O DEUS QUE TUDO VÊ

DN 5

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

 

 

1. Este é um dos capítulos da Palavra de Deus que mais tem sofrido ataques dos críticos, pois de acordo com os escritos descobertos pelos arqueólogos envolvendo aquela época, o rei da Babilônia naquele período chamava-se Nabonito e não Belsazar. E a pergunta dos críticos se resume em: como aceitar a história bíblica que traz o nome Belsazar e não Nabonito?

 

2. Porém há alguns anos atrás, a Arqueologia rompeu o mistério e viu-se de fato que houve um co-regente, que aqui recebeu o nome de Rei. Nesta descoberta arqueológica, o nome de Belsazar aparece em muitos tabletes cuneiformes, que são documentos do registro histórico daquele tempo.

 

3. Nabonito teria ido para Susã, que era a capital de veraneio dos monarcas e entregue seu reinado, e consequentemente os negócios do Estado a seu filho, Belsazar. Ora, se havia alguém que cuidava dos negócios reais e governava, é natural que se lhe aplicasse o nome de Rei.

 

4. Não é de se admirar que Nabonito tivesse delegado poderes ao seu filho, porque tal costume era muito comum entre muitos povos antigos. Há alguns exemplos deste tipo de prática na antiguidade:

 

a) Assuero, rei da Média, tinha como companheiro de governo um sobrinho que recebia poderes administrativos. Sempre que o Rei ausentava-se do trono, ele assumia.

 

b) Totmés I, no Egito, associou sua filha Hapshepsut ao governo, enquanto ele fazia guerra aos hititas e mitânios, no Oriente próximo e foi nesta capacidade de governo que ela pode adotar o menino Moisés como filho.

 

5. O que se nota é que quando algum problema está relacionado com a Bíblia, este problema recebe um tratamento mais duro, mais exigente. Isto é natural, pois Satanás não cessa de batalhar para tentar destruir a Palavra de Deus, e consequentemente sua obra na terra.

 

6. Deixando de lado estas questões históricas e arqueológicas, nesta noite, queremos ver “alguns pontos dentro do texto lido, procurando aplicar as verdades neles contidas em nossa vida diária como filhos de Deus”:

 

I. A PROCLAMAÇÃO DO BANQUETE E A PROFANAÇÃO DAS COISAS SAGRADAS

 

1. V.1, “O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes, e bebeu vinho na presença dos mil”.

 

2. Foi uma festa em grandes proporções e preparada para mil nobres. O Rei se regalou na presença de todos. Este tipo de festa era muito comum nos palácios, conforme vemos no livro de Ester, quando o Rei Assuero proclamou uma festa de cento e oitenta dias, Et 1.2-4, “1 Sucedeu nos dias de Assuero, o Assuero que reinou desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias, 2 que, estando o rei Assuero assentado no trono do seu reino em Susã, a capital, 3 no terceiro ano de seu reinado, deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, estando assim perante ele o poder da Pérsia e da Média, os nobres e os oficiais das províncias. 4 Nessa ocasião ostentou as riquezas do seu glorioso reino, e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, a saber, cento e oitenta dias”.

 

3. O Rei Belsazar, não se contendo apenas com o banquete e talvez para ostentar sua vaidade, mandou trazer os vasos sagrados de ouro e de prata que seu pai-avô, Nabucodonosor tinha trazido quando conquistara Jerusalém, para que bebessem nele o Rei, todos os seus convidados, inclusive suas mulheres e concubinas, Vs.2-3, “2 Havendo Belsazar provado o vinho, mandou trazer os vasos de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tinha tirado do templo que estava em Jerusalém, para que bebessem por eles o rei, e os seus grandes, as suas mulheres e concubinas. 3 Então trouxeram os vasos de ouro que foram tirados do templo da casa de Deus, que estava em Jerusalém, e beberam por eles o rei, os seus grandes, as suas mulheres e concubinas”.

 

4. Esta orgia chegava ao seu pior momento: Profanar aquilo que é santo. Podemos ver na Palavra, um grande zelo de Deus nas coisas que são consagradas por Ele:

 

a) O ato de consagração, Lv 8.10-12, “10 Então Moisés, tomando o óleo da unção, ungiu o tabernáculo e tudo o que nele havia, e os santificou; 11 e dele espargiu sete vezes sobre o altar, e ungiu o altar e todos os seus utensílios, como também a pia e a sua base, para santificá-los. 12 Em seguida derramou do óleo da unção sobre a cabeça de Arão, e ungiu-o, para santificá-lo”.

 

A consagração tinha como principal objetivo separar os objetos consagrados para serem usados somente no serviço de Deus. Podemos destacar duas coisas importantes relacionadas às coisas consagradas:

 

- Os filhos de Deus deveriam conhecer a diferença entre o Santo e o Profano, Lv 10.8-10, “8 Falou também o Senhor a Arão, dizendo: 9 Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da revelação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso pelas vossas gerações, 10 não somente para fazer separação entre o santo e o profano, e entre o imundo e o limpo”.

 

Santo era tudo o que pertencia ao Senhor, tudo o que era consagrado para seu serviço; imundo era o que não pertencia ao Senhor, as coisas relacionadas ao mundo.

 

- Os filhos de Deus deveriam saber que a profanação do que é Santo sempre vem acompanhada da punição de Deus, Ez 22.26, 31, “26 Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem ensinam a discernir entre o impuro e o puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles. 31 Por isso eu derramei sobre eles a minha indignação; com o fogo do meu furor os consumi; fiz que o seu caminho lhes recaísse sobre a cabeça, diz o Senhor Deus”.

 

5. Jesus nos advertiu sobre o fato de que não devemos profanar o que Santo, Mt 7.6, “6 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem”.

 

a) É provável que Jesus aqui esteja se referindo a uma prática que poderia ser comum, onde o sacerdote atirava aos cães, pedaços de carne sacrificada, retirados do altar do Senhor. Na questão das pérolas, talvez Jesus se refira a um homem muito rico que enchia suas mãos de pequenas pérolas e as atirava, juntamente com o milho à sua manada de porcos. Tanto cães como porcos eram considerados animais imundos pelos judeus.

 

b) A advertência de Jesus aqui é no sentido de vida espiritual. Devemos levar uma vida cristã que saiba muito bem a diferença entre as coisas sagradas e as coisas imundas. O filho de Deus deve fazer diferença no mundo em que vive. Devemos ser o sal da terra e a luz do mundo e não objetos de contaminação, de corrupção à nossa volta.

 

6. Como podemos profanar o que é Santo:

 

a) Exemplo do sábado, Êx 20.8-11, “8 Lembra-te do dia do sábado, para santificá-lo. 9 Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; 10 mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. 11 Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado, e o santificou”.

 

b) Casa de Deus. Comportamento indecente na Casa de Deus. Vestuários, irreverência. Mórmons - chinelos.

 

7. Não somente o rei profanou as coisas santas que foram trazidas do Templo de Deus, por seu pai Nabucodonosor, mas estas mesmas “coisas santas”, foram usadas para cultuar através daquelas festividades, os “deuses pagãos”, v.4, “...deram louvores aos deuses de ouro e de prata, de bronze, de ferro, de madeira, e de pedra”. Misturar as coisas de Deus com as coisas deste mundo e com a idolatria, é um ato tremendo de rebelião contra Ele.

 

II. O BANQUETE ESTRAGADO

 

1. V.5, “Na mesma hora apareceram uns dedos de mão de homem, e escreviam, defronte do castiçal, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via a parte da mão que estava escrevendo”.

 

2. A Arqueologia informa que as paredes do Palácio eram revestidas de pintura branca o que dava grande realce à luz dos candeeiros. A certa altura da festa, estando o Rei e seus convidados já meio embriagados, apareceu na parede branca uma mão escrevendo, uma cena nunca vista.

 

3. Um pavor tomou conta de todos, mas principalmente do Rei, v.6, “Mudou-se, então, o semblante do rei, e os seus pensamentos o perturbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro”.

 

O rei sabia que algo muito sério estava acontecendo e que escapava ao seu domínio.

 

4. Diante disto, ele fez uma convocação para que fossem introduzidos em sua presença os astrólogos, adivinhadores, etc., para interpretarem a escrita, mas estes não conseguiram, o que causou ainda maior tristeza ao Rei, vs.7-9, “7 E ordenou o rei em alta voz, que se introduzissem os encantadores, os caldeus e os adivinhadores; e falou o rei, e disse aos sábios de Babilônia: Qualquer que ler esta escritura, e me declarar a sua interpretação, será vestido de púrpura, e trará uma cadeia de ouro ao pescoço, e no reino será o terceiro governante. 8 Então entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler o escrito, nem fazer saber ao rei a sua interpretação. 9 Nisto ficou o rei Belsazar muito perturbado, e se lhe mudou o semblante; e os seus grandes estavam perplexos”.

 

5. A Rainha lembrou ao rei que havia no Reino alguém que desde os tempos de Nabucodonosor, seu pai, havia-se destacado como interprete de sonhos e visões, Daniel. Daniel foi convidado à presença do Rei, vs.10-13, “10 Ora a rainha, por causa das palavras do rei e dos seus grandes, entrou na casa do banquete; e a rainha disse: ó rei, vive para sempre; não te perturbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. 11 Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses; e teu pai, ó rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus, e dos adivinhadores; 12 porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente, e conhecimento e entendimento para interpretar sonhos, explicar enigmas e resolver dúvidas, ao qual o rei pôs o nome de Belsazar. Chame-se, pois, agora Daniel, e ele dará a interpretação. 13 Então Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou o rei, e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, um dos cativos de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá”?

 

6. Depois da apresentação, Daniel recusou os presentes do Rei, e passou a interpretação, v.17, “Então respondeu Daniel, e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outro; todavia vou ler ao rei o escrito, e lhe farei saber a interpretação”.

 

a) Ele fez uma avaliação do Reinado de Nabucodonosor, e a grandeza que havia sido o Reino dele, mas que pelo seu orgulho, Deus o reduzira a um animal, vs.18-21, “18 O Altíssimo Deus, ó rei, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino e a grandeza, glória e majestade; 19 e por causa da grandeza que lhe deu, todos os povos, nações, e línguas tremiam e temiam diante dele; a quem queria matava, e a quem queria conservava em vida; a quem queria exaltava, e a quem queria abatia. 20 Mas quando o seu coração se elevou, e o seu espírito se endureceu para se haver arrogantemente, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória. 21 E foi expulso do meio dos filhos dos homens, e o seu coração foi feito semelhante aos dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que o Altíssimo Deus tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele”.

 

b) Advertiu ao Rei, dizendo que ele mesmo conhecia o que Deus havia feito a Nabucodonosor, que não havia se humilhado ao Deu Eterno, v.22-23, “22 E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubesse tudo isso; 23 porém te elevaste contra o Senhor do céu; pois foram trazidos a tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus grandes, as tua mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são todos os teus caminhos, a ele não glorificaste”.

 

c) Esta era a razão da escrita, v.24, “Então dele foi enviada aquela parte da mão que traçou o escrito”.

 

7. Deus coloca no pó os orgulhosos, Lc 18.14, “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado”.

 

III. A INTERPRETAÇÃO DA ESCRITA

 

1. A escrita, v.25, “Esta, pois, é a escritura que foi traçada: MENE, MENE, TEQUEL, UFARSlM”.

 

2. Interpretação. Numerado, pesado, dividido:

 

a) Mene, v.26, “Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino, e o acabou”. O reino foi “contado”. Deus já tinha contado os dias do Reinado de Belsazar e pretendia acabar com ele.

 

b) Tequel, v.27, “TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta”. Suas obras foram “pesadas na balança”. Crença dos egípcios. Osiris pesava as obras de todos os mortos numa balança literal. Os babilônicos tinham a mesma prática. A expressão “foste achado em falta”, indica leviandade diante de Deus, que pesa todas nossas ações.

 

b.1) 1Sm 2.3, “Não faleis mais palavras tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por ele são pesadas as ações”.

 

b.2) 1Pe 1.17, “E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação”.

 

c) Peres, v.28, “PERES: Dividido está o teu reino, e entregue aos medos e persas”. Seu reino seria “dividido”, “Quebrado em pedaços”. O Reino de Belsazar estava para ser dividido entre os Medos e os Persas, que já se encontravam às portas da Babilônia.

 

IV - CUMPRIMENTO

 

1. Vs.30-31, “30 Naquela mesma noite Belsazar, o rei dos caldeus, foi morto. 31 E Dario, o medo, recebeu o reino, tendo cerca de sessenta e dois anos de idade”.

 

2. Deus cumpre a sua Palavra, independentemente das circunstâncias. No nosso caso em particular, o cumprimento da Palavra foi quase instantâneo: “Naquela mesma noite...”. Isto nos mostra que Deus não se deixa escarnecer pelo homem, Gl 6.7, “Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isto também ceifará”. Seu Julgamento é iminente.

 

CONCLUSÃO:

 

1. Devemos ter o cuidado de não profanar aquilo que é santo.

 

2. O orgulho é destruído por Deus.

 

3. O julgamento é certo.