IMPACTO DE
UM ENCONTRO COM DEUS
ATOS 9.1-19
Pr. José
Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO: A vida do apóstolo
Paulo é contada com uma riqueza de detalhes impressionante em todo o livro de
Atos: Sua perseguição à igreja de Cristo, sua conversão, suas viagens, suas
experiências. Observamos que sua vida foi completamente transformada na estrada
de Damasco (cap. 9), sofrendo grande impacto. Numa série de mensagens
queremos analisar a trajetória deste homem e como seu exemplo pode ser aplicado
as nossas vidas. Vejamos como o impacto de um encontro com Deus, pode afetar
toda a vida de alguém:
I. O
IMPACTO DE UM ENCONTRO COM DEUS IRÁ TRANSFORMAR UM ASSASSINO EM UM GERADOR DE
VIDA
1. Ao olharmos para a vida de Saulo de Tarso,
iremos notar como suas perseguições aos cristãos o transformaram num dos piores
assassinos de seu tempo. Ele foi o terror dos cristãos no começo da Igreja de
Cristo.
a) Na morte de Estevão, o primeiro mártir
cristão, observamos que suas vestes foram entregues ao então, jovem Saulo, At 7.58, “E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas
deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo”. Ao guardar as vestes
de Estevão, Saulo estava concordando com aquele assassinato. Em Atos 8.1
a Bíblia nos informa que Saulo “... consentia na sua morte”.
b) Mais tarde Saulo, que teve seu nome mudado
para “Paulo”, afirma que deu o seu voto, para que muitos cristãos perdessem a
vida,
At 26.10, “...contra estes dava o meu voto,
quando os matavam”. Por ocupar uma posição religiosa elevada é possível que
Saulo tenha dado o seu voto na morte de Estevão, além de participar diretamente
nas mortes de muitos outros cristãos.
c) As ameaças de
morte contra os discípulos de Cristo, faziam parte de sua rotina diária, At 9.1, “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os
discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote”. No original grego temos
uma palavra que significa: “inspirar”, “expirar ar”, “respirar”, “inalar”
(BOL). Em se tratando de Saulo podemos
dizer que “ameaças e palavras de destruição eram, por assim dizer, os elementos
que alimentavam a sua respiração; expirava ameaças” (BOL).
2. Porém após o impacto de seu encontro com o
Senhor, Saulo de Tarso transformou-se num grande gerador de vida.
a) Como gerador de
vida, muitos eram convertidos pela sua pregação, At 13.47-48, “47 Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí
para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da
terra. 48 Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do
Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”
(Antioquia da Pisídia).
b) Como
gerador de vida ele doou a sua própria vida, 1Ts 2.8, “assim,
querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de
Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados
de nós”. Ver também 2Tm 4.6-7, “6 Quanto a mim, estou sendo já oferecido
por libação, e o tempo da minha partida é chegado. 7 Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé”.
3. Muitos de nós, antes de conhecer a Cristo
também éramos assassinos, pois nosso comportamento com muitas pessoas, até
mesmo de nossa própria família, assassinava seus sonhos, seus projetos, seus
ideais, etc. Vidas eram destruídas, estagnadas, por ações e palavras, que
emanavam de nós. Muitos crentes, mesmo depois de uma suposta conversão, ainda
continuam matando vidas.
a) 1Pe 4.15, “Não
sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como
quem se intromete em negócios de outrem”.
b) 1Jo 3.15, “Todo
aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino
não tem a vida eterna permanente em si”.
4. Hoje, como novas criaturas em
Deus, precisamos ser geradores de vida! Muitas pessoas que nos rodeiam poderão
ir para o inferno se não gerarmos vida dentro delas. Precisamos ser portadores
da vida de Deus por onde quer que andarmos.
a)
Precisamos ser semeadores de vida em Deus, Is 55.10-13, “10
Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem
que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente
ao semeador e pão ao que come, 11 assim será a palavra que sair da minha boca:
não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para
que a designei. 12 Saireis com alegria e em paz sereis guiados; os montes e os
outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo
baterão palmas. 13 Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, e em lugar da
sarça crescerá a murta; e será isto glória para o SENHOR e memorial eterno, que
jamais será extinto”.
b) A prática de semear a palavra
geradora de vida, muitas vezes, se torna uma tarefa difícil para nós, Sl 126.6, “Quem
sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus
feixes”. Veja outra tradução para o mesmo versículo: “Aquele que leva a
preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria,
trazendo consigo os seus molhos” (RC).
c) Devemos orar a
Deus para que Ele nos mostre os corações que estejam abertos para acolher a
semente e possam frutificar, Mt 13.23, “Mas o que foi
semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e
produz a cem, a sessenta e a trinta por um”.
II. O
IMPACTO DE UM ENCONTRO COM DEUS IRÁ TRANSFORMAR UM CORAÇÃO CHEIO DE ÓDIO NUM
CORAÇÃO CHEIO DO AMOR DE DEUS
1. Em razão de suas convicções religiosas,
Saulo de Tarso odiava ferrenhamente todos aqueles que se diziam seguidores de
Cristo. Mal sabia ele que, ao odiar os cristãos, estava odiando e perseguindo o
próprio Senhor!
a) At 9.4-5, “4 e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo,
Saulo, por que me persegues? 5 Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta
foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues”.
b) Esta convicção de
que perseguir cristãos, é perseguir a Deus, é vista inclusive, naquele que
preparou Saulo na escola do judaísmo – Gamaliel, At 5.38-39, “38 Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os;
porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; 39 mas, se é de
Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados
lutando contra Deus. E concordaram com ele”.
c) Veja o reconhecimento de Paulo anos mais
tarde, 1Co 15.9,
“Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não
sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus”.
2. Uma referência autobiográfica na primeira
carta de Paulo a Timóteo jorra alguma luz sobre a questão de como um homem de
consciência tão sensível pudesse participar dessa violência contra o seu
próprio povo. “... noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas
obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” (1Tm 1.13).
A história da religião está repleta de exemplos de outros que cometeram o mesmo
erro. No mesmo trecho, Paulo refere a si próprio como “o principal” dos
pecadores” (1T 1.15), sem dúvida alguma por ter ele perseguido a Cristo
e seus seguidores (site: vivos).
3. Porém, com a mesma intensidade que Saulo
odiou a Cristo e sua igreja, ele amou posteriormente ao Senhor.
a) Sua vida perdeu
qualquer valor diante de sua missão, At 20.24-25, “24 Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor
Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. 25 Agora, eu sei que todos
vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto”.
b) Podemos ver neste exemplo de Atos 20, a
manifestação do seu amor pelos irmãos de Éfeso: “28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue. 29 Eu sei que, depois da minha
partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. 30 E
que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles. 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que,
por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um.
32 Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder
para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados. 33 De ninguém
cobicei prata, nem ouro, nem vestes; 34 vós mesmos sabeis que estas mãos
serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. 35
Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os
necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais
bem-aventurado é dar que receber. 36 Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se,
orou com todos eles”.
Em seu amor pelos efésios, Instruiu os
líderes para que pastoreassem o rebanho de Deus com as seguintes palavras e
exortações:
- deveriam ter cuidado com os “lobos
vorazes”, vindos de fora, que não poupariam o rebanho. A palavra voraz tem a
ver com “violento”, “cruel”, “impiedoso”. Pode ser
ilustrada por um predador que despedaça sua presa sem piedade.
-
deveriam ter cuidado com aqueles que se perverteriam dentro da própria igreja e
arrastariam crentes com palavras de engano. O ensino de tais homens teria o
objetivo de: “torcer, desencaminhar, desviar”, “opor-se, conspirar contra os
propósitos e planos salvadores de Deus”, “desviar do caminho certo, perverter,
corromper” (BOL).
- relembra-os de suas muitas
lágrimas durante todo o templo que passou com eles, exortando-os. O ministério
verdadeiro jamais será realizado sem lágrimas!
- mostra-lhes que seu ministério
não foi carregado de ganância, mas implicado em doar-se: “De ninguém cobicei
prata, nem ouro, nem vestes”. Muitos obreiros tem explorado financeiramente
aqueles que estão debaixo de seu pastoreio.
- numa emocionante despedida ajoelhou-se e
orou com eles: “Tendo dito estas coisas,
ajoelhando-se, orou com todos eles”.
3. Como filhos de Deus, devemos
lembrar que em nosso coração não pode haver o ódio, a mágoa, os ressentimentos
contra quaisquer pessoas, sejam elas mundanas ou irmãos de fé. A Palavra de
Deus nos exorta a viver em amor:
a) Jo 13.35, “Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
Temos neste texto do evangelho de João a marca registrada do verdadeiro cristão
– o amor. Seremos conhecidos no mundo pelo amor que vivermos e praticarmos
entre irmãos.
b) Rm 5.5, “Ora, a
esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado”. Não dá para ser crente desassociado do
verdadeiro amor, pois recebemos o Espírito Santo em nossa conversão e com ele
um batismo de amor. A palavra derramar no original grego nos dá a ideia de
“despejar”, “distribuir amplamente”.
c) Rm 13.10, “O amor
não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o
amor”. A maior prova de que temos dentro de nós o amor de Deus, é que não
iremos desejar ou praticar o mal contra o próximo.
d) 1Jo 3.16, “Nisto
conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida
pelos irmãos”. Outra face do amor verdadeiro, é que ele valorizará a vida de
nosso irmão acima, até mesmo, de nossa própria vida. Este foi o amor que Cristo
demonstrou – entregou sua vida por nós. Ver Jo 3.16, “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
e) 1Jo 4.7,
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele
que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”. O amor é componente de nosso DNA
espiritual. Se somos nascidos de Deus e Deus é amor, logo, devemos ter amor,
pois herdamos uma nova natureza espiritual – a natureza de Deus, 2Pe 1.4,
“pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas,
para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos
da corrupção das paixões que há no mundo”.
III. O IMPACTO DE UM ENCONTRO COM DEUS IRÁ
TRANSFORMAR UM PRESUNÇOSO EM SERVO
1. Em sua presunção, Saulo de Tarso se
julgava o máximo. Na verdade ele tinha certa razão para alimentar seu orgulho:
a) Nasceu em Tarso, a
cidade principal da Cilícia, At 22.3, “...nasci em Tarso
da Cilícia, mas criei-me nesta cidade...”.
“Tarso
era uma cidade de fronteira, um lugar de encontro do Leste e do Oeste, e uma
encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções, por terra e por
mar. Tarso possuía uma preciosa herança. Os fatos e as lendas se
entremesclavam, tornando seus cidadãos ferozmente orgulhosos de seu passado. O
general romano Marco Antônio concedeu-lhe o privilégio de “libera civitas”
(cidade livre) em 42 a.C. Por conseguinte, embora fizesse parte de uma
província romana, era autônoma, e não estava sujeita a pagar tributo a Roma. As
tradições democráticas da cidade-estado grega de longa data estavam
estabelecidas no tempo de Paulo” (site: vivos).
b) Educado por Gamaliel, At 22.3, “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta
cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de
nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no
dia de hoje”.
“Gamaliel era neto de Hillel, um
dos maiores rabinos judeus. A escola de Hilel era a mais liberal das duas
principais escolas de pensamento entre os fariseus. Em Atos 5.33-39,
temos um vislumbre de Gamaliel, descrito como “acatado por todo o povo” (site:
vivos).
c) Era cidadão romano. Em At 22.24-29
vemos Paulo conversando com um centurião romano e com um tribuno romano
(centurião era um militar de alta patente no exército romano com 100 homens sob
seu comando; o tribuno, neste caso, seria um comandante militar). Por ordens do
tribuno, o centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o Apóstolo protestou:
“Ser-vos-á porventura lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At
22.25). O centurião levou a notícia ao tribuno, que fez mais inquirição. A
ele Paulo não só afirmou sua cidadania romana, mas explicou como se tornara
tal: “Por direito de nascimento” (At 22.28). Isso implica que seu pai
fora cidadão romano.
Podia-se obter a cidadania romana de vários
modos. O tribuno, ou comandante, desta narrativa, declara haver “comprado” sua
cidadania por “grande soma de dinheiro” (At 22.28). No mais das vezes,
porém, a cidadania era uma recompensa por algum serviço de distinção fora do
comum ao Império Romano, ou era concedida quando um escravo recebia a liberdade
(site: vivos).
d) Era de
Descendência Judaica e podia traçar sua linhagem até Abraão, 2Co 11.22, “São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São da
descendência de Abraão? Também eu”. Ver ainda Fp 3.5, “...circuncidado
ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim”. Ver também Rm
11.1, “Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo
de Benjamim”.
e) Pertencia à alta
aristocracia judaica, At 23.6, “Sabendo Paulo
que uma parte do Sinédrio se compunha de saduceus e outra, de fariseus,
exclamou: Varões, irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus! No tocante à
esperança e à ressurreição dos mortos sou julgado!”.
2. Este orgulho de Paulo permaneceu com ele
até a sua conversão na estrada de Damasco. A partir dali, assumiu a condição de
servo. Não seria mais dirigido pela sua carne ou pelos seus desejos e
propósitos. O impacto desse encontro com o Senhor o transformou num homem
totalmente dependente de Deus. Podemos ver isso em alguns textos bíblicos:
a) Foi levado ao
encontro de Ananias, um discípulo sem nenhuma expressão, At 9.10-19, “10 Ora, havia em Damasco um discípulo chamado Ananias.
Disse-lhe o Senhor numa visão: Ananias! Ao que respondeu: Eis-me aqui, Senhor!
11 Então, o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e,
na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando
12 e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que
recuperasse a vista. 13 Ananias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho
ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em
Jerusalém; 14 e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para
prender a todos os que invocam o teu nome. 15 Mas o Senhor lhe disse: Vai,
porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante
os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe
mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome. 17 Então, Ananias foi e,
entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me
enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas,
para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. 18 Imediatamente,
lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir,
levantou-se e foi batizado. 19 E, depois de ter-se alimentado, sentiu-se
fortalecido. Então, permaneceu em Damasco alguns dias com os discípulos”.
Ele que fora o terror
dos cristãos, agora se torna dependente de um deles que recebeu a incumbência do
Senhor para curá-lo, e ensinar-lhe os primeiros passos na fé. Veja como Paulo
fala desta experiência mais tarde, At 22.12-16, “12 Um homem, chamado Ananias, piedoso conforme a lei, tendo bom
testemunho de todos os judeus que ali moravam, 13 veio procurar-me e, pondo-se
junto a mim, disse: Saulo, irmão, recebe novamente a vista. Nessa mesma hora,
recobrei a vista e olhei para ele. 14 Então, ele disse: O Deus de nossos pais,
de antemão, te escolheu para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires
uma voz da sua própria boca, 15 porque terás de ser sua testemunha diante de
todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido. 16 E agora, por que te
demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele”.
2. Muitas vezes, em suas cartas dirigidas a
cristãos e igrejas, ele se apresenta como “servo de Cristo”. Ele faz questão de
colocar a posição de “servo” antes mesmo, do ofício apostólico.
a) Rm 1.1, “Paulo,
servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de
Deus”.
b) Tt 1.1, “Paulo,
servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos
de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade”.
c) 1Co 3.5, “Quem é
Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o
Senhor concedeu a cada um”.
3. O exemplo de Paulo nos mostra
que nossa presunção e orgulho, precisam ser substituídos pela posição de
servos. Nada somos além de “servos de Deus”! Quando nos colocamos como
“servos”, seremos usados tremendamente pelo Senhor, pois Deus jamais usará
“presunçosos”, “orgulhosos”, “enfatuados”, “arrogantes”.
a) Ef
6.5-7, “5 Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo
a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, 6
não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo,
fazendo, de coração, a vontade de Deus; 7 servindo de boa vontade, como ao
Senhor e não como a homens”.
Embora o texto em referência tenha relação
com aqueles que eram escravos nos dias de Paulo, os princípios ali exarados tem
a ver conosco quando servimos a Deus verdadeiramente como “servos”.
- Um verdadeiro servo é obediente em “temor”
e “tremor” – “obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor”;
- Um verdadeiro servo não é hipócrita, mas
serve a Deus com sinceridade - “na sinceridade do vosso coração, como a
Cristo”;
- Um verdadeiro servo não busca qualquer
reconhecimento dos homens – “não servindo à vista, como para agradar a homens,
mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus”;
- Um verdadeiro servo está sempre disposto
para Deus. Tudo faz com dedicação absoluta - “servindo de boa vontade, como ao
Senhor e não como a homens”.
b) Tt 2.9, “Quanto
aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de
satisfação; não sejam respondões”. Como sermos de Deus devemos sempre estar em
obediência, não sendo respondões. A palavra “respondões”, no original grego
significa “opor-se a alguém, recusar obedecer-lhe, declarar-se contra ele,
recusar manter qualquer tipo de relacionamento com” (BOL).
Quando respeitamos ao
Senhor, ele se agradará de nós (“dando-lhe motivo de
satisfação”). Em o agradando, ele satisfará os desejos de nosso coração, Sl
37.4-5, “4 Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.
5 Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará”.
IV. O
IMPACTO DE UM ENCONTRO COM DEUS IRÁ TRANSFORMAR UM RELIGIOSO LEGALISTA EM FILHO
DA GRAÇA
1. Um dos piores espíritos que atua no seio
da Igreja de Cristo é o “espírito religioso”. O verdadeiro cristão não deve se
sentir parte de uma religião, mas viver como filho de Deus. Jesus não é uma
religião, ele é uma pessoa e seu objetivo principal é se relacionar conosco.
Não recebemos apenas seus ensinos, embora eles sejam importantes, mas recebemos
a ele próprio, Jo 1.12, “Mas, a todos quantos
o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
creem no seu nome”. Paulo ousou dizer: “Cristo em vós, a esperança da glória”, Cl
1.27.
2. Um dos maiores erros de Saulo de Tarso foi
o fato dele ser mais religioso, do que ser de Deus! A sua fúria contra os
crentes era motivada pelo “espírito religioso”. Sua fé não era em Deus mas numa
doutrina elaborada pelos homens, senão vejamos:
a) Era zeloso não por Deus, mas pelas
tradições de seus antepassados, Gl 1.14, “E, na minha
nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo
extremamente zeloso das tradições de meus pais”.
- Quando pensamos em tradições, observamos
que elas não são de todo ruins, principalmente se elas tem embasamento bíblico,
2Ts 3.6, “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome
do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente
e não segundo a tradição que de nós recebestes”. Este tipo de tradição bíblica
deve ser mantido a qualquer custo!
- Porém, certas tradições puramente humanas
podem chegar ao ponto de negar a Palavra de Deus, ou até mesmo torná-la sem
qualquer valor. Vejamos:
Uma tradição
puramente humana pode nos levar à “desobediência” da Palavra de Deus, Mt 15.3, “Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também
o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?”. Observe que, neste caso,
os chamados doutores da lei estavam transgredindo os mandamentos de Deus, em
razão de conservarem tradições enganosas.
Uma
tradição puramente humana pode nos levar a “negligenciar” a Palavra de Deus, Mc
7.8, “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens”.
A palavra “negligenciar” no texto vem da palavra grega “aphiemi” que era usa
para expressar o divórcio, que era configurado, quando um marido mandava sua
esposa embora de casa. Por mantermos certas tradições dos homens podemos mandar
embora de nosso coração e convívio a Palavra de Deus.
Uma
tradição puramente humana pode nos levar a “invalidar” a Palavra de Deus, Mc
7.13, “invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que
vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes”. Invalidar
tem a ver com “cancelar, privar de força e autoridade” (BOL). Não é isso que
muitos fazem quando colocam a “tradição” acima da Bíblia, ou com a mesma
autoridade que ela. A Palavra de Deus deve reinar soberanamente em nossas
vidas. Lutero dizia: “scriptura sola scriptura”. Em outras palavras: “somente a
escritura”.
b) Seu
orgulho era em ser um fiel seguidor de Moisés e não do Deus de Moisés, At 22.3, “...fui
instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos
antepassados...”. Ver ainda Gl 1.14, “E, na minha nação, quanto ao
judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das
tradições de meus pais”.
Observe a
expressões “segundo a exatidão da lei de nossos antepassados” e “sendo
extremamente zeloso das tradições de meus pais”. Deduzimos com isso, que ele
seguia uma lei de antepassados, e não o Deus da Lei! Quanta incoerência! Essa
era a pregação incoerente dos fariseus colegas de Saulo! Todo ataque deles a
Jesus tinha como pano de fundo a interpretação equivocada das leis mosaicas.
Vejamos:
A mulher Adultera, Jo 8.5-7, “5 E na lei nos
mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? 6 Isto
diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia na terra com o dedo. 7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou
e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe
atire pedra”.
O fato curioso nesta confrontação de Jesus
com os legalistas doutores da lei, foi o fato deles apresentarem apenas a
mulher para ser apedrejada. Onde estava o homem encontrado com ela, já que a
lei ordenava que os dois fossem mortos? (Lv 20.10, “Se um homem
adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera”).
A questão
da circuncisão e as curas realizadas pelo Senhor em dia de sábado, Jo 7.19-24, “19 Não
vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais
matar-me? 20 Respondeu a multidão: Tens demônio. Quem é que procura matar-te?
21 Replicou-lhes Jesus: Um só feito realizei, e todos vos admirais. 22 Pelo
motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não vem dele, mas
dos patriarcas), no sábado circuncidais um homem. 23 E, se o homem pode ser
circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por
que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, ao todo,
um homem? 24 Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”.
Eles tinham seus próprios métodos para
interpretarem as leis. Jesus os confronta pelo fato deles praticarem a
circuncisão em dia de sábado, o que segundo eles era correto perante a lei, mas
ao mesmo tempo estavam dispostos a matar Jesus porque ele havia praticado uma
cura em dia de sábado. Quanta incoerência!
3. Porém Saulo, depois de sua conversão
deixou seus princípios legalistas para viver como um filho da promessa
inteiramente na graça de Deus. Ele entendeu que é mais importante servir o Deus
da graça, do que o Deus legalista apresentado pelos fariseus. Ele entendeu o
dito de João em seu evangelho: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés;
a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, Jo 1.17.
a) O tema principal de sua mensagem
pós-conversão era o Evangelho da graça, At 20.24, “Porém em nada
considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha
carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho
da graça de Deus”.
b) Entendeu que sua transformação só foi
possível devido à graça de Deus, 1Co 15.10, “Mas, pela graça de Deus, sou o que
sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei
muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo”. Ver
ainda Ef 3.7, “do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de
Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder”.
c) Sua vida só teria sentido se vivida
debaixo da graça divina, Gl 2.20-21, “20 logo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. 21 Não anulo a
graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo
em vão”.
4. Como cristãos da atualidade, corremos o
mesmo risco, de sermos envolvidos por uma religião sem a graça de Deus. Isso
ocorre quando queremos valorizar leis e tradições humanas acima dos princípios
da Palavra Escrita de Deus. Lembre-se da frase dos reformadores: “scriptura
sola scriptura”. Somente a Bíblia deve nos orientar em nossa vida em Deus.
Muitas religiões da atualidade vivem tradições acima das Escrituras e impõem
sobre seus seguidores conceitos puramente humanos. Para nós a Bíblia é a única
autoridade em termos de fé cristã. Vejamos alguns textos relacionados ao
assunto:
Cl 2.8, “Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo”.
Cl
2.20-23, “20 Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por
que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: 21 não manuseies
isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, 22 segundo os preceitos e
doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. 23
Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e
de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a
sensualidade”.
2Pe
2.17-20, “17 Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas
por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; 18 porquanto,
proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por
suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro,
19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção,
pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. 20 Portanto, se, depois de
terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e
Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o
seu último estado pior que o primeiro”.
CONCLUSÃO: Vivemos num tempo
em que somente os cristãos genuínos irão sobreviver. Para viver uma vida em
Deus que venha fazer diferença em nosso tempo, precisamos ser impactados por
Ele. Deus nos quer envolvidos em sua obra com tudo o que temos e somos! Não há
lugar nas fileiras do exército divino para crentes comprometidos com os valores
mundanos vigentes. Um fato é: quanto mais nos comprometemos com Deus, mais
estaremos deixando para trás coisas que atrapalham nossa marcha cristã. No
dizer de Paulo precisamos prosseguir para “...o alvo,
para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, Fp 3.14.
Devemos ter um alvo para receber o prêmio! Nosso alvo é ter uma vida de
santidade que se assemelhe ao caráter de Cristo, pois somente assim estaremos
agradando ao Deus que nos chamou “...não ... para a impureza, e sim para a
santificação”, 1Ts 4.7.