar as obras da carne (GL 5.16-21). Os ensinamentos devem mostrar a fé e a convicção de um crente (Mt 12.33-37) e, se não estiverem de acordo com as Escrituras, devem ser rejeitados.

 

A motivação irá demonstrar no que a pessoa está interessada. Muita exibição, autoglorificação, exposição de feitos e obras realizadas com muito sentimento de promoção, podem nos dar pistas de que esta pessoa não está interessada na expansão da obra de Deus, mas em si mesma (cf. Jo 7.18). Se o que a pessoa ensina está levando os ouvintes para perto de Cristo, então ensina a verdade; mas, se não for assim, a pessoa estará atraindo os outros para si mesma e não para Cristo.

 

Mateus 7.24-27 - Cuidado contra o falso fundamento

 

Esta parte do Sermão do Monte é a conclusão. É a hora da decisão. O que faremos de Jesus e suas palavras? Não se pode ficar neutro. O que é preciso fazer? Ou se responde sim, ou não. No caso daqueles que estão estruturando suas vidas na base sólida que é Cristo, suas decisões são as seguintes:

 

1. Confessam Jesus como Senhor (v. 21). Muitos querem confessar Jesus somente como Salvador. Outros o confessam como Senhor, mas de maneira errada, pois confessam de Lábios e param por ai. Não há modificação de vidas.

 

2. Comprometem-se em fazer a vontade de Deus (v. 21). Não é apenas dizer que Jesus é o Senhor, mas cumprir seus mandamentos, viver segundo a vontade de Deus. A sua vida é dirigida pela vontade de Deus?

 

3. Apartam-se da iniquidade (v. 23). Chamar Jesus de Senhor e continuar no pecado, de forma a ter prazer nele, é estar enganado quanto à salvação. Não podemos confessar Jesus como Senhor e viver no pecado. Uma coisa exclui a outra.

 

Os que deram esses passos são os que estão edificando sua vida sobre o firme fundamento que é Cristo e sua vontade para nós. Os dois fundamentos são figuras que Jesus usa para mostrar quão sólida e estável ou quão frágil e instável pode ser nossa vida, dependendo da escolha que fazemos em relação às suas palavras. Se escolhermos cumprir suas palavras, a nossa vida será firme e segura.

 

Mateus 18.15-35 - Cuidado contra a ação injusta

 

O ensinamento de Jesus em Mateus 18.15-35 está intimamente relacionado com Mateus 7.1-5. É preciso que a comunidade cristã tenha procedimento correto em relação àqueles que não cumprem o padrão estabelecido por Deus. Aqui temos os princípios bíblicos da disciplina a ser praticada pela igreja. Não uma disciplina legalista, simples­mente punitiva, mas a disciplina restauradora que busca o bem-estar do irmão que caiu em pecado. A motivação básica é a busca e o perdão. Veja o contexto: antes temos a parábola da ovelha perdida (v. 12-14) e em seguida a parábola do credor incompassivo (v. 23-35). Busca e perdão são atitudes básicas da igreja.

 

Temos aqui três princípios básicos que irão nortear a disciplina na igreja:

 

1. Deve ser restaurado e corrigido (v. 15-17), praticada em quatro passos:

a) reconciliação privada, sem exposição do culpado (v. 15);

b) visita de uma comissão, ainda sem expo­sição (v. 16);

c) decisão na igreja, em caso de resistência (v. 17);

d) auto exclusão (v. 17), porque depois de todos os passas anteriores dados com amor e persistindo o erro, a pessoa mesma se auto excluiu da comunhão com as demais.

 

2).Deve ser respon­sável (v. 18-20), deve haver concordância entre a igreja e o céu e na própria igreja (v. 18). A disciplina deve ser feita na dependência de Deus, para não se cometer atos injustos contra as pessoas.

 

3. Deve ser perdoadora (v. 21-35). Em vez de vingança e legalismo, o perdão.

 

A LIÇÃO NA VIDA

 

O Reino exige de nós:

 

1. Humildade em reconhecer os próprios erros na hora de julgar os outros.

 

2. A escolha do caminho estreito, que exige de nós a renúncia do eu para dar lugar à vida de Cristo em nós, a qual é eterna.

 

3. Espírito de sabedoria, para não sermos enganados por falsos profetas que infestam o mundo religioso de hoje.

 

4. A educação da vida sobre o fundamento que é Cristo e sua Palavra.

 

5. O cuidado na disciplina eclesiástica. Não podemos fazer nada com espírito legalista e vingativo, mas de forma a mostrar amor pelas fraquezas dos outros, não a ponto de fazer vista grossa aos erros, mas sim de corrigir amorosamente.

 

Tomemos a decisão certa!