O CASTIÇAL
ÊX 25.31-40
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
Vimos
no Estudo anterior o simbolismo que envolvia a Mesa e os Pães. Como pudemos
observar o Pão simboliza o nosso suprimento diário vindo de Deus. É o Senhor
quem nos supre com o pão-nosso de cada dia. No dizer de Davi, Deus jamais
deixará que seus filhos mendiguem o pão: "Fui moço, e agora sou velho; mas
nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão", Sl
37.25. Pelo contrário, "...ele supre aos seus amados enquanto
dormem", Sl 127.2. É não Mesa dos Pães que o suprimento chega aos filhos
de Deus! É ali que saciamos nossa fome física, e também nossa fome espiritual.
Lembre-se que o maná descia dos céus para alimentar o povo de Deus no deserto
(Nm 11.9; Dt 8.3). Hoje, Jesus é o Pão da Vida que desceu dos céus como
alimento espiritual a cada um de nós, filhos do Altíssimo! Queremos, no
presente estudo enfocar o simbolismo que envolvia o Castiçal. Certamente o
castiçal também nos ensinará princípios que nos edificarão profundamente!
I. O CASTIÇAL
1.
O Castiçal, "hrwnm" – menowrah – "suporte de luz",
"abajur", "candeeiro", "candelabro", etc.. Era
uma peça única de ouro batido e ficava no lado esquerdo do Lugar Santo, ao sul.
Era composto de seis hastes e cálices em formato de amêndoas. Se o visualizarmos
com nossas mentes, podemos vê-lo tendo a aparência de uma árvore de ouro. Outro
detalhe de considerada importância está relacionado ao combustível que
alimentava o fogo noite e dia, o azeite puro de oliveira. Veja a descrição
feita por Cole:
"Zacarias 4:2, numa visão, parece se
referir a um candelabro que consistia de um único vaso de azeite cuja borda
possuía sete aberturas laterais de modo a receber sete pavios (segundo Davies,
W.F. Albright menciona a existência de tais lâmpadas encontradas em Mizpa).
Todavia, se compararmos a descrição aqui oferecida com a escultura no Arco de
Tito, surgem algumas diferenças. Trata-se neste caso de um candelabro de sete
hastes, feito de ouro maciço (madeira de acácia revestida de ouro não se podia
usar aqui). O candelabro era profusamente decorado com moldes e esculturas de
amêndoas e flores de amendoeira, e sustentava sete pequenas lâmpadas de pavio
único".(1)
Veja
ainda a descrição de Shedd:
"A representação do mesmo, no Arco de
Tito, mostra que era formado de uma haste central (chamada de ‘castiçal mesmo’,
em versículo 34), com três projeções de cada lado, todas encurvadas e chegando
à mesma altura, assim formando sete lâmpadas todas na mesma altura (22). As
próprias lâmpadas tinham a forma de um lírio aberto segurando uma taça. Cada
projeção era enfeitada com ornamentos que consistiam de um botão de amêndoa,
uma maçã (botão, como o capitel de uma coluna), e uma flor de lírio, sendo que
as projeções laterais tinham três desses ornamentes enquanto que a haste
central tinha quatro (33-35). Os ornamentos não eram fixados externamente, mas
formavam uma só peça com o todo (36).(2)
2.
Era um aparto construído especialmente para trazer luz para o interior do
Tabernáculo. Não precisamos dizer que sem o Castiçal, o Santuário ficaria
complemente imerso na escuridão! Por esta razão entendemos que a principal e
única função do Castiçal, era a iluminação do recinto sagrado, isto não levando
em conta ainda o simbolismo envolvido, o qual passamos a apreciar no ponto seguinte.
II. SIMBOLISMOS
1.
Queremos ver agora quais são os simbolismos envolvidos no Castiçal, e suas
aplicações para os filhos de Deus atualmente.
a)
Inicialmente, queremos entender que o seu significado estava ligado à nação de
Israel, que fora levantada por Deus para ser "luz para os gentios".
Esta idéia é clara em Isaías 42.1, 6: "1 Eis aqui o meu servo, a
quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele
o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. 6 Eu, o SENHOR, te
chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da
aliança com o povo e luz para os gentios". Na verdade Deus criou a nação
de Israel com um propósito específico, ou seja levar o Seu nome a todas as
nações da terra. É desta maneira que entendemos a chamada de Abraão, e a
promessa a ele de ser bênção para as nações, "...e em ti serão benditas
todas as famílias da terra", Gn 12.3b. Não é por acaso que Deus usa
uma expressão semelhante ao comissionar Paulo como pregador aos gentios:
"porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim
de que sejas para salvação até os confins da terra", At 13.47. Tal
ponto de vista é citado com propriedade por Cole:
"Alguns pensam que o candelabro
significava a missão de Israel como luz para os gentios (Is 60:3). Certamente o
"sete’’ como sempre simbolizava perfeição, ao passo que o óleo, pelo menos
mais tarde, se tornaria um símbolo do Espírito de Deus (Zc 4:1-6). O simbolismo
pode ser o da luz que a presença de Deus traz ao Seu povo (Nm 6:25), se
lembrarmos que luz, no Velho Testamento, é também um símbolo da vida e de
vitória (Sl 27:1)".(3)
b)
Se o simbolismo acima está correto, e cremos que está, podemos dizer ele se aplica
também a Jesus, a Luz que veio ao mundo e a nós como propagadores da Luz.
b.1)
Quando Jesus deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, Mateus, citando o
profeta Isaías (9.2), fala acerca da vida e ministério de Jesus, como sendo a
chegada da luz divina àquela região: "o povo que estava sentado em trevas
viu uma grande luz; sim, aos que estavam sentados na região da sombra da morte,
a estes a luz raiou", Mt 4.16.
b.2)
Uma descrição não menos significativa está no começo do Evangelho de João onde
o termo "luz", aplicado ao Filho de Deus se repete por consecutivas
vezes, "
b.3)
Indo um pouco mais adiante no mesmo Evangelho de João, encontramos Jesus
fazendo referência a sim mesmo como sendo a Luz vinda de Deus para iluminar a
todo homem, Jo 8.12, "Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu
sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a
luz da vida". Esta mesma aplicação se nota em Jo 9.5; 12.35-36, 46;
b.4)
Uma outra aplicação importante envolve o crente, o filho de Deus, que por
natureza tornou-se um receptáculo da luz divina. Cabe a nós como testemunhas de
Jesus e de Sua Palavra, ser luz para o mundo pecador imerso em densas trevas!
Se temos em nós a verdadeira Luz, esta Luz precisa brilhar na salvação de
vidas. É através de nosso comportamento irrepreensível, uma conduta honesta,
verdadeira, num mundo iníquo, que iremos iluminar aqueles com os quais
convivemos e aos quais precisamos testemunhar da Luz de Deus. Como luz,
precisamos falar incansavelmente do Senhor e de Sua Palavra. Note como Jesus
orientou assim seus discípulos, Mt 5.14, "Vós sois a luz do mundo.
Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte". E Paulo
escrevendo aos Filipenses, afirmou: "... para que vos torneis irrepreensíveis
e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e
perversa, entre a qual resplandeceis como luminares no mundo", Fp 2.15.
Podemos observar aqui o comentário de Barrow:
"Nós não só necessitamos ver Sua luz,
nós precisamos andar em Sua luz (I João 1:5-7; Efésios 1:18; 5:5-8). Isto
incluirá o Senhor brilhando sobre muitas coisas que não O refletem. Nós devemos
confessar essas coisas que Ele ilumina na nossa consciência ao nosso Advogado
nos céus, Jesus Cristo o Justo, O qual se entregou a Si mesmo pelos nossos
pecados (I João 1:9; 2:1-2). Esta atuação em nosso interior é a função da luz
da vida: o sacerdote preparava os pavios das lâmpadas e enchia os cálices com
óleo e a luz aumentava em intensidade novamente (compare Apocalipse 1:12-13)"(4).
c)
Devemos lembrar que os sacerdotes precisavam ficar atentos, alimentando
diariamente o Candeeiro com o azeite de oliveira, impedindo desta maneira que
as lâmpadas viessem a apagar. Precisamos nós também como filhos de Deus, cuidar
para que a Luz de Deus não se apague em nós, ou venha ter o seu brilho
diminuído em nossas vidas. Lembre-se que o óleo é símbolo do Espírito Santo!
Assim como o Candeeiro precisava ser abastecido com óleo, precisamos nós também
ser abastecidos com a unção do Espírito Santo. Não é por menos que Paulo nos
adverte a que não apaguemos o Espírito Santo em nossas vidas, 1 Ts 5.19,
"Não extingais o Espírito". Pelo contrário precisamos ser plenos dEle
em nossas vidas, Ef 5.18, "E não vos embriagueis com vinho, no qual
há devassidão, mas enchei-vos do Espírito".
d)
Outra observação não menos interessante é que o Castiçal foi construído a
partir de uma barra maciça de ouro batido, para formar as setes hastes, Êx
25.36, "Os seus cálices e os seus braços formarão uma só peça com a
haste; o todo será de obra batida de ouro puro". Podemos dizer que a haste
principal prefigura Jesus, sendo que demais hastes podem prefigurar a igreja
(pessoas convertidas). Sobre este simbolismo discorre Barrow:
"O castiçal era feito a partir de trabalhar
sobre somente um bloco de ouro. Em primeiro lugar, a haste central foi batida e
formada. Depois, seis ramificações foram formadas da haste central. Isso nos
mostra Cristo e Seus membros em Seu corpo (I Coríntios 12:12). Quando Jesus
veio, Ele era a única Luz do Mundo. Então Pedro, Tiago e João foram
"batidos" ou feitos em Cristo (II Coríntios 1:21). Nós sabemos que as
três lâmpadas de cada lado do castiçal eram acesas a partir da lâmpada central,
quando o castiçal era montado. Isto indica que Cristo "iluminou"
Pedro, Tiago, João e os outros primeiros discípulos e eles começaram a
segui-lO, a Luz do Mundo"(5).
e)
Como os cálices do Castiçal tinham o formato de amêndoas, isso nos sugere mais
um simbolismo, Êx 25.33, "Em um braço haverá três copos a modo de
flores de amêndoa, com cálice e corola; também no outro braço três copos a modo
de flores de amêndoa, com cálice e corola; assim se farão os seis braços que
saem do candelabro". Lembrando do episódio da vara de Arão que floresceu
(Nm 17.8), as flores de amêndoa parecem nos indicar o cuidado constante de Deus
para com a nação de Israel e para com o seu povo nos dias atuais. Dentro deste
simbolismo nos escreve Cole:
"Se as referências à amendoeira forem
encaradas literalmente como desenhos usados para decoração (e esta parece ser a
interpretação óbvia), isso nos lembra a vara de Arão, feita de amendoeira, e
que florescera (Nm 17:8), e também a visão de Jeremias (Jr 1:11,12). Jeremias
nos dá a entender que a amendoeira, sendo a primeira árvore a florescer na
primavera, era um símbolo apropriado do maravilhoso cuidado divino para com Seu
povo, e do cumprimento de Sua promessa feita aos antepassados de Israel. Tudo
isso é mera especulação, todavia, e neste terreno é melhor que se pise com
cuidado(6).
2.
Vimos que no Tabernáculo, a iluminação ocorria através do Castiçal, que por sua
vez representava a luz de Deus, tanto para a nação de Israel, como também para
a Igreja de Cristo. Deus é a Luz de seu povo! Um ponto que não podemos deixar
de mencionar é que na Jerusalém Celeste, não haverá mais a necessidade de um
Castiçal, de uma luz produzida, pois sua iluminação virá pelo próprio Deus, Ap
22.5, "E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de luz de
lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumiará; e reinarão pelos
séculos dos séculos". Certamente "... a Nova Jerusalém será um enorme
castiçal de ouro, não necessitando mais de nenhum cuidado contínuo. Não haverá
mais trevas para combater, simplesmente fluirá o rio da água da vida, com a
árvore da vida, que procede do trono de Deus e do Cordeiro (22:1-2)(7).
Terminamos com Ap 21.22-24, "22 Nela não vi santuário, porque o seu
santuário é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro.
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "O Castiçal". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo
Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner
03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.
SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. I, págs. 143-154.
SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. III, págs. 1553-1557.
NOTAS:
(1) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 186.
(2) SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia.
Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, pág. 14.
(3) COLE, Alan, Ph.D. op. cit. pág. 187.
(4) BARROW, Martyn. Artigo "O Castiçal". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo
Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina
Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.
(5) Id. Ibid.
(6) COLE, op. cit. pág. 187.
(7) BARROW, op. cit.