Vitória Sobre a Murmuração

Nm 11.1; 1Co 10.10-12

 

Autoria desconhecida

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

                                                             Introdução            

 

A maioria das pessoas teria motivos mais que suficientes para estar satisfeita. Infelizmente, porém, muitas não estão satisfeitas. Vivem descontentes, queixosas, mal-humoradas. São abençoadas com vida e saúde, trabalho e sustento, família e amigos, mas acham que tudo poderia ser melhor.

 

Segundo as estatísticas, satisfação não está diretamente relacionada com bens materiais. Na Suécia, por exemplo, a cada 100 mil habitantes, 15 dão cabo da própria vida. Na Noruega e na Finlândia, segundo e terceiro colocados no ranking dos países mais ricos, são 18 a 29 suicidas em cada 100 mil habitantes, respectivamente. Já o Brasil, com tantas mazelas, está em 71° lugar nas estatísticas mundiais de suicídio, quatro a cada 100 mil habitantes.

 

Aprendemos na Bíblia que a murmuração é uma atitude ou sentimento que desagrada a Deus. É como disse T. Watson: "Nossa murmuração é a música do diabo; trata-se do pecado que Deus não pode suportar". O estudo desta ocasião é sobre a cura da enfermidade da murmuração.

 

                                                1. O que é a murmuração?                     

 

A insatisfação se revela pela murmuração. Murmurar significa queixar-se em voz baixa, lastimar-se, resmungar; censurar ou repreender disfarçadamente e em voz baixa; dizer mal, maldizer ou conceber mau juízo.

 

Na Bíblia aprendemos que a murmuração é um pecado que causa pesar ao Senhor. A ira do Senhor se volta contra os murmuradores: Queixou-se o povo de sua sorte aos ouvidos do Senhor; ouvindo-o o Senhor, acendeu-se-lhe a ira, e fogo do Senhor ardeu entre eles e consumiu extremidades do arraial, Nm 11.1. A murmuração se manifesta contra Deus e contra as pessoas, principalmente aquelas que estão exercendo alguma liderança.

 

A geração do êxodo liderada por Moisés foi o maior exemplo de murmuração e descontentamento, Êx 14.11-12; 15.23-24; 16.8; 17.3; Nm 11.1-15; 14.26-27; 16.41; Dt 1.27. Vários vocábulos na língua hebraica são utilizados para descrevera murmuração: queixar-se (anan), Nm 11.1; contenda, disputa, rixa, rebelião (rib), Pv 17.1.

 

No Novo Testamento, os maiores murmuradores foram os fariseus, Lc. 5.30; 15.1-2; Jo. 6.41-42. No original grego encontramos três vocábulos para descrever a insatisfação: murmuração (goggusmos) Fp 2.14; queixa ou motivo de queixa (momphe) Cl 3.13; e gemer, lamentar, queixar-se, reclamar (stenadzo) Mc 7.34; Hb. 13.17; Tg. 5.9.

 

2. As causas e consequências da murmuração

 

Aprendemos na Bíblia que há pelo menos três causas para a insatisfação e, consequentemente, para a murmuração:

 

2.1. A natureza pecaminosa do homem

 

Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados, Lm 3.39. Este versículo nos ensina que a insatisfação enraíza-se na nossa natureza pecaminosa. Judas, ao escrever sobre os falsos mestres e suas impiedades, chama-os de homens ímpios, e afirma que os tais são murmuradores e descontentes, Jd 16. A natureza humana é por si mesma, insatisfeita e murmuradora.

 

2.2. Quando expectativas e desejos pessoais são frustrados

 

Há descontentamento quando a pessoa imagina que acharia prazer nas coisas que lhe foram negadas ou tiradas. O povo de Israel tinha o maná de Deus, que vinha do céu diariamente, mas suspirava por peixes, pepinos, cebolas e melões, alimentos que recebiam no Egito, Nm 11.1-6.

 

2.3. A Incredulidade ou falta de confiança em Deus

 

Deus foi o responsável em tirar o povo do Egito e conduzi-lo para uma terra deleitosa. No percurso, porém, muitas dificuldades foram enfrentadas. O povo murmurava todas as vezes que enfrentava uma dificuldade, mesmo sabendo o que Deus tinha feito no passado. Quando os espias relataram sobre a visita que fizeram à terra prometida, que deveria ser conquistada, com a ajuda do Senhor, o povo respondeu com incredulidade e murmuração, Nm 14.1-12.

 

A murmuração é uma ofensa a Deus, uma agressão à Sua maneira de nos tratar. Deus pune com rigor a todos os murmuradores. Disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio dele? Com pestilência o ferirei e o deserdarei; e farei de ti povo maior e mais forte do que Ele, Nm 14.11-12. Após dez atos de murmuração daquela geração que saiu do Egito, Deus os puniu matando-os no deserto e permitindo que somente Josué e Calebe entrassem na terra prometida, Nm 14.20-24.

 

3. Como ser curado da murmuração?

 

Encontramos na Palavra de Deus o remédio para a insatisfação e murmuração. Vejamos alguns princípios:

 

3.1. Aceite a Jesus como seu Salvador pessoal

 

Jesus Cristo é a fonte de toda satisfação pessoal. Ele satisfaz as necessidades da alma. Ele declara: "Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede", Jo 6.35. A fome e a sede são usadas aqui para descrever a necessidade do coração humano, Is 55.1-5.

 

3.2. Aprenda a viver contente em toda situação

 

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação, Fp 4.11. A expressão aprendi a viver indica que o contentamento é algo que precisa ser aprendido, principalmente, após a nossa conversão a Cristo. O viver contente possui duas faces: a primeira é um estado de espírito e a segunda é uma reação interior às circunstâncias da vida.

 

3.3. O contentamento, a alegria e a gratidão são mandamentos de Deus

 

Ainda que não tenhamos motivos circunstanciais para o contentamento, precisamos entender que a satisfação é um mandamento de Deus que precisamos obedecer.

 

Observe o ensino bíblico:

 

Fazei tudo sem murmurações nem contendas…, Fp 2.14. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos, Fp 4.4. Regozijai-vos sempre, 1Ts 5.16. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco, 1Ts 5.18.

 

3.4. Por causa da nossa maldade merecemos muito mais malefícios do que benefícios

 

Às vezes achamos que somos bons e outras pessoas merecem ser castigadas. Parece até que Deus tem a obrigação de nos abençoar ou impedir que coisas ruins aconteçam conosco. Jesus, porém, nos adverte: Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis, Lc 13.2-3.

 

3.5. Qualquer que seja o meu sofrimento, ele será sempre menor do que aquele que Jesus Cristo sofreu

 

Precisamos olhar o exemplo de Jesus e segui-lo: "… pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente", 1Pe 2.23. Jesus é o maior exemplo de contentamento, pois mesmo sofrendo injustamente, não ficou amargurado nem revoltado, pois sabia que o sofrimento fazia parte da sua humilhação.

 

Conclusão

 

A murmuração é filha da insatisfação, que tem sido o traço mais marcante da vida de muitos que se abrigam na Casa de Deus. Para um ateu a murmuração é justificável, mas, para um filho de Deus, não.

 

Na famosa parábola do Filho Pródigo, Jesus ilustra o espírito de insatisfação e murmuração por meio do segundo filho, aquele que ficou em casa. Estava sob o teto do pai, era dono de tudo, mas não conseguia se alegrar com o que tinha. Ele era filho, mas se achava um empregado, Lc 15.25-32.