A ARCA DA ALIANÇA
ÊX 25.10-22
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
Pudemos
ver no estudo anterior como o Véu desempenhava importante função no
Tabernáculo. Era ele que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo, onde
somente o Sumo-Sacerdote podia adentrar, e isto uma só vez no ano, ou seja, no
Dia da Expiação (rpk Mwy - yowm kippur). Com a morte do Filho de Deus, nos
relatam as Escrituras que o Véu do Templo se rasgou de alto a baixo, tornando
aquele local, um local de livre acesso para todos! Agora tanto judeus, como
gentios, mulheres, podiam olhar para dentro do Santo dos Santos sem o risco de
perder a vida. Isto nos quer dizer que daquele momento em diante todos, sem
exceção, temos acesso direto a Deus e não mais precisamos de representantes, ou
intercessores. Hoje queremos falar sobre a Arca da Aliança.
I. ARCA DA ALIANÇA
1.
A Arca da Aliança (tyrb Nwra - 'arown beriyth) era um baú construído de madeira
de acácia e media cerca de 1,25 metros de comprimento; 0,75 metros de largura;
0,75 metros de altura (considerando que o côvado equivalia a 45 ou 50
centímetros), Êx 25.10, "Também farão uma arca de madeira de acácia; de
dois côvados e meio será o seu comprimento, de um côvado e meio, a largura, e
de um côvado e meio, a altura". Era coberta de ouro puro por dentro e por
fora com uma bordadura de ouro ao redor, com quatro argolas de ouro nos cantos
para ser carregada por meio de varais de madeira recobertos com ouro, Êx
25.11-13, "11 De ouro puro a cobrirás; por dentro e por fora a
cobrirás e farás sobre ela uma bordadura de ouro ao redor 12 Fundirás para ela
quatro argolas de ouro e as porás nos quatro cantos da arca: duas argolas num
lado dela e duas argolas noutro lado. 13 Farás também varais de madeira de
acácia e os cobrirás de ouro". Uma outra descrição semelhante nos é
mostrada por Mesquita:
"Esta peça era de madeira de acácia,
toda forrada de ouro por dentro e por fora, com uma bordadura em volta, também
de curo. A arca tinha quatro argolas e dois varais, que não poderiam ser
retirados do lugar, e tudo revestido de ouro. O metal mais precioso e
incorruptível, bem como a madeira mais incorruptível foram usados na construção
da arca".(1)
2.
A Arca era coberta com uma tampa chamada propiciatório (trpk - kapporeth) e
adornada por dois querubins, também feitos de ouro maciço, que ficavam frente-a-frente
com as faces voltadas para o centro da Arca. Dentro da Arca, ficavam as Tábuas
da Lei, o Pote de Maná, e a Vara de Arão que florescera, Hb 9.4,
"que tinha o incensário de ouro, e a arca do pacto, toda coberta de ouro
em redor; na qual estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de
Arão, que tinha brotado, e as tábuas do pacto". Cole nos fala sobre a
Arca, sua tampa, ou o propiciatório, com as seguintes palavras:
"... sendo feita de madeira de acácia,
revestida de ouro e lisa, à exceção da "tampa" (chamada
"propiciatório" no v. 17) da qual faziam parte dois pequenos
querubins também de ouro maciço, cujas faces estavam voltadas para o centro da
arca. Argolas de ouro eram colocadas nos cantos da arca e através delas eram
inseridos varais de madeira de acácia revestidos de ouro, com os quais a arca
era carregada. Essencialmente, a arca era uma caixa sagrada, facilmente
carregada, que continha as duas tábuas de pedra gravadas com a lei. A
‘cobertura’, sob a sombra das asas dos querubins, também era considerada como o
trono do Deus invisível, que ali encontraria e falaria a Israel (v. 22)".(2)
Descrevendo
propiciatório, nos relembra Cole:
"Trata-se aqui de interpretação, não de
tradução, do termo hebraico kappôret. Em seu sentido original pode
significar ‘tampa’ ou ‘cobertura’ (embora este sentido original não seja
encontrado em nenhum outro lugar no Velho Testamento) ou ‘aquilo que faz
propiciação’, no sentido metafórico do verbo ‘cobrir’. Este sentido deve
certamente estar incluído aqui, em vista de expressões como o ‘dia da
expiação’, palavra que vem da mesma raiz (Lv 23:27; literalmente ‘dia da
cobertura’). Tal expiação não era realizada normalmente perante a arca, mas
pelo sangue derramado sobre o altar Lv 17:11): a transferência, contudo, é
fácil e natural".(3)
Descrição
não menos importante sobre os querubins também nos é dada por Cole:
"Estes eram, mais provavelmente,
esfinges aladas com rostos humanos, a julgar pelas visões de Ezequiel 1 e
Apocalipse 4, bem como pelo uso do termo no Egito (embora os querubins sejam
mencionados em Gn 3:24, não são descritos). Na Assíria, o karubu (mesma
raiz semítica) tem a função de guarda de templo. Em Israel, os querubins
simbolizavam os espíritos que ministravam como servos e mensageiros de Deus (Sl
104.3,4) e por isso suas imagens não eram uma violação de (Êx) 20:4, já que
ninguém os adorava. Figuras de querubins, bordadas em cores vivas, eram
encontradas por toda a volta da cortina interior do Tabernáculo (36:35), de
modo que sua presença sobre a arca não era uma ocorrência isolada. O Templo de
Salomão possuía dois enormes querubins de oliveira, cobertos de ouro, de cinco
metros de altura, os quais pairavam sobre a arca (2 Cr 3:10). Este é apenas um
dos muitos detalhes em que o Templo de Salomão era mais elaborado do que os
planos aqui esboçados para o Tabernáculo".(4)
3.
Sabemos ainda que a Arca era "... o item mais conhecido do Tabernáculo,
famosa por seus misteriosos poderes contra os inimigos de Israel (1 Samuel
caps. 5 e 6)".(5) Um episódio interessante envolvendo a Arca
aconteceu nos dias do sacerdote Eli, quando numa guerra com os filisteus ela
foi levada para Asdote, uma cidade dos Filisteus, e colocada no templo de
Dagon, o deus principal dos filisteus. No dia seguinte a estátua de Dagon
estava caída com o rosto em terra. Novamente a estátua foi colocada em seu
lugar e no outro dia não somente estava caída, mas também tinha os seus braços
cortados, 1Sm 5.1-5. Veja como a situação dos moradores de Asdote se
agrava, com a permanência da Arca em seu meio, vs. 6-7: "6
Entretanto a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e os assolou, e os
feriu com tumores, a Asdode e aos seus termos. 7 O que tendo visto os homens de
Asdode, disseram: Não fique conosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é
dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus". Por causa disto, os filisteus
despacharam a Arca do Senhor para Gate, outra cidade filisteia, depois para
Ecrom, sempre deixando ela atrás de si, um tremendo rastro de destruição, vs.
8-12. Resultado: Os filisteus tiveram que devolvê-la a Israel (1Sm 5).
Queremos agora falar sobre os simbolismos que envolviam a Arca da Aliança.
II. SIMBOLISMOS
1.
Um primeiro ponto de simbolismo envolvendo a Arca da Aliança pode ser visto na
disposição que ela ocupava dentro do Tabernáculo, bem como as restrições em
torno dela. Como já vimos anteriormente, somente o Sumo-Sacerdote podia
adentrar o Lugar Santíssimo onde permanecia a Arca, e isto somente uma vez por
ano, no dia da Expiação para oferecer o sacrifício anual por si mesmo e pelo
povo. Em razão disto, podemos afirmar que ela representava o Trono de Deus no
interior do Tabernáculo, que estava ali para julgar as ações de seu povo e
também para transmitir-lhes os princípios e ensinamentos de sua Palavra, Êx
25.22, "E ali virei a ti, e de cima do propiciatório, do meio dos dois
querubins que estão sobre a arca do testemunho, falarei contigo a respeito de
tudo o que eu te ordenar no tocante aos filhos de Israel". Sobre esta
particularidade nos escreve Barrow:
"A Arca era o trono de Deus em Seu lugar
de habitação no Tabernáculo. Muitas pessoas, corretamente, associam a Arca da
Aliança com o julgamento e a ira de Deus. O dia em breve virá, quando Deus
julgará os segredos dos homens (Romanos 2:16) e "Do céu se manifesta a ira
de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em
injustiça" (Romanos 1:18). "Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o
que formou o olho, não verá?”(Salmo 94:9). Caso você não esteja certo disto,
leia a respeito do grande trono branco do julgamento de Deus em Apocalipse
20:11-15. Mas havia uma tampa na Arca, conhecida como Assento de Misericórdia,
ou Propiciatório. Era aqui que o sangue do bode era aspergido pelo sumo
sacerdote no dia da Expiação, para aplacar a justa ira de Deus (propiciação)
contra os pecados do povo de Israel".(6)
2.
Observe que os querubins, símbolo inegável da presença de Deus, estavam sobre a
Arca e não dentro dela. As Escrituras afirmam que Deus habita no meio dos
querubins. Um texto que nos fala sobre esta particularidade de Deus é 2Sm
6.2: "Depois levantou-se Davi, e partiu para Baal-Judá com todo o povo
que tinha consigo, para trazerem dali para cima a arca de Deus, a qual é
chamada pelo Nome, o nome do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os
querubins". Observe que este texto de 2 Samuel é uma referência ao
transporte da Arca por Davi para Baal-Judá, quando ela foi transferida da terra
dos filisteus para a terra de Israel. Outro texto semelhante é Salmo 99.1:
"O Senhor reina, tremam os povos; ele está entronizado sobre os querubins,
estremeça a terra". Cole nos fala da Arca como símbolo da presença de
Deus:
"A arca sempre foi considerada um
símbolo visível da presença de Deus e, como tal, ao tempo de Moisés, era
saudada ao sair e ao entrar no Tabernáculo (Nm 10:35,36). Ao tempo de Eli, era
erroneamente considerada um ‘amuleto’ mágico capaz de assegurar proteção divina
(1Sm 4:4). Davi se recusou a recorrer erroneamente à proteção divina como seus
predecessores (2Sm 15:25) e Jeremias anteviu o dia em que tal símbolo se
tornaria desnecessário (Jr 3:16).(7).
3.
Havia sobre a Arca uma "... coroa ou auréola de ouro se encontrava ao
redor da Arca (Êxodo 25:11), falando da excelsa glória de Cristo, e formando
também como uma espécie de proteção contra toda irreverência ante ao ministério
de sua Pessoa (a mesma coroa se vê no Altar de Ouro e na Mesa de dos
Pães)".(8) Esta coroa de ouro ao redor da Arca, certamente é um
símbolo perfeito de Cristo, que embora se fez homem, humilhando-se através da
morte na cruz, hoje está coroado de glória ao lado do Pai, Hb 2.9,
"... vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos,
Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela
graça de Deus, provasse a morte por todos".
4.
Já o propiciatório (trpk - kapporeth), um tipo de tampa, significa o lugar onde
Deus está, e é ali que o homem se encontra com Ele. Conforme nos diz Hurtado:
"O propiciatório era o lugar de encontro
de Deus com o homem e tem um duplo sentido: a) Aarão, o sacerdote,
representando o povo diante de Deus, que o socorria mediante o sangue. b)
Moisés, o enviado de Deus, o apóstolo, recebia ali as mensagens de Deus para o
povo (êxodo 25.22). O Senhor Jesus em Hebreus 3.1, reúne o duplo caráter de
Moisés e de Aarão, quando é chamado de "Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa
confissão".(9)
5.
Ainda dentro da simbologia do propiciatório, devemos considerar o significado
da própria palavra trpk – kapporeth cuja raiz significa "cobrir". É
por esta razão que o Dia da Expiação, também podia ser chamado de "Dia da
Cobertura". Ou seja era o dia em que os pecados do povo eram cobertos,
perdoados, mediante o sangue derramado de uma vítima. É neste sentido que Jesus
é a propiciação pelos nossos pecados, 1 Jo 2.2, "E ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos
de todo o mundo". No grego temos "ilamov - hilasmos", também com
a ideia principal de "expiar", "cobrir". Mediante o sangue
de Cristo, nossos pecados são cobertos, perdoados, não levados em conta,
"ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para
demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os
delitos outrora cometidos", Rm 3.25.
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "A Arca da
Aliança". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G.
Gardner 03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.
MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia. Estudo
do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971.
SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. I, págs.143-154.
HURTADO, Juan Anca. Artigo "El tabernáculo y sus
utensilios (sus significados)". www.monografias.com
NOTAS:
(1) MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia.
Estudo do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971.
Pág. 260.
(2) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 184.
(3) Id. Ibid, pág. 185.
(4) Id. Ibid, pág. 185.
(5) BARROW, Martyn. Artigo "A Arca da
Aliança". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina
Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.
(6) Id. Ibid.
(7) COLE, Alan, Ph.D., op. cit. pág. 185
(8) HURTADO, Juan Anca. Artigo "El tabernáculo y sus utensilios (sus
significados)". www.monografias.com
(9) Id. Ibid.