A PIA
ÊX 30.17-21
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
No
estudo anterior estivemos falando sobre o Altar dos Holocaustos, que era o
lugar onde os sacrifícios eram realizados. Era ali que o pecador, trazendo a
vítima para o sacrifício comparecia e mediante a intercessão do sacerdote, a
oferenda era feita ao Senhor. Todos nós precisar chegar ao Altar do Holocausto
e isso somente pode ocorrer através do Filho de Deus - Jesus, o Messias, que
deu a sua vida por nós em sacrifício agradável a Deus. Ele ofereceu a sua vida
por nós e espera uma resposta do homem! Hoje queremos falar de mais uma peça do
Tabernáculo, a Pia de Bronze, que também apresenta simbolismos importantíssimos
para os filhos de Deus da presente era.
I. A PIA DE BRONZE
2.
Embora a Pia, não tenha suas dimensões claras descritas na Palavra de Deus,
podemos dizer que deveria ser um tanque pequeno, se formos levados a raciocinar
que somente Arão, juntamente com seus filhos deveriam banhar-se nele. Cole faz
uma descrição e ao mesmo tempo uma comparação entre a Pia de Bronze, e os
tanques de lavagem cerimonial e ainda o "mar de bronze" do Templo de Salomão:
"O tanque (cujas dimensões não são
oferecidas) era provavelmente bem pequeno; se considerarmos que apenas Arão e
seus filhos o utilizavam, as dimensões de uma grande ‘bacia’ seriam
inadequadas. Em contraste, Salomão tinha dez tanques de bronze no templo, além
do chamado ‘mar de bronze’, um recipiente de enormes proporções (ver 1 Rs 7).
Esta é apenas uma das muitas áreas em que o projeto do Templo diferia da planta
do Tabernáculo Em 38:8 há alguns detalhes intrigantes sobre a fonte de obtenção
do metal para o tanque, que também sugerem um tamanho pequeno, além da Fundição
de um objeto sólido a partir do metal (sem qualquer estrutura de
madeira)".(2)
3.
Um detalhe importante e que não podemos deixar de considerar é o fato de que a
Pia deveria ficar, como já vimos, no Átrio, após o Altar dos Sacrifícios. A
utilização dela, bem como a lavagem cerimonial deveria ocorrer antes que Arão e
seus filhos penetrassem no interior do Templo propriamente dito. Somente depois
de se lavarem, é que os sacerdotes poderiam adorar a Deus através do
oferecimento do incenso. Outro detalhe importante é que esta lavagem deveria
acontecer logo após o oferecimento dos sacrifícios, os quais normalmente
estavam envolvidos em muito sangue. Podemos pensar que após estes sacrifícios,
os filhos de Arão ficassem sujos fisicamente (já o eram espiritualmente), o que
caracterizava a lavagem purificativa na Pia de Bronze, para que eles pudessem
se apresentar diante do Senhor na ministração dos serviços sagrados.
4.
Os sacerdotes deveriam obedecer à risca este cerimonial de lavagem, sob a pena
de morrerem diante do Senhor, v. 20, "quando entrarem na tenda da
revelação lavar-se-ão com água, para que não morram, ou quando se chegarem ao
altar para ministrar, para fazer oferta queimada ao Senhor". Tal fato nos
mostra a importância desta purificação. "A frase, duas vezes repetida, ‘para
que não morram’ (20,21) mostra que o lavar tinha certa significação
cerimonial".(3)
5.
Agora estamos prontos para ver os simbolismos em torno da Pia de Bronze.
II. SIMBOLISMOS
1.
Nossa primeira observação sobre simbolismo, vem do fato de Arão e seus filhos
serem obrigados a se lavarem quando fossem se apresentar diante do Senhor, sob
o risco de morrerem se assim não fizessem. Devemos entender que todo homem
precisa passar pela purificação, antes de aproximar-se do Senhor para adorá-LO
e servi-Lo. Esta limpeza acontece, quando a Palavra de Deus penetra em nosso
íntimo. É no interior do homem que a Palavra de Deus promove a necessária
purificação e limpeza, qualificando-o a estar na presença do Senhor. Jesus quer
para si um povo limpo através da Palavra, Ef 5.25-26, "...como
também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
2.
Olhando para o Novo Testamento, podemos notar através de textos específicos,
que a água nos é apresentada como símbolo de duas verdades fundamentais:
símbolo da Palavra de Deus e símbolo do batismo. Veja a observação de Barrow:
"O Novo Testamento fala do
"lavar" em dois sentidos:
1 - O Batismo (Atos 22:16), que deve ser
ministrado apenas uma vez (quando Bíblico), e, logo após a conversão. (Atos
16:31-33)
2 - O lavar da água pela Palavra (Efésios
5:26; João 13:8-10; 15:18), de acordo com o padrão de Êxodo 29:39 pelo menos
duas vezes ao dia (de manhã e de tarde)".(4)
3.
É através da Palavra de Deus em nós que ocorre a nossa conversão, o nosso
retorno para Deus. É quando nascemos de novo, 1 Pe 1.23, "tendo
renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de
Deus, a qual vive e permanece". E é também através do batismo que
confirmamos nossa entrada para a Igreja de Cristo (obs. batismo não salva, mas
é necessário após a salvação), At 8.36-38, "36 E indo eles
caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o eunuco: Eis aqui
água; que impede que eu seja batizado? 37 E disse Felipe: é lícito, se crês de
todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de
Deus. 38 mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o
eunuco, e Filipe o batizou". Certamente estes dois exemplos: a Palavra de
Deus e o batismo, expressam o fato de que o homem precisa ser lavado, purificado,
tornando-se apto para entrar para o Reino de Deus. Dentro deste prisma comenta
de Barrow:
"Depois de crer no Senhor Jesus e ter
experimentado de que Ele é a Porta através da qual nós entramos no Reino de
Deus, nós devemos ir a Ele diariamente de forma simples e sincera. Nós
necessitamos ler a Palavra de Deus pela Bíblia para que possamos viver por Ele
(Mateus 4:4) e confessar nossos pecados para Deus, pois Ele é fiel e justo para
nos perdoar e nos purificar (I João 1:7-9). Quando Deus perdoa, Ele esquece (Hebreus
8:12). Esta é a experiência combinada da Pia e do Altar de Holocausto".(5)
3.
Um fato interessante sobre a lavagem cerimonial nos é registrado por João no
capítulo 13 de seu Evangelho, quando Jesus praticou a cerimônia do "lava
pés", junto aos seus discípulos, para ensinar-lhes uma lição de humildade.
Observe que Pedro pede ao Senhor que lave não somente os seus pés, mas também
suas mãos e sua cabeça, v. 9. Porém, veja você, a resposta que lhe foi
dada pelo Senhor: "... Aquele que se banhou não necessita de lavar senão
os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos, mas não todos",
v. 10. Certamente a expressão de Jesus "...estais limpos", é
uma referência à limpeza que Sua Palavra havia produzido neles. Já a expressão
"não todos", se refere com toda clareza e certeza a Judas Iscariotes,
que nunca passou pelo novo nascimento. Nos sabermos que foi ele quem traiu ao
Senhor, por trinta moedas de prata, Mt 26.14-16. Basta lembrarmos que
numa determinada ocasião Judas foi chamado pelo Senhor de "filho da
perdição", exatamente porque ele não havia sido limpo, purificado pela
Palavra de Deus, Jo 17.12. Observe agora o comentário de Barrow:
"É importante ler a Bíblia, por que a
Palavra de Deus "lava" nossas "mãos" e "pés",
especialmente da sujeira do mundo que nos rodeia. Ela nos dá a visão de Deus da
nossa conduta diante do mundo e dos pensamentos das nossas mentes e corações
(Gênesis 6:5). Quando Efésios 5:26 fala da lavagem da água, pela Palavra, a
palavra no Grego para lavagem é "Pia". Enquanto nós lemos Sua
Palavra, o Senhor ilumina nossos corações e fala conosco, principalmente em
nossa consciência. De acordo com o que Deus nos mostra, nós precisaremos
confessar e pedir o perdão e purificação dEle. Somente assim estaremos
qualificados para aproximar ao Santuário.
O efeito da lavagem (Pia) na Palavra é
limpar: "Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o
conforme a Tua palavra" (Salmo 119:9). A leitura resulta em nós na
transformação da imagem de Cristo. Nós tornamos a ser separados para Deus.
‘Santo’ ou ‘Santificado’ quer dizer exatamente isto: separados para Deus. Estas
pessoas santificados são chamados de "santos" no Novo Testamento.
Paulo escreve: "À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em
Cristo Jesus, chamados (para ser) santos, com todos os que em todo o lugar
invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso"
(I Coríntios 1:2)".(6)
4.
Devemos ainda, considerar o fato de que a não observância correta da
purificação pelos sacerdotes, implicava na morte dos transgressores. Isto nos
fala do juízo de Deus, sobre aqueles que ousam aproximar-se para servir a Deus
sem os devidos cuidados. Tais pessoas certamente serão julgadas por Deus. Um
exemplo semelhante de como podemos afrontar a Deus e receber a justa punição,
está na observância da Ceia do Senhor. Paulo descreve que muitos crentes
coríntios estavam doentes, fracos e alguns que até já haviam falecido, por
participarem de maneira indignamente da Mesa do Senhor, 1 Co 11.29-30,
"29 Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se
não discernir o corpo do Senhor. 30 Por causa disto há entre vós muitos fracos
e enfermos, e muitos que dormem". Observe o que nos diz Hurtado:
"Se descuidarmos do juízo diário a nós
mesmos e participar da Ceia do Senhor neste estado, ficamos expostos ao juízo
do Senhor. Por esta razão muitos em Corinto estavam debilitados, enfermos,
inclusive dormiam, ou seja estavam mortos; podemos ver nesse exemplo um ensino
moral, pois se deixarmos de julgar a nós mesmos para tomarmos a Ceia do Senhor
(abster-se, talvez seja mais grave), estaremos espiritualmente debilitados, ou
enfermos (uma ovelha enferma que se aparta do rebanho), ou inclusive seremos
vencidos por um sono espiritual (Efésios 5.14). Se é este o caso, quão
importante é despertar-se "levantar-se dos mortos" (VM) para
reencontrar a luz e a paz de Cristo".(7)
4.
Terminamos assim nossas observações sobre a Pia, instrumento que servia para a
purificação e limpeza dos sacerdotes, para que desta maneira eles pudessem
ministrar diante do Senhor. Não podemos nos esquecer que precisamos também ser
"limpos" através da ação da Palavra de Deus em nós, para podermos
servir condignamente diante dEle.
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "A Pia". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo
Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner
03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.
HURTADO, Juan Anca. Artigo "El
tabernáculo y sus utensilios (sus significados)".
www.monografias.com.
SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. I, págs. 143-154.
NOTAS:
(1) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 200.
(2) Id. Ibid., pág. 200.
(3) SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia.
Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, pág. 148.
(4) BARROW, Martyn. Artigo "A Pia". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org.
Tradução: Pastor Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.
(5) Id. Ibid.
(6) Id. Ibid.
(7) HURTADO, Juan Anca. Artigo "El tabernáculo y sus utensilios (sus
significados)". www.monografias.com.