PARA CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO
1. Herdeiros das Promessas: O Messias veio e voltará.
Natal é, principalmente, a celebração
do cumprimento das promessas de Deus de que: “Do tronco de Jessé sairá um
rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do
SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de
fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR” (Is 11.1-2).
Ou ainda o Profeta Miquéias: “E tu,
Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti
me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos
antigos, desde os dias da eternidade” (Mq
5.2). Sim, Deus envia o ungido – o Messias – Jesus Cristo. A primeira
expressão vem do hebraico ham-mãsîah, e a segunda é procedente do grego Iesou
Christô, que significa: Jesus Cristo, a qual foi e é para a Igreja Cristã a
promessa de Deus que se realizou.
O Messias, Jesus Cristo, é aquele que
veio e voltará; disso se ocupa o primeiro documento cristão, que foi primeira
carta de Paulo aos Tessalonicenses, escrita por volta do ano 48-49 da era cristã.
A esse respeito se referia o Apóstolo Paulo: “O mesmo Deus da paz vos
santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros
e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23).
Ora, a Igreja somente tem uma escatologia
que trata dos últimos tempos e da segunda vinda de Jesus Cristo, porque um dia
Ele veio! Conforme o testemunho do Apóstolo João: “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória
como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
(Leia também 1Jo 1.1-3).
Preciso recordar esses fundamentos da
nossa fé, porque alguns inconsequentes no mundo evangélico têm a ousadia de
pregar contra a celebração do Natal. Deixem-me dizer que, sem Natal, não há
Jesus Cristo, e, sem Jesus Cristo, não há salvação. As alegações são que o
Natal estaria vinculado às celebrações de divindades nórdicas, etc.; enfim, uma
sucessão de argumentos “históricos”, mal interpretados, e que só funcionam para
quem não conhece a história e a teologia.
Abomino as ideias daqueles que
esquecem a história e a tradição da Igreja, como se eles mesmos tivessem
inventado a Igreja; agora, esse tipo de arrogância é nociva ao mover do
Espírito Santo nos 2000 de história da Igreja.
Não se tem absoluta certeza da data
exata do nascimento de Jesus, no entanto, sabemos e cremos que Ele nasceu. E,
desde muito cedo, na história da Igreja, o nascimento de Jesus foi celebrado. A
maioria dos estudiosos do Evangelho de João reconhece nele diversas partes como
elementos da celebração cúltica da Igreja Primitiva; uma das mais notadas é a
do prólogo de João (cf. Jo 1.1-14).
Ou seja, a Igreja, desde o primeiro século, celebrou a vinda de Jesus ao mundo,
ou seja, o Natal. Com que direito alguns ansiosos por inventar modismos, querem
extinguir isto?
Insisto em que, anunciar a sua vinda
ao mundo (Natal), é também anunciar sua segunda vinda: “Mas o anjo lhe disse:
Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e
darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e
será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu
pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim”
(Lc 1.30-33).
Vejamos como a comunidade de Mateus
faz refletir no Evangelho a sua visão de alguns dos sinais proféticos
sinalizados no nascimento de Jesus.
2. As preocupações do Evangelho de Mateus acerca de Jesus, o
Messias.
Uma das primeiras lições sobre o
Evangelho de Mateus é que ele foi desde cedo reconhecido como um Evangelho
dirigido aos judeus. Papias de Hierápolis, em torno do ano 130 da era cristã,
disse: “… Mateus ordenou em língua hebreia (mais provavelmente aramaico) os
ditos do Senhor (Jesus), e cada uma (das gerações posteriores) as interpretou
de acordo com sua capacidade”. Possivelmente, mais antigo ainda é o testemunho
de Ireneu, que disse: “Também Mateus, pregando entre os hebreus, publicou, em
sua própria língua hebraica, um escrito do evangelho, no mesmo tempo que Paulo
e Pedro pregavam o evangelho em Roma, e punham os fundamentos da Igreja”.
Há muitas outras evidências internas
no Evangelho que nos mostram o esforço de Mateus e a sua igreja, de provar
através das profecias que Jesus era, sim, o Messias prometido através dos
profetas. É o que veremos nos primeiros relatos do nascimento de Jesus,
conforme Mateus.
a) “E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que
se chama o Cristo” (Mt 1.16).
Vejam que Mateus limita a genealogia
de Cristo (o Messias) aos antecessores do povo eleito, começando com Abrão, o
patriarca da nação de Israel. Assim, o Evangelho não deixa dúvida: Jesus, o
filho de José, procede da raiz de Jessé, conforme as profecias (cf. Is 11.1). E este Jesus é o Cristo –
o Messias. Soma-se a isso que, na época de Jesus, o título messiânico lembrado
era Filho de Davi (cf. Mc 10.46).
b) “Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito
pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz
um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus
conosco)” (Mt 1.22-23).
Aqui, a profecia é citada por um anjo,
o que o caracteriza uma interferência divina e evidente na história: o anúncio
do nascimento ocorre por uma visita de Deus, através de seu anjo mensageiro.
Isso coloca a narrativa no nível dos momentos de visitação ocorridos no Antigo
Testamento, o significado é algo novo, que está começando, uma nova aliança
está sendo escrita.
O próprio conteúdo da profecia é sinal
disto: “… ele salvará o seu povo dos pecados deles …”, e ainda “… a virgem
conceberá …”, e mais: “… e Ele será chamado Emanuel, que quer dizer Deus
conosco.”
Quanto conteúdo profético de promessas
está chegando ao povo!
b.1) Anúncio de Salvação e Libertação.
Estas promessas são repetições de
vários momentos proféticos. A palavra profética de Jacó a seus filhos antes de
morrer: “A tua salvação espero, ó SENHOR!” (Gn 49.18). Ou ainda o cântico de Moisés ao vencer Faraó e seus
exércitos: “O SENHOR é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação;
este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai; por isso,
o exaltarei” (Êx 15.2). E o salmista
diz: “Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; proclamai a sua salvação, dia após
dia” (Sl 96.2). E, finalmente, a
salvação do Senhor é eterna: “Levantai os olhos para os céus e olhai para a
terra embaixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra
envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos, mas a
minha salvação durará para sempre, e a minha justiça não será anulada” (Is 51.6).
G. Bornkamm, em sua obra Zeit und Geschichte – Tempo e História –, põe relevo
na afirmação “salvará o seu povo”, no sentido universalista, ou seja, os que creem
no enviado de Deus, o Cristo. Tema que foi assumido por Paulo, por seu
discípulo Lucas, em quem a salvação é para todos, inclusive a genealogia é de
Jesus a Adão, ou seja, o Messias – Cristo veio para toda a criação.
b.2) Anúncio da presença constante do Deus que salva.
Cabe, ainda, sublinhar que o tema
Emanuel aponta o nome simbólico de Jesus. Emanuel significa Deus ajuda e salva
, e que tem a mesma raiz de Josué. O Emanuel indica exatamente a visita de
Deus; sim, através do Messias, o Cristo-Deus está no meio de seu povo; esse era
o sinal da profecia de Isaías 7.14:
Deus presente. Tema significativo a Mateus, que termina o Evangelho,
fortalecendo esse conceito: “… e eis que estou convosco todos os dias, até a
consumação do século.” Assim, o Natal celebra o Deus Salvador presente conosco.
c) “Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito
por intermédio do profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a
menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar
a meu povo, Israel” (Mt 2.5-6).
O conceito está escrito por intermédio
dos profetas, que reforça a ideia de Deus, desejando sempre ter seu povo junto
dele. Libertá-lo, resgatá-lo, abençoá-lo, sempre foi o objetivo da profecia,
mesmo quando ela anuncia o juízo e a condenação do pecado no meio do povo. A
vinda do Messias apontava o momento; assim estava denunciando o pecado, e, como
diz a profecia aqui apontada pelos mestres a Herodes: “… de ti sairá o guia que
há de apascentar o meu povo…” Sim, Jesus Cristo é como o ungido apresentado
como o grande Pastor de Israel e da Igreja. Nele se inspirou a pastoral da
Igreja Primitiva, e deve inspirar o nosso ministério pastoral, e o ministério
da Igreja, enquanto enviada a cuidar dos pobres e pecadores.
Isso foi muito bem sublinhado por Mateus no ministério de Jesus. Vejamos alguns
momentos.
c.1) Sua missão:
“… e, deixando Nazaré, foi morar em
Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de Zebulom e Naftali; para que se
cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Terra de Zebulom,
terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios! O povo
que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da
morte, resplandeceu-lhes a luz. Daí por diante, passou Jesus a pregar e a
dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.13-17).
Jesus sai do jejum e tentação no
deserto e cumpre a profecia de abrir os olhos do povo que estava em trevas e
pecado; o seu convite, centro de sua missão, foi: “… arrependei-vos [...] está
próximo o reino dos céus …” (Mt 4.17).
c.2) “… e passou a ensinar-lhes dizendo …” (Mt 5.2).
Essa frase introduz seu ministério de
discipulado aos discípulos e às multidões. O sermão do monte é a unidade
contínua mais completa do manual da vida cristã, sempre ancorada no ensino do
Antigo Testamento, algumas vezes radicalizando positivamente: “Ouvistes que foi
dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu,
porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão
estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará
sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao
inferno de fogo.” São os padrões da nova aliança, trazidos com a vinda de
Cristo Jesus ao mundo, e Ele exercendo o papel de Pastor e Mestre.
c.3) “Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se
dela e curou os seus enfermos” (Mt 14.14).
Aqui, Jesus expressa literalmente seu
coração de pastor, compadeceu-se de seu povo, de suas enfermidades, de suas
dores, de suas necessidades. Este padrão é trazido ao mundo na pastoral de
Deus, através do Messias. Esta sensibilidade espiritual, messiânica, estava no
coração de Jesus, e deve estar no coração de nossos pastores e pastoras, e,
acima de tudo, deve estar no coração da Igreja como povo de Deus, chamado a ser
sinal profético ao mundo. Sim, precisamos ter os olhos de Deus, os ouvidos de
Deus e, acima de tudo, o amor de Deus. E chegarmos ao povo e dizer como Jesus
disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é
suave, e o meu fardo é leve” (Mt
11.28-30).