A CONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO
ÊX 25.8-9; 31.1-11
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1.
O projeto de Deus para a construção do Tabernáculo foi transmitido a Moisés,
quando ele estava conduzindo o povo de Israel à terra de Canaã, terra esta que
fora prometida aos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó. Devemos lembrar que a
palavra "tabernáculo", vem do termo hebraico "Nkvm" –
mishkan, que significa "lugar de moradia", "habitação". O
tabernáculo nada mais era do que uma tenda, construída de madeira, metais e
cortinas. Seria um local de onde dali para a frente, Deus se faria presente no
meio de seu povo, para trazer-lhe as instruções e revelações de sua vontade.
2.
O Tabernáculo é também chamado de "tenda da congregação" (dewm lha - 'ohel
mow`ed), Êx 27.21; Êx 28.43. Quando olhamos um pouco mais atrás na história do
êxodo, iremos observar que o Senhor até então, esteve junto de seu povo numa
coluna de nuvem e de fogo, Êx 13.21-22, "21 O SENHOR ia adiante
deles, durante o dia, numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante
a noite, numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia
e de noite. 22 Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a
coluna de fogo durante a noite". Dali para a frente, porém, o lugar da
revelação de Deus ao seu povo, seria exclusivamente na tenda da congregação.
Seria neste local, que de agora em diante, o Todo-Poderoso falaria a Moisés e
consequentemente ao seu povo, transmitindo-lhes as leis e os princípios de
obediência à sua vontade soberana.
3.
Quando Moisés subiu o Monte Sinai, dentre as instruções divinas dadas ali,
estava a instrução para a construção do Tabernáculo. O modelo dado a Moisés
deveria obedecer em detalhes o projeto a ele revelado no monte, Êx 25.8-9,
"8 E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles. 9 Conforme a
tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os
seus móveis, assim mesmo o fareis". Podemos afirmar com toda certeza que o
principal objetivo de Deus ao ordenar a construção do Tabernáculo era fixar
residência, morar junto ao seu povo.
4.
Não devemos achar que esta construção foi por acaso! Ao olharmos atentamente
para o tabernáculo, juntamente com todos os seus compartimentos, móveis,
utensílios, etc., certamente iremos observar que além dele haver sido o local
da presença constante de Deus no meio de seu povo, ele tem também uma
representação simbólica. Ele representa nosso corpo, que hoje é o
"santuário de Deus", 2 Co 6.16, "...Pois nós somos
santuário de Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei;
e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo". Representa também o
Tabernáculo Eterno, a Nova Jerusalém, que será a morada definitiva de Deus como
o Seu povo, Ap 21.2-3, "2 E vi a santa cidade, a nova Jerusalém,
que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o
seu noivo. 3 E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o
tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o
seu povo, e Deus mesmo estará com eles". Citando Machado:
"O Tabernáculo seria algo que homem
algum jamais teria imaginado. Foi construído para que as verdades fundamentais
no Novo Testamento fossem compreendidas. Cada detalhe e objeto falava da obra
redentora de Jesus Cristo".(1)
5.
Queremos iniciar hoje, um estudo sobre o Tabernáculo, seus compartimentos, os
materiais usados, os móveis, etc., e esperamos que os irmãos sejam edificados
através deste estudo. Devido a extensão do tema faremos o estudo por partes,
obedecendo as disposições encontrada em Êx 25-27.
I. O TABERNÁCULO
1.
Sabemos que o Tabernáculo era divido em três partes. O Átrio, o Lugar Santo, e
o Lugar Santíssimo. O Lugar Santo e o Lugar Santíssimo, eram separados por uma
cortina dependurada por colchetes, que em nossas versões é chamada de
"véu" (tkrp - poreketh). Vejamos alguns detalhes destas partes:
a)
O Átrio. Neste local podiam ficar apenas os israelitas declarados
cerimonialmente puros. Sabemos que alguns judeus e principalmente os gentios
eram considerados "impuros", "profanos" e por esta razão
não podiam participar das cerimônias religiosas. Já a mulheres, pela própria
cultura dos hebreus eram discriminadas e não podiam cultuar a Deus juntamente
com os homens. Por esta razão ficavam fora dos compartimentos sagrados. Todas
estas barreiras foram derrubadas por Cristo, Gl 3.26-28, "26 Pois
todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. 27 Porque todos quantos
fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. 28 Não há judeu nem
grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois
um em Cristo Jesus". Era no Átrio que ficava a Pia e o Altar do
Holocausto. Todo ritual de sacrifício acontecia ali.
b)
O Lugar Santo. Este lugar é local onde os sacerdotes oficiavam perante o
Senhor. O Lugar Santo é também chamado nas Escrituras de "Primeiro
Tabernáculo", ou "Primeira Tenda" Hb 9.6, "Ora,
estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda
os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados". "Dentro do Lugar
Santo, havia a "Mesa com os Pães (por dentro no topo); o
Castiçal (por dentro no fundo); o Altar de Incenso (no meio); o Véu
(no meio, ao lado esquerdo do centro) separava o Lugar Santo da sala mais
interna".(2)
b)
Lugar Santíssimo, ou Santo dos Santos. Também chamado de "Segundo
Tabernáculo", ou "Segunda Tenda", Hb 9.7, "...mas na
segunda só o sumo sacerdote, uma vez por ano, não sem sangue, o qual ele
oferece por si mesmo e pelos erros do povo". Correspondia à "sala
interna, para o lado ocidental (o lado esquerdo) era chamado o Santo dos
Santos, aonde somente um homem (o sumo sacerdote) podia entrar uma vez por ano;
este era o lugar onde a glória e a presença de Deus residia sobre a Arca da
Aliança".(3)
2.
Como já mencionamos, o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo, eram separados por uma
cortina divisória, o véu, Hb. 9.1-4, 1 Ora, também o primeiro pacto
tinha ordenanças de serviço sagrado, e um santuário terrestre. 2 Pois foi
preparada uma tenda, a primeira, na qual estavam o candeeiro, e a mesa, e os
pães da proposição; a essa se chama o santo lugar; 3 mas depois do segundo véu
estava a tenda que se chama o santo dos santos, 4 que tinha o incensário de
ouro, e a arca do pacto, toda coberta de ouro em redor; na qual estava um vaso
de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha brotado, e as tábuas
do pacto". Observe o comentário de Sheed sobre esta cortina divisória:
"A cortina divisória (pãrõkheth, em
nossa versão, ‘véu’, um termo usado para designar exclusivamente essa cortina),
era feita do mesmo material, com a mesma cor e com os mesmos padrões das demais
cortinas do tabernáculo, e ficava dependurada por meio de argolas de ouro,
sobre quatro colunas de madeira de acácia recobertas de ouro, postas de pé
sobre soquetes de prata. As colunas não tinham capitéis".(4)
3.
Não podemos nos esquecer que esta cortina (véu), rasgou-se de alto a baixo no
momento em que Jesus "rendeu o espírito", Mc 15.37-38,
"37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. 38 Então o véu do santuário
se rasgou em dois, de alto a baixo". Tal fato nos mostra que na morte de
Cristo ocorreu o rompimento das leis e tradições judaicas, onde todos os
sacrifícios foram extintos, também ficando extinto o sacrifício de animais
pelos pecados. Dali para a frente, somente um sacrifício seria reconhecido por
Deus, ou seja, o sacrifício de seu Filho Unigênito, Jesus Cristo.
II. SIMBOLISMOS
1.
Quando olhamos para a estrutura do Tabernáculo que era composto de três
compartimentos, o Átrio, o Lugar Santo e o Santíssimo Lugar, tal fato nos faz
lembrar de que como seres humanos, somos também compostos de três partes
importantes, ou seja, o corpo, a alma e o espírito. Queremos ver quais os
simbolismos que podem ser aplicados a partir desta comparação:
a)
O Átrio - representa o nosso corpo. Trata-se da parte externa, onde a
presença de Deus era menos sentida e a ação do pecado consequentemente mais
visível. Sabemos que nosso corpo atual, em virtude de sua corrupção, não poderá
herdar o Reino de Deus. Ele precisará ser transformado pelo Senhor, ou por
ocasião do Arrebatamento da Igreja, 1 Ts 4.17, ou na ressurreição dos
justos quando levantaremos do pó num corpo glorificado, 1 Ts 4.16. Paulo fala
com clareza da transformação de nosso corpo corruptível, num corpo
incorruptível, veja 1 Co 15.51-53: "51 Eis aqui vos digo um
mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos transformados, 52 num momento,
num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta
soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos
transformados. 53 Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da
incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade".
b)
O Santo Lugar - representa nossa Alma. Sabemos que a alma é a sede do
raciocínio, dos pensamentos, da vontade. É em nossa alma, a parte intermediária
entre o corpo e o espírito, que nossos projetos humanos são tramados,
elaborados, para serem postos em ação através do corpo! Porém sabemos que nossa
alma também está corrompida pelo pecado, e precisa ser restaurada pelo Senhor,
para pensarmos e agirmos de acordo com Sua vontade. Através da ação da Palavra
de Deus em nós, nossa alma é restaurada e ai sim, teremos pensamentos e ações
que condizem com o propósito de Deus para nós. O escritor da Carta aos Hebreus
nos informa que "... a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito,
e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração". Somente através da ação da Palavra de Deus em nós, nos cortando,
nos penetrando profundamente é que poderemos discernir corretamente nossos
"pensamentos" e "intenções" do coração, para desta maneira
levarmos uma vida cristã que agrade ao Senhor.
c)
O Lugar Santíssimo - representa nosso espírito. O espírito é a parte
mais interior do homem e é através dele que podemos nos envolver com Deus e
manter comunhão com Ele. "O ESPIRITO nos dá consciência de Deus e é
através dele que nos relacionamos com o Altíssimo".(5) Esta
verdade é clara quando Jesus disse à mulher samaritana, que a verdadeira
adoração somente pode ser realizada, quando ela ocorre através de um
entrelaçamento entre o espírito do homem e o Espírito de Deus, Jo 4.23-24,
"23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e
em verdade". No Édem, para que o homem pudesse relacionar-se de maneira
completa com o Criador, Deus colocou dentro dele a Sua "imagem e
semelhança", Gn 1.27, "Criou, pois, Deus o homem à sua imagem;
à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Acreditamos que esta
"imagem e semelhança", não poderia jamais ser na parte física do
homem, uma vez que Deus é Espírito e é somente em espírito que o homem poderia
ser parecido com Ele. Porém, assim como o corpo e a alma foram danificados e
destruídos pelo pecado, assim também, nosso espírito foi danificado e destruído
pelo mesmo pecado. Agora ele também precisa ser restaurado por Deus, para
voltarmos a ter novamente comunhão com Ele. Em relação a esta restauração do
espírito humano, podemos citar os seguintes textos:
c.1.
Restauração Profetizada, Ez 36.26-27, "26 Também vos darei
um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa
carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. 27 Ainda porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis
as minhas ordenanças, e as observeis".
c.2.
Restauração Pelo Novo Nascimento, Jo 3.5-6, "5 Jesus
respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no reino de Deus 6 O que é nascido da carne é carne,
e o que é nascido do Espírito é espírito".
c.3.
Restauração Para Viver no Espírito, Jo 7.38-39, "38 Quem crê
em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. 39
Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele
cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido
glorificado".
2.
Um outro símbolo envolvido no Tabernáculo, e que não deve ser desprezado é o
que se aplica à Nova Jerusalém, da qual o Tabernáculo terreno, a Tenda da
Congregação, foi apenas uma réplica, uma sombra. Acreditamos que a Nova
Jerusalém celestial, será o Tabernáculo perfeito e eterno, onde Deus habitará
para sempre com seu povo, Ap 21.3, "E ouvi uma grande voz, vinda do
trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com
eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles".
Alguns fatos importantes que podem nos servir de comparação ou contraste:
a)
Enquanto que no Tabernáculo terreno a presença de Deus era apenas temporária, e
se restringia exclusivamente ao Lugar Santíssimo, na Jerusalém Celestial a
presença de Deus inundará todos os lugares e será permanente, para sempre, Ap
21.22-23, "22 Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor
Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro.
b)
Enquanto que o Tabernáculo servia como ponto de encontro do povo com Deus, que
os recebia mediante os sacrifícios de bodes, carneiros, rolinhas, etc., e isso
através de um mediador – o sacerdote, na Nova Jerusalém Celeste, teremos apenas
um encontro com Deus e estaremos para sempre na Sua presença, gozando
eternamente a redenção completa, que foi realizada por um único sacrifício, o
sacrifício do Filho de Deus, que satisfez todas as exigências da lei,
possibilitando a nossa morada eterna com o Senhor, Hb 10.12,
"...mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se para sempre à direita de Deus".
3.
Assim, chegamos ao final de nossas considerações sobre o Tabernáculo, bem como
sua simbologia. Esperamos que você aplique estas verdades em sua vida, para
desfrutar de um melhor relacionamento com Deus em Sua Palavra!
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "O Santuário do
Tabernáculo". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G.
Gardner 03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
MACHADO, Célio. Artigo "TABERNÁCULO E SUA
TIPOLOGIA". http://www.biblia.8m.com.
SCOFIELD, C. I. Dr. A Bíblia Sagrada, com referências
e anotações. Editor Responsável: Wilbur M. Smith, D.D. Imprensa Batista
Regular. 1983.
SHEED, Russel. Bíblia Vida Nova. Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova. São Paulo.
SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. I, págs. 143-154.
SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. III, págs. 1553-1557.
SNELGROVE, Bernardo. Revista "Semeadura da
Verdade". Ministério Verdade Viva. Belo Horizonte-MG
NOTAS:
(1) MACHADO, Célio. Artigo "TABERNÁCULO E SUA
TIPOLOGIA". http://www.biblia.8m.com.
(2) BARROW, Martyn Artigo "O Santuário do
Tabernáculo". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina
Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.
(3) Id. Ibid.;
(4) SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova. São
Paulo. Vol. III, pág. 1554.
(5) SNELGROVE, Bernardo. Revista "Semeadura da
Verdade". Ministério Verdade Viva. Belo Horizonte-MG.