O ALTAR DO INCENSO
ÊX 30.1-10
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
No
estudo anterior pudemos ver o Castiçal, com toda simbologia inerente a ele.
Através do Castiçal, o instrumento utilizado para iluminar o interior do
Tabernáculo, vislumbramos a verdadeira fonte de luz – O Deus Todo-Poderoso, que
é Luz em sua essência! "Deus é Luz e não há nEle trevas nenhumas", 1
Jo 1.1. Não somente Deus é Luz, mas Ele quer que seus filhos, os
depositários da luz divina, sejam "luzeiros" num mundo envolvido em
densas trevas, debaixo do comando do príncipe das trevas, o Diabo. No presente
estudo, estaremos analisando o Altar do Incenso, bem como também a sua
simbologia.
I. O ALTAR DO INCENSO
1.
O Altar do Incenso - "trjq xbzm" (mizbeach qetoreth) era construído
de madeira e "... era de um tipo e tamanho bem conhecidos no mundo antigo.
Tinha o formato de uma pequena pilastra truncada, com pequeninos chifres nos
quatro cantos. Como os outros objetos no Tabernáculo, era feito de madeira de
acácia, revestido de ouro, e possuía argolas laterais através das quais, varais
podiam ser colocados para o seu transporte".(1) Em relação às
suas dimensões: seu comprimento, um côvado; sua largura, um côvado; e altura,
dois côvados, Êx 30.2, "O seu comprimento será de um côvado, e a
sua largura de um côvado; será quadrado; e de dois côvados será a sua altura;
as suas pontas formarão uma só peça com ele". "Ele era quadrado: meio
metro por meio metro de largura e um metro de altura".(2)
2.
Ele ficava no "Santo Lugar" no interior do Tabernáculo, bem em frente
da cortina que separava o Santo dos Santos. Citando Shedd:
"O altar do incenso ficava diretamente
defronte do véu que ocultava a arca, que estava dentro do santo dos santos;
aquele altar estava intimamente associado ao lugar santíssimo, pois a arca, sobre
a qual ficava o propiciatório, era o lugar onde Deus se encontrava com Seu povo
(Êx 30.6), e, visto como o incenso representa oração (Sl 141:2), o altar do
incenso era apropriadamente colocado próximo da arca, ainda que do lado de fora
do véu, pois o sacerdote tinha de usá-lo diariamente. Conf. Hb 9:4".(3)
3.
O ritual sacerdotal incluía a queima do incenso tanto pela manhã, como também à
tarde, como estatuto perpétuo ao Senhor, Êx 30.7-8, "7 E Arão
queimará sobre ele o incenso das especiarias; cada manhã, quando puser em ordem
as lâmpadas, o queimará. 8 Também quando acender as lâmpadas à tardinha, o
queimará; este será incenso perpétuo perante o Senhor pelas vossas
gerações". "Duas vezes por dia o incenso deveria ser oferecido pelo
sacerdote sobre este altar em miniatura, quando viesse verificar o pavio e o
azeite das lâmpadas".(4) Assim escreve Mesquita:
"Cada tarde, ao acender do candeeiro, seria
queimado incenso, enquanto o povo fora orava a Deus, e cada manhã, ao serem
apagadas as luzes, novamente era queimado o incenso. Era o incenso da manhã e
da tarde por todas as gerações". (5)
"Estoraque, ônica, e gálbano, incenso
puro, e sal puro e santo. A fórmula era propriedade divina e ninguém podia usar
dela em casa. O estoraque é uma resina comum da Arábia e que produz grande
fumaça ao ser queimada, tendo a propriedade de ser microbicida É usado em
medicina. A ônica não é muito conhecida, mas supõe-se ser a blatta
bysantina, uma espécie de concha marinha muito comum no Mar Vermelho e que
desprende grande cheiro ao ser queimada, O gálbano é muito conhecido dos
perfumistas; quando queimado só, tem um cheiro desagradável; mas, combinado com
outras especiarias, tem um cheiro ativo e agradável e em conjunto desenvolve as
propriedades dos outros elementos com que entra em combinação.(6)
Note
que havia um cuidado todo especial na preparação do incenso, com uma fórmula
minuciosa dada pelo Senhor, e que não podia ser alterada em hipótese alguma.
Caso a fórmula do incenso fosse adulterada, se tornava "incenso
estranho" perante o Senhor, "isto é, não preparado da maneira
prescrita, ou então oferecido impropriamente"(7). A fórmula do
incenso também não podia ser copiada para uso pessoal, sob pena de excomunhão,
ou seja quem assim o fizesse seria banido do meio do povo de Deus.
5.
Observe o texto de Números 16.17, "Tomou, pois, cada qual o seu
incensário, e nele pôs fogo, e nele deitou incenso; e se puseram à porta da
tenda da revelação com Moisés e Arão". De acordo com este texto, notamos
que o incenso até poderia ser oferecido em outros lugares, fora do Altar do
Incenso, mas teria que ser queimado nos recipientes apropriados, e somente
pelos sacerdotes. Note o comentário de Cole:
"É claro que, como demonstrado em
Números 16.17, o incenso poderia ser oferecido à parte de qualquer altar, sendo
queimado nos incensários; este altar específico, todavia, só poderia ser usado
para o incenso".(8)
6.
Com essas considerações, queremos agora falar nos simbolismos que envolvem o
Altar de Incenso.
II. SIMBOLISMOS
1.
O principal simbolismo ligado ao incenso é a oração feita a Deus, "Suba a
minha oração, como incenso, diante de ti, e seja o levantar das minhas mãos
como o sacrifício da tarde!", Sl 141.2. O perfume característico
produzido pela queima do incenso subia às narinas de Deus, da mesma maneira que
sobem aos céus as orações do justo. É dentro deste contexto que temos a visão
de João em Apocalipse, quando ele vê o anjo com um incensário na mão com as
orações dos santos para oferecer sobre o Altar de ouro que está diante do Trono
de Deus, "3 Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário
de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que o oferecesse com as orações de
todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. 4 E da mão do
anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos", Ap
8.3-4.
2.
Não é por acaso também que o Altar do Incenso era colocado bem próximo da Arca.
"Visto como o incenso representa a oração (Sl 141.2), o Altar do Incenso
era apropriadamente colocado próximo da arca, ainda que do lado de fora do véu,
pois o sacerdote tinha que usá-lo diariamente".(5) Como a Arca
ficava no Lugar Santíssimo, onde supostamente estava o Trono de Deus, podemos
ver como nossas orações representam papel importante em nosso relacionamento e
comunhão com o Senhor. É através da oração que podemos adentrar o Santíssimo
Lugar, e desfrutar da gloriosa presença de Deus. Observe o que nos diz o
escritor da Carta aos Hebreus: "Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos
no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus", Hb 10.19. É evidente
que a esta altura dos acontecimentos o sacerdote já havia passado tanto pelo
Atar dos Sacrifícios, como também pela Bacia de Bronze, onde simbolicamente
seus pecados haviam sido tratados. O mesmo aconteceu conosco, e agora estamos
aptos para adentrar o "santíssimo lugar". Pelo seu sangue vertido,
Cristo nos deu o direito e ousadia para entrar e permanecer ali, na presença de
Deus. Uma pessoa que não nasceu de novo, ou seja, que não passou pelo Altar do
Holocausto e pela Bacia de Bronze, não ousará penetrar o Lugar Santíssimo.
Certamente será um intruso, como aquele homem que ousou entrar na festa das
bodas sem estar devidamente trajado, Mt 22.11-13, "11 Mas, quando o
rei entrou para ver os convivas, viu ali um homem que não trajava veste
nupcial; 12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui, sem teres veste
nupcial? Ele, porém, emudeceu. 13 Ordenou então o rei aos servos: Amarrai-o de
pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de
dentes".
3.
Devemos notar que assim como a Arca, o Altar de Incenso tinha uma coroa de ouro
na sua parte superior, "...e lhe farás uma moldura de ouro ao redor",
Êx 30.3. Esta coroa simboliza Cristo, em sua plenitude de glória e
honra, Hb 2.9, "...vemos, porém, aquele que foi feito um pouco
menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra por causa da paixão da
morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos". Um
detalhe importante para lembrarmos é que o Senhor Jesus somente recebeu a
glória devida após à cruz! É isso que mostra Paulo em sua Carta aos Filipenses:
"8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou
soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 10 para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai", Fp 2.8-11. Dentro desta ótica escreve Barrow:
"Entretanto, por causa do Altar de
Incenso ser o lugar de oração, a coroa e a oração juntas nos dão a idéia de um
sacerdócio Real. Este pensamento é desenvolvido no livro de Hebreus: o Messias,
Jesus Cristo se tornou sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Salmos
110:1, Hebreus cap. 7). Ele pode se compadecer de nós como nosso grande Sumo
Sacerdote (Hebreus 4:15) e pode nos conceder a Sua misericórdia e graça como
Rei da justiça e Rei da paz (Hebreus 7:25; 7:2; 4:16; Gênesis 14:18)".(9).
4.
Não podemos deixar destacar o valor da oração para o filho de Deus. É através
dela que falamos como Senhor para expressar nossos sentimentos, pedir,
agradecer, louvar, etc. Se excluirmos a oração na vida do crente, sua vida em
Deus certamente se desmoronará, será vazia e perderá todo o seu sentido. Seria
como arrancarmos as muletas das mãos de um aleijado! Dependemos da oração para
mantermos nossa comunhão com Deus, assim como dependemos da água e do alimento
diários para nos mantermos com vida. A vida cristã sem oração será como toda
certeza, desértica, fria, sem sentido.
5.
Observe ainda, que o Tabernáculo foi construído como lugar de habitação de Deus
no meio de seu povo. Sua presença estaria ali continuamente! Não é menos
importante pensarmos que o Tabernáculo, a Casa de Deus, deve ser também chamada
de "Casa de oração", Is 56.7, "sim, a esses os levarei ao
meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e
os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada
casa de oração para todos os povos". Observe que Jesus fez referência à
profecia de Isaías, quando expulsou os cambistas do Templo, Mt 21.13,
"... e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração;
vós, porém, a fazeis covil de salteadores".
6.
Falando ainda um pouco mais sobre incenso, observamos que ele possuía uma
fórmula que produzia um perfume característico, Êx 30.35, "...disto
farás incenso, um perfume segundo a arte do perfumista...". Este perfume
certamente era agradável às narinas de Deus, assim como o são as nossas orações
feitas de acordo com a Sua vontade. Quando oramos assim, destituídos de nossos
desejos carnais (Tg 4.3), sem uma preocupação excessiva conosco mesmos,
recebemos de Deus tudo o que precisamos para o nosso viver diário. Deus sabe o
que nós precisamos até mesmo antes de lhe pedirmos, "...porque vosso Pai
sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes", Mt 6.8.
Com toda certeza, Deus cuidará para que sejamos satisfeitos, completos, em nada
deficientes. No dizer de Paulo, Deus suprirá todas as nossas necessidades, Fp
4.19, "Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas
riquezas na glória em Cristo Jesus". Ainda, quando oramos a Deus podemos
contar com a promessa de Jesus: "...Em verdade, em verdade vos digo que
tudo quanto pedirdes ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome", Jo 16.23.
7.
Outro detalhe importante, é que dentro da fórmula do incenso era colocada uma
certa porção de sal, Êx 30.35, "... e disto farás incenso, um
perfume segundo a arte do perfumista, temperado com sal, puro e santo".
Sabemos que o sal possui duas características principais: dar sabor aos
alimentos e evitar a sua deterioração. Um alimento que não foi devidamente
salgado se estragará e permitirá que "corpos estranhos",
"microorganismos", "germes", invadam sua massa e acelerem o
processo de putrefação. Sem sombra de dúvidas, ele se estragará bem mais
rapidamente! Isso nos mostra que nossas orações devem ser temperadas com
sinceridade e humildade na presença de Deus. Não podemos permitir que
"corpos estranhos", como a hipocrisia, a falsidade, o fingimento,
invadam o nosso ser e venham desfigurar o teor de nossas orações a Deus. Com
certeza, Deus não tolera o orgulho e hipocrisia, quando estamos levantando nossas
vozes aos céus. Foi por esta razão que Jesus condenou de forma veemente os
fariseus e escribas de seu tempo, Mt 23.14, "Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis
longas orações; por isso recebereis maior condenação". Observe que os
escribas e fariseus eram "craques" na retórica e imponência em suas
orações, mas elas estavam corrompidas pelo sangue das viúvas indefesas! Não
precisamos dizer que estes religiosos tinham uma doutrina correta para suas
orações, porém o procedimento maligno deles, os denunciavam na presença de
Deus. Na verdade, estavam ofendendo e desagradando a Deus.
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "O Altar do
Incenso". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G.
Gardner 03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.
MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia . Estudo
do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971.
SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. I, págs.143-154.
NOTAS:
(1) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 189.
(2) BARROW, Martyn. Artigo "O Altar do Incenso".
http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo
Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner
03/02.
(3) SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia.
Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, pág. 148.
(4) COLE, Alan, Ph.D., op. cit., pág.
199.
(5) MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia.
Estudo do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971.
Pág. 261.
(6) MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia., op.
cit., pág. 261
(7) SHEDD Russel, op. cit., pág. 148.
(8) COLE, Alan, Ph.D. op. cit., pág. 199.
(9) BARROW, Martyn. op. cit.